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Já!

Já!

“Se vocês falharem, nunca vos perdoaremos!” Furiosa, a geração de jovens ativistas ambientais apela aos adultos por sensatez e faz de 2019 o ano do seu movimento. A razão: o futuro está sob ameaça do aquecimento global. A estudante sueca Greta Thunberg tornou-se a líder do movimento que abalou o grande público com ações de desobediência civil, protestos e manifestações. O realizador Jim Rakete fala com alguns destes ativistas sobre o que os motiva. Figuras públicas como a lenda do rock Patti Smith e o cineasta Wim Wenders demonstram o seu apoio.
No seu livro mais recente, “O Tempo Indomado” (Relógio d’Água, 2020), o filósofo José Gil dedica um extenso texto àquele que é certamente o problema mais premente com que a humanidade se debate hoje: o das alterações climáticas. O texto, “Catástrofe e revolução”, começa assim: “Com a explosão da crise climática a aproximar-se, urge responder a uma pergunta: em situação de emergência, o que é que nos pode levar a agir colectivamente contra as alterações climáticas? Questão duplamente premente, porque o sentimento de impotência afecta muitas vezes indivíduos e grupos, e porque sabemos que “há cada vez menos tempo para actuar” com eficácia.” E mais à frente: “Será que ainda vamos a tempo?”
Já há muito que os cientistas nos vêm alertando para os perigos das alterações climáticas e para o aquecimento global. Conhecemos as suas consequências porque assistimos já quase diariamente a fenómenos meteorológicos extremos (chuvas torrenciais que provocam cheias arrasadoras, longos períodos ou picos de extremo calor que dão origem a incêndios devastadores, alterações súbitas de temperatura que geram catástrofes várias, etc, etc), à extinção de espécies, à subida do nível dos oceanos e ao aumento gradual da temperatura da terra. O cenário é alarmante, e o mundo está à beira de um cataclismo ambiental. Sabemos também que a causa principal para que isto esteja a acontecer é a actividade desregulada do ser humano – a desflorestação crescente, a poluição em larga escala, as monoculturas intensivas, uma acelerada diminuição da biodiversidade, entre outros factores ¬–, a ideia de crescimento constante, que tem vindo a dizimar os recursos do planeta. Navegámos tranquilamente as águas desta catástrofe iminente, como se o perigo estivesse muito longe de nós, conhecendo embora os seus contornos. Tomaram-se por vezes medidas “cosméticas”, que apenas vieram adiar aquilo que se torna necessário (e voltamos a José Gil): agir “radicalmente, revolucionando as práticas e as visões que levaram o planeta à beira do abismo”.
Em 2019, a consciencialização ambiental veio alterar-se radicalmente, quando o exemplo da jovem sueca Greta Thunberg, impulsionadora do movimento Fridays for Future, das Greves Climáticas Estudantis, contagiava os jovens adolescentes um pouco por toda a parte. O que começou por ser um protesto solitário de uma rapariga de 15 anos à frente do Parlamento sueco em 2018 cresceu exponencialmente no ano seguinte, juntando milhões de jovens no mundo inteiro com um só objectivo: lutar pelo seu futuro e pelo seu direito a um planeta saudável.
NOW — JÁ! parte precisamente destes movimentos para afirmar aquilo que andamos a adiar há demasiado tempo: é agora que temos de agir, pelo nosso planeta e pelo futuro das próximas gerações. O realizador e fotógrafo Jim Rakete entrevista e filma vários activistas, procurando registar o que os motiva, quais as suas visões e que caminho estão a tomar na luta pelo resgate do seu futuro. Greta Thunberg e Luisa Neubauer (Fridays for Future), Felix Finkbeiner (Plant for the Planet), Vic Barrett (Youth vs. Gov), Marcella Hansch (Pacific Garbage Screening), Nike Mahlhaus (Ende Gelände) e Zion Lights (Extinction Rebellion) são alguns dos jovens que desafiam o status quo, lutando por mudanças sociais e políticas, de forma furiosa e incansável (“Juntos e unidos, somos imparáveis”, diz, a certa altura, Greta Thunberg), através de manifestações, da desobediência civil, das greves estudantis ou da promoção de novas ideias e formas de combater o aquecimento global. Fortemente sustentados pela ciência e com um conhecimento aprofundado das causas e consequências desta crise climática, propõem novas formas de neutralização dos plásticos nos oceanos, a plantação de árvores em larga escala, de forma a combater a desflorestação e reequilibrar os níveis de CO2 no planeta, e enfrentam corajosamente os agentes políticos responsáveis pelo seu desespero. Greta Thunberg, na Cimeira do Clima das Nações Unidas (Nova Iorque, 2019), disse, naquele que foi um discurso arrebatado e de grande impacto: “Como se atrevem! Vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias”, pressionando os adultos para que passassem à acção e ouvissem os cientistas, em vez de responderem apenas às pressões económicas do momento.
A luta pela justiça climática foi tomada em mãos por esta geração, naquele que é um apelo urgente. “Não há um planeta B”; “é preciso agir já”, vemos e ouvimos no filme. Apesar do desespero, a mensagem é, no entanto, de esperança: que finalmente se tomem medidas radicais e efectivas na proteção do ambiente. “Se vocês falharem, nunca vos perdoaremos!”. A janela de tempo é cada vez menor, mas ainda é possível. O desespero destes apelos junta-se a uma enorme esperança na mudança, apoiada por cientistas, activistas com largos anos de experiência e figuras como a cantora e poeta Patti Smith (também ela activista no movimento Pathway to Paris, em defesa dos Acordos de Paris), o cineasta Wim Wenders, ou o Nobel da Paz Muhammad Yunus, fundador do Gramen Bank, que reflectem sobre o nosso papel na sociedade nos tempos que correm. Ou ainda o secretário-geral da ONU, António Guterres, que discursa na Cimeira do Clima, ou a democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que afirma num encontro em defesa de um New Green Deal, “We are in this together”.
NOW — JÁ! é um filme que promove o debate pelo exemplo, juntando estes testemunhos para que a geração de hoje tenha um futuro amanhã. É, por isso, um filme urgente e necessário, não apenas pelo seu objecto mas pelo seu potencial efeito na procura de uma justiça climática que nos permita ter um futuro possível e sustentável neste planeta que habitamos. “Não se trata de uma simples esperança, germinando na psicologia individual, mas de uma realidade, já embrionária, que se pode observar em inúmeras lutas ambientalistas. […] Porque a morte do planeta significa a nossa própria morte, porque o desejo de (sobre)viver é mais forte, rompemos os hábitos mortíferos, mudamos de mentalidade, paramos de agredir a Terra” (José Gil, ib.)

Local auditório TAGV
Origem Alemanha, 2020

Fonte: https://tagv.pt/agenda/ja/
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