Utensílio com múltiplas funções, o palito tem andado nas bocas do mundo, literalmente, desde tempos imemoriais. Sabe-se que os homens pré-históricos usavam e abusavam de tão afiada ferramenta. Dados a lautos bródios, onde a carne era a rainha da festa, estes hominídeos resolveram o problema de retirar de entre os dentes os resquícios dessas comezainas recorrendo a algumas hastes de madeira e a pedaços bem afiados de salgueiro ou de choupo. Assim começava a tradição de palitar os dentes após as refeições. Daí até se aprimorar a forma desse prático utensílio foi um salto, e que hoje mantém ainda essa mesma configuração, com pequenas alterações apenas ao nível dos materiais usados na sua confecção. Não sabemos como era anteriormente nomeado, mas os romanos, por exemplo, apelidavam-no de dentiscalpium, e que por estes era bastante utilizado após as refeições, tal como refere o poeta Marcial nos seus Epígramas ou Petrónio no seu Satyricon.
Em Portugal, este utensílio ganhou variadas nomeações ao longo dos tempos fruto, principalmente, dos seus atributos estéticos e funcionais. Assim existem os palitos simples, os palitos de pá e de bico, os palitos redondos, os palitos decorados de flor, de pestana ou de pluma, os palitos lixados ou polidos, os palitos frisados ou sagitados, de flor ou bordados, cónicos e laminados, e ainda o palito marquesinho. Aqui ao lado os espanhóis têm um conjunto interessante de vocábulos para apelidar o palito. Por lá são conhecidos como palillo, limpiadientes, mondadientes ou escarbadientes.
Naquelas épocas remotas pontificavam os palitos de madeira, penas, palhas, juncos, mas também os havia em chumbo, bronze, ferro, prata e ouro, consoante as posses materiais dos seus proprietários. Alguns autores clássicos mais extravagantes sugeriam que se utilizassem antes os palitos feitos com os espinhos do porco-espinho ou com as penas do abutre. Durante a Idade Média, os palitos produziam-se com todo o tipo de materiais, existindo palitos de cobre, marfim, ouro e prata, ricamente ornamentados. Outros nobres preferiam os palitos feitos a partir de corno de veado ou de tartaruga. Era usual os nobres, quando viajavam, fazerem-no sempre acompanhados por um estojo em prata onde transportavam os seus próprios palitos. Após os faustosos banquetes de então, era hábito usarem o palito à frente de todos os outros convivas, não só por uma questão de higiene mas também para reforçarem a sua posição e riqueza.
Hoje os paliteiros existem sob determinadas formas e materiais: cartão, plástico, metal, cerâmica, entre outros. Respeitando os preceitos higiénicos existem também palitos em bolsas individuais, fáceis de encontrar em qualquer restaurante. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas o palito continua ao serviço.