10:00 até às 17:00
Vigília Cultura e Artes- Lisboa

Vigília Cultura e Artes- Lisboa

Exatamente onze meses depois da Vigília Cultura e Artes, voltamos à rua. 

Mais cansados, mais descrentes, mais desconsiderados, mas ainda menos resignados. O que nos falta em apoio, sobra-nos afortunadamente em combatividade. Continuaremos a fazer perguntas incómodas, a exigir soluções que nos sirvam, a exigir respeito e transparência. Porque consideramos que uma vida em democracia não se faz com menos do que isto e que a linha da dignidade é aquela que não deixaremos nunca ultrapassar-se sem luta. 

Onze meses depois, nós, os trabalhadores e profissionais da cultura, das artes e dos eventos, continuamos deixados ao abandono, apesar dos anúncios de milhões, dos apoios que servem sempre menos do que aqueles que excluem e das medidas avulsas que chegam sempre com atraso e desadequação. 
Onze meses depois, muitos de nós continuam sem trabalho e a sobreviver graças à ajuda solidária dos seus pares.

A proclamação de que ninguém seja deixado para trás torna-se hoje vazia. A cada dia que passa, muitos de nós são deixados para trás. Muitos preferiram desistir ou foram obrigados a fazê-lo. 

Pelos que ainda resistem e pelos que tiveram de desistir, voltamos à rua. Voltamos com a luta toda por fazer e com muitas perguntas às quais queremos resposta. 

Perguntamos, por exemplo, onde andam os milhões que possibilitariam às Câmaras Municipais programarem no verão de 2020 e onde anda o remanescente não usado do financiamento do projeto TV Fest.
Perguntamos porque é que a proteção social devida a estes trabalhadores, que foram impedidos de trabalhar em 2020 e no 1º trimestre de 2021, chega, quando chega, com 3 meses de atraso.
Perguntamos porque é que o programa Garantir Cultura, supostamente um apoio, só prevê apoio de um máximo de 90% do orçamento, no caso das micro empresas, e de 75% para as PME’s. Perguntamos ainda por que motivo este programa exclui novamente os trabalhadores da regiões autónomas.
Perguntamos pelo sentido que faz a exigência de prazos de execução a 9 meses nos apoios à criação artística, quando temos os equipamentos culturais com as agendas sobrelotadas no rescaldo dos confinamentos.
Perguntamos para quando a resolução da atribuição correta dos CAE’s e CIRC’s no setor da cultura e para quando a regulamentação das atividades profissionais não regulamentadas, nomeadamente aquelas relacionadas à acessibilidade das atividades artísticas.
Perguntamos para quando condições laborais dignas para aqueles que nas escolas ensinam a expressão dramática e o teatro, formando, entre outras coisas, o público do futuro.
Perguntamos porque é que as ajudas financeiras ao setor da cultura, que deviam ser apoios universais de garantia de sobrevivência, continuam a vir em forma de concurso à criação artística.
Perguntamos ainda para quando o reconhecimento de que este é um setor vasto, complexo e interdependente, que compreende muito mais do que meia dúzia de nomes sonantes e de eventos de grande dimensão.

Estas perguntas revelam que passados onze meses muito pouco foi resolvido. Continuamos intermitentes, cancelados, desprotegidos e precarizados. Continuamos também, como em maio do ano passado, vigilantes. 

Dia 21 de abril, em frente à Assembleia da República, entre as 10h00 e as 17h00, a nossa vigília terá outra forma. Sairemos à rua com apenas um caixão. Dentro dele, simbolicamente, estarão todos os que todos os dias ficam para trás. Se em maio de 2020 perguntávamos “E se tivéssemos ficado sem cultura?” num convite a um exercício imaginativo que sabíamos impossível (porque a cultura e as artes não desaparecerão nunca), hoje perguntamos “E se ficássemos sem profissionais da cultura?”, num exercício que nos parece bem mais realista.

Dia 21 de abril, vamos velar quem ficou para trás. Vamos velar estes trabalhadores na esperança de que durante o velório acordem e que com eles acordem as tutelas que têm a obrigação de responder às perguntas e implementar as soluções.
Convocamos para esta ação todos os trabalhadores da cultura, das artes e dos eventos e ainda todos os que a fruem e todos os que a consomem. 
Em frente à estrutura ou edifício que na tua cidade seja o alvo do teu descontentamento, convida os teus colegas, amigos, família, e todos que direta ou indiretamente se sentem afetados, a juntarem-se com uma flor para a deixar junto ao caixão.

Esta é uma luta de todos!


"Peço a vossa atenção, porque o momento é triste
Fica na história a tua coragem e pequenas conquistas
Só sofrimento na caminhada, bro, não há quem resista
Um minuto de silêncio pela morte do artista
Isto não fica por aqui, foi só mais um na lista
Que foi ferido com gravidade num movimento egoísta
Avisem a família, mataram o artista,
A culpa é vossa, mataram o artista"
Letra e interpretação: Sacik Brow
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