Traveler's Souvenirs por Sam Figueroa
O alemão afirmou: Somos a personificação de um povo superior, cuja compreensão não está ao alcance de nenhum estrangeiro. Os outros povos são intelectualmente débeis, convenhamos: preocupam-se com o dia-a-dia, as suas diversões e sofrimentos. Nós não. Nós avaliamos os projetos pela sua grandeza e ambição. Quando os outros falham, não fica nada. Quando nós falhamos, temos grandeza.
O alemão insistiu: Haverá outra nação capaz de liderar um governo mundial? Haverá outra nação tão autoconfiante? Num país ocupado, podem obter-se resultados espantosos. Basta impedir que o povo se cure, de forma a podermos tomar partido da situação.
O grego refletiu: Temos de precaver-nos contra as boas maneiras dos alemães, as suas repentinas reabilitações e desejos de agradar. Na verdade, os alemães simpáticos e virtuosos ainda acabam por ser piores do que os outros porque nos iludem. São eles que colocam o isco na armadilha. O que importa não é gostar ou deixar de gostar deles. Importante é não voltar a confiar neles, pois, a cada meia-dúzia de anos, os alemães voltarão para nos esmagarem. Vão deixar-nos semear de novo, mas, chegada a altura, tratarão de ceifar novamente as nossas vidas.
O grego rematou: Se continuarmos, no palco mundial, a seguir as deixas dos alemães como até aqui temos feito, mais tarde ou mais cedo eles conseguirão o que pretendem: ter o mundo inteiro à sua mercê.
Glenway Wescott, romancista norte-americano, escreveu Um Apartamento em Atenas para contar a história, seca e dura, do rebaixamento moral e físico de uma família grega diante de Kalter, o seu hóspede, oficial alemão. As palavras acima resumem alguns dos monólogos, tensões e diálogos mantidos entre as quatro paredes do apartamento da família Helianos. FMI, Alemanha, austeridade, saída do Euro? Não, não é aqui. Nem agora. A primeira edição da obra é de 1944. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.