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Das Cerejas e das Ginjas

Paulo Moreiras

As cerejas e as ginjas são frutos que fazem parte do nosso imaginário, seja pelas brincadeiras de criança, com os brincos de cereja, seja pelas primeiras provas de uma bebida tradicional, como é o caso da ginjinha.

Não tem sido fácil perceber até hoje como eram nomeadas as cerejas e as ginjas pelos mais antigos. Sabemos que os Gregos as apelidavam de Kerassos e posteriormente os Romanos as designaram por Cerasum, denotada influência que revelava a sua origem: Cerasunte, na Ásia Menor, actual Turquia. Durante anos este epíteto serviu para designar ambos os frutos. Só mais tarde, com o desenvolvimento da Botânica, se começaram a criar distinções entre a cereja e a ginja. Entre os vários nomes que a botânica atribuiu a estes dois frutos, ao longo dos tempos, os mais vulgares e pelo qual são actualmente designados são Prunus avium L. (cereja) e Prunus cerasus L. (ginja).

Hoje em dia existem diversas variedades de cerejas e de ginjas, muitas delas estrangeiras, fruto da forte procura comercial e industrial. Em algumas regiões portuguesas produtoras de cerejas estas já são consideradas como o “ouro vermelho”, tal a sua importância para a economia local. Das variedades de cerejas existentes e comercializadas em Portugal importa referir a Cereja de Saco, talvez a mais tradicional, pois já é referida em antigos documentos portugueses (Fastigimia, Thomé Pinheiro da Veiga, 1605), a Cereja Brava, Galega ou Bical, a Cereja Borlá — corruptela de Burlat —, Cereja Big Burlat, Cereja Big Windsor, Cereja Brooks, Cereja Espanhola, Cereja Hedelfingen, Cereja Maring, Cereja Morangão, Cereja Napoleão Pé Comprido, Cereja São Julião, Cereja Summit, Cereja Sunburst e Cereja Van.

Desde pristinas eras que estes saborosos frutos nos acompanham e nos saciam a fome. Os registos mais antigos dão conta já da sua utilização pelos seres humanos durante o Período Neolítico, como o atestam os vários caroços encontrados em diferentes habitats pré-históricos a nível europeu. Contudo, desde tempos imemoriais que a cereja e a ginja andam envoltos em dúvidas quanto à sua designação e sua origem. O facto é que as cerejas e as ginjas são primas, naturais da Ásia Menor, no litoral do Mar Cáspio, numa zona que se estende desde a Turquia ao Irão.

Um dos primeiros autores a escrever sobre a cereja foi Teofrasto de Ereso (372-287 a.C.), considerado o pai da botânica, no seu tratado De Historia Plantarum, dizendo que a cereja é «um fruto vermelho, semelhante a um diospiro mas do tamanho de uma fava, contudo a sua polpa é mais mole do que a do diospiro». Segundo Plínio, o Velho (23-79 d.C.), terá sido um general romano, Lúcio Lúculo (109-57 a.C.), o responsável pela introdução da cereja na Europa, após a vitória sobre Mitrídates (74 a.C.). De acordo com a Historia Naturalis, este famoso gastrónomo romano teria levado a cereja de Cerasunte para as mesas romanas, espalhando-se posteriormente por toda a Europa e chegando à Grã-Bretanha 120 anos depois. Mas Plínio vai mais longe no seu trabalho, chegando mesmo a identificar nove variedades de cerejas então existentes: Aproniana, Lutatia, Caeciliana, Juniana, Duracinus, Lusitana, Laurea, Macedonia e a Chamaecerasus. Algumas delas são hoje muito difíceis de identificar pelos botânicos.

Hoje em dia as cerejas e as ginjas estão espalhadas pelo mundo, tendo aparecido novas variedades, fruto de cruzamentos e experiências botânicas. Em Portugal existem várias regiões específicas que se dedicam à produção de cerejas, caso da Cova da Beira (Fundão, Covilhã e Belmonte), com Indicação Geográfica Protegida, e a zona de Portalegre, onde se produz a Cereja São Julião, com Denominação de Origem Protegida, proveniente de Castelo de Vide, Marvão e Portalegre. Mas também Resende e Alfândega da Fé se têm destacado na promoção e comercialização da cereja.

As ginjas também estão identificadas em algumas áreas específicas, como o caso da Cova da Beira e da Zona Oeste, numa região que compreende os concelhos de Alenquer, Bombarral, Óbidos e Alcobaça. Na zona do baixo Mondego, a freguesia de Abrunheira ostentou durante décadas o título de Capital da Cereja do Baixo Mondego, acabando por o perder devido a vários factores sócio-económicos, contudo está a trabalhar no sentido de recuperar esse epíteto.

Estes belos frutos sempre nos foram leais e sempre nos acompanharam no decorrer dos séculos, na tristeza e na alegria, como só os bons amigos conseguem ser. A sua presença em tantos domínios da nossa tradição é um bom aval dessa mesma importância nas nossas comunidades. Esperemos que nós, hoje em dia, tenhamos a ombridade de a saber honrar e respeitar, tal como ela merece. Que a inovação seja apenas mais um complemento para lhes adicionar uma mais-valia e que esses frutos não se percam na voracidade dos tempos e das modas. Quantas espécies de frutos em Portugal não se perderam em favor de outras espécies devido às recomendações europeias e económicas. Sejamos honestos e tentemos ao máximo preservar à nossa verdadeira identidade, que passa também por aquilo que é mais genuíno e natural, fruto dos nossos solos e do nosso clima, neste país à beira-mar plantado.

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