Corria o ano de 2008 e mais precisamente a noite de 18 de Dezembro, quando a Rua Poço dos Negros em Lisboa se valeu da arte como reacção ao sentimento de abandono a que tinha sido deixada. Nessa ocasião foi um fervilhante palco para as artes plásticas, a música e a performance em montras e espaços habituados a outros desígnios.

Essa iniciativa foi possível graças à sinergia surgida entre os organizadores (arquitecta Ana Francisca Amaral (Poço de Ideias), o colectivo Cosmicmegabrain, Teatro Cão Solteiro) e as diversas entidades locais que apoiaram o evento. Com a chegada de novas associações e entidades culturais (Atelier-Museu Júlio Pomar, o DNA na Escola das Gaivotas e o Rés do Chão) à Rua Poço dos Negros, as forças e vontades uniram-se para produzir uma versão do evento de uma outra magnitude.

Os objectivos fundamentais para a edição deste ano mantêm-se inalterados: proporcionar o diálogo entre artistas, residentes e comunidade local, destinatários principais deste distinto acontecimento cultural. A participação activa de todas as partes torna-se uma pedra ângular nesta saga que se repete e enaltece a força criativa do Homem e sua função transmutadora. Centros nevrálgicos dotados ao abandono, olvidados pelo galopar urbano em sentido oposto, são assim reactivados por intermédio de sinapses criativas que de forma temporária fulminam os sentidos e a urbe.

A força do colectivo humano perpassa então a história de uma rua cuja herança de um passado esclavagista - conta a História que o seu nome deverá estar na origem de uma carta régia de «D. Manuel I» que alertava para a necessidade da cidade construir um poço onde depositar escravos mortos - se vê assim invocado sem fantasmas. A força é agora criativa, a arte corre livre sem amarras nem grilhetas, moldando-se à natureza espacial que a restringe sob a forma de criações site-specific mas sem se limitar na forma e expressão. Queres participar?