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O Meu Milhões ou Passeio às Últimas Coisas

Miguel Meira
A Viral foi ao Milhões de Festa... O festival já aconteceu há mais de um mês, é certo, mas com certeza não são poucos aqueles que por lá passaram e ainda hoje sofrem dos ocasionais flashbacks. Em vez de um testemunho, o festival barcelense teve direito a dois: o primeiro (este) pela mão do fotógrafo Miguel Meira, e o segundo da autoria de Carmo Pereira, que podem ler aqui

 

Não sei por onde começar. Não escrevo há anos (muitos) mas não se preocupem: vai-se notar nas próximas linhas... O meu Milhões começa, na verdade, antes ainda do Milhões, quando, dias antes, ligo a um amigo:

— Alou? Soube que partiste duas costelas no fim de semana passado… Tás bem?
— ...................
— Vais ao Milhões ?
— Vou. Não vou poder andar aos saltos, mas ainda assim vou relaxar pra piscina.
— Óptimo. Nesse caso não passo aí hoje, encontramo-nos lá.
— É isso…


 

O Meu Milhões ou Passeio às Últimas Coisas

 


QUINTA 25 Julho 2013

 


Um dia, um dia... este ano, campismo

 


Cheguei a Barcelos antes das três, era suposto o recinto ainda estar fechado, o que não foi o caso, aliás, estava aberto e já com montes de tendas montadas. Depois de um primeiro susto (vou ter que dormir em chão de terra...) lá consegui um lugarzinho na relva verde e calma (não encontrei nenhuma orelha cheia de formigas). Montada a tenda e como ainda era cedo, fui à feira comprar fruta e talvez um casaquito já que, com a ansiedade e a azáfama de tudo preparar, me tinha esquecido do casaco que nos últimos tempos me tem sempre acompanhado, pousadinho no bengaleiro, no hall da entrada. Entre esgares e negociações difíceis, acabei por não adquirir uma péssima réplica do crocodilo francês, que por acaso até tinha um ar quentinho.



Feira de Barcelos: procurar casaquinho

 

Os concertos na Taina já deviam estar a começar, mas eu fui jantar. Onde? À cantina. Na fila, mesmo à minha frente, estava nada mais nada menos que o Sr. Otto (ver programação) a pedir uma espetadinha igualzinha à minha (não sei como é que eles conseguem). Comi tudo, sopa e salada de fruta incluídas. Estava bom.

Bom estava também o palco Taina quando lá cheguei, com uns Spacin a dar os delirantes últimos acordes. Enquanto me ambientava ao espaço, iniciou-se um Holocausto Canibal, que rivalizava apenas com uma curta mas interminável bicha para bebidas, igualzinha às da depressão dos anos 30 nos Estados Unidos. O Povo precisa de beber. Houvesse dois pontos de senhas e todos teriam podido dançar, e acompanhar a pinta inigualável do Sr Gui Claiana: show! Entre encontrar, reencontrar, e fazer novos amigos ao som dos Sabre, Dj Lynce + Quesadilla + Tofu + Beça, chegámos ao fim da primeira noite: despedi-me do palco Taina por esta edição.

Ainda tentei passar no Xispes, mas a GNR estava com o jipe atravessado na estrada e tinha que se esperar pelas seis para entrar… Três dias de festa pela frente fizeram-me decidir por tentar descansar, pelo que fui a trautear uma música do Chet Baker em direcção à tenda.




SEXTA 26 de Julho

 

Acordei, leve dor de cabeça, olho para o telemóvel: dormi seis horas. Uau! (nada habitual para festival). Tratei das necessidades básicas, panado e cocó, ou cocó e panado (não me lembro da ordem por mais que tente, mas a casa de banho daquele café da descida junto ao quiosque estava impecável). 

Segui para a piscina (que SAUDADES!). Estava igual a si própria, colorida, com uma brisa agradável, cheia de rostos saudáveis, e o palhaço mais lindo do mundo continuava a chorar interminavelmente as minhas mágoas do ano passado (uma outra historia...). Deslizei até ao spot do costume, perto da única árvore que lá anda a oferecer sombra. Ofereceram-me também um caule e um chapéu que me deixaram num mood suficientemente introspectivo-contemplativo para nem reparar nas bandas que, ao fundo, iam aparecendo.



Rostos saudáveis na piscina

 

— Que belas são as nuvens! — Exclamei para mim mesmo, qual marioneta no camião do lixo. O festival tinha agora oficialmente começado. Para lá das nuvens, o céu azul revestiu-se a papel de parede com criaturas e signos enigmáticos, de decifração mística… Mais tarde, em conversa, disseram-spome que eram sinais de mudança… Será?



Que belas são as nuvens!

 

Quando dei por mim estava um Dam Mantle a passar som no que parecia uma festa semi-privada, dado o diminuto número de pessoas que restavam by the pool. Ir à tenda, trocar de roupa e jantar (com uma pequena desorientação mental e sem qualquer vontade de cumprir horários) fez com que perdesse o concerto de Mikal Cronin (shame on me...), pelo que entrei no recinto principal ao som das curiosidades de Jacco Gardner: o psicadelismo continua… Lindo.

Depois de quatro concertos que deixo para a minha amiga Carmo comentar (que tem muito mais jeito do que eu nestas andanças de pôr a preto no branco comentários musicais) entro no Triângulo das Bermudas do Sr. Otto Van Schirach (o tal das espetadinhas). A demência impera e La Succia reina, o chão levanta... Êxtase. Limpar o caos instalado, tarefa ingrata e que parecia impossível, coube ao Sr. João (White Haus) que, de forma muito competente, não só limpou como nos conduziu com estilo e capacidade até ao fim do seu set.

Saímos do recinto e, apesar de satisfeitos, somos fans dos Rolling Stones, pelo que fomos para o Não-Sei-Quê do Rio. Lá, entre freaks, cães danados, mal-entendidos, loucos, princesas a pé, princesas desmaiadas, ameaças à integridade física, monstros, príncipes e outros, o espectáculo da deformidade lá continuou, e não seria visto como repugnante mas até como intelectualmente excitante. Para isso, muito contribuiu a bela banda sonora a cargo do não menos belo João Marrucho. Enfim, o circo ardeu e eu gostei: ZOMBIE NATION.




SÁBADO 27 Julho

 

Acordei tarde e fui directo pra piscina. Tentaram-me explicar como se mete dentro de uma garrafa, um Gurosan entalado no gargalo. — Tens de parti-lo a meio. — Não, não! Pões a tampa e viras a garrafa ao contrário. — O meu cérebro ainda funcionava, o Gurosan também. Dediquei-me às coisas simples da piscina: mergulhar, apanhar sol, conversar e rir, mas não muito. Reparei que os Besta soam ou ressoam melhor debaixo de água. Os Monster Jinx agradaram fora e dentro. Simpatia e festas a gatinhos. A tarde passou depressa: a ressaca tem destas coisas.



Coisas simples na piscina

 


Coisas simples na piscina 2

 

Fui jantar a um restaurante famosíssimo pelo seu Polvo à Lagareiro, a preço proibitivo, mas na sua ementa podia-se encontrar outros pratos mais em conta e não menos deliciosos. Comi pato, soube a mel. A sobremesa consistiu num Golden Shower dos Loosers seguido de um Dam Mantle forte mas fora de horas. Os Egípcios estiveram bem mas, para finalmente acordar, estavam presentes em palco os extraordinários ZA! Concerto assombroso e uma descarga descomunal de energia, tal como já tinha sido em 2010. Sem palavras.

Precisei de descansar mas não tive grande sorte: os riffs de New Orleans ecoavam já no outro palco. O delírio, feroz, continuou. Para mudar de cena vieram em auxílio os muito bons Octapush, com melodias suaves e doces, exibindo sem embaraço certas partes do corpo (excepto um dos mocinhos que, por pudor, manteve a cuequinha vestida por baixo do fatinho verde). É então que assume o comando Dj Marfox e instala-se o gozo puro e duro do kuduro, até ao encerramento do recinto.

Após pequena reflexão, decidimos seguir para o (agora já sei) Bar do Rio, e o elenco estava desta feita consideravelmente alargado. A festa instalada era evidente e plena de animação, quando uma chuvada indecente forçou a um abrupto corte na harmonia. Regressei à tenda debaixo de chuva ácida, qual Gene Kelly. O acampamento estava bonito, estava: o dilúvio continuava lá as voltas.




DOMINGO 28 Julho

 

Atordoado e confuso, não lá muito acordado, saí da tenda. Aparentemente, o Godzilla tinha passado por cima de algumas tendas, noutras só tinha parado pra mijar. Dei uma volta pelo parque e, em conversa com transeuntes de vários tribos, deparei-me com faltas de apetite, tonturas, vertigens, sonolência, dores de cabeça, náuseas, vómitos, glossodinia, inflamações da mucosa bocal, dificuldade de engolir, inflamações do pâncreas, inflamação do fígado, irritação rectal, comichão na área anogenital, inflamação dos rins, inflamação pulmonar, febre, convulsões recorrentes, bem como reacções de hipersensibilidade de todos os géneros. Apesar de algumas desistências, todos mantinham um sorriso satisfeito e estava sol. Estava sim senhor: ia haver piscina...



O Godzilla passou por aqui

 

Comi uma sopa e lá segui caminho por ali abaixo, iam começar os Long Way to Alasca, quando me apercebi que também eu teria um longo caminho de ida e volta ao campismo, numa de resgatar a minha escassa roupa, totalmente encharcada da noite anterior. Subi, desci, estiquei a roupinha na relva e disse adeus à piscina com um hit do Bonga na cabeça. Jantei lentamente e voltei à tenda: o cansaço acumulado fazia-se sentir atroz.

Quando voltei ao recinto principal estavam já uns Oranje Goblin poderosos e em movimento contínuo. Contrariei a minha debilidade e fui lá pra frente. Carreguei baterias ao som de dois excelentes concertos: Zombie Zombie e Jiboia Experience. Quando Mikki Blanco entrou em cena, já eu não parecia o mesmo. Balancei divertido e bem entretido, e com El G continuei a transformar fraqueza em prazer. Terminado o Milhões oficial, surgiu-nos uma ideia criativa: remar até ao Bar do Rio. Era o último suspiro e não faltavam personagens dignas, das que dançam ao mesmo tempo que saltam, se cruzam e se voltam em improvisações imemoráveis. Era dia alto. As leis da natureza indicavam a tenda como rumo seguinte. Certo? Não.

Atravessámos o rio Cávado e deparámos-mos com uma aldeia de irredutíveis gauleses: uma vintena de seres ainda se segurava naquela Isla Bonita. Mas mesmo esses foram misteriosamente desaparecendo, ou simplesmente pousando o corpo em mesas, ao sol, quais anjos caídos. A certa altura já nem DJ havia, mas a voz de Lou Reed continuava a ecoar por entre as árvores, como um deslumbre que sugeria uma estranha sensação de Eterno Presente.



Anjos caídos ao sol

 

Entretanto, no campismo, o Milhões era já passado, recinto fechado, nem staff nem segurança. Avancei o muro e recuperei milagrosamente as minhas tralhas pousadas: apenas um ou outro respigador por lá deambulava. Deixo aqui um pedido simples, para as próximas edições: por favor mantenham o campismo a funcionar pelo menos até ao fim da tarde. Vá lá, não custa muito... E toda gente agradece, acreditem. Arrastei-me até à estação de comboios e disse adeus a Barcelos.



Recinto fechado e em abandono demasiado cedo

 


Disse adeus a Barcelos

 

Resta-me apenas agradecer ao Fua e à sua equipa por darem continuidade a este grande projecto, que se mantém ainda um dos mais belos e bem guardados segredos da velha Europa.

 

As fotos são da autoria do Miguel Meira. Se quiserem saber mais sobre o Milhões, podem sempre ler o esclarecedor artigo que publicámos em Julho sobre o festival.
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