Cineasta amador, pintor, ceramista, escritor e professor, Vasco Branco (1919-2014) foi uma das mais proeminentes figuras da cultura nacional. Nesta sessão serão exibidas algumas das suas obras seguida de uma conversa com a família. ENTRADA LIVRE ESPELHO DA CIDADE 1961 Doc | 10’ – cor – 8mm – som separado- sem cópia Levando a invasão da água pelos canais da cidade de Aveiro ao limite, este filme dá a ver o labor de uma cidade imersa. A inquietação progressiva das águas contamina as formas que habitam a cidade revelando, não só a cidade do trabalho do sal, mas também a cidade sonhada por quem trabalha. Diz Vasco Branco: “A cidade vista através do seu espelho: a laguna. Do anoitecer ao amanhecer a cor sofre modificações sensíveis nesta cidade branca e ensoalhada”. FIGURAS E ABSTRACTO 1959 Ani | 7’ – cor – 8mm Considerado o primeiro filme abstracto português. Na já difícil categoria de fantasia, em realidade esta produção marca um lugar extraordinariamente destacado, pois a sua feitura, quer sob aspecto técnico como sob o artístico, denota qualidades de saber, gosto e paciência, que dificilmente se podem encontrar reunidos no mesmo indivíduo. O filme começa por mostrar-nos um pintor que no seu afã de arte acaba por fazer um experiência com a mistura de desenhos representativos de arte figurativa com outros de arte abstracta. Vasco Branco realizou uma experiência importante no campo do cinema sem câmara. A segunda parte do filme, propriamente onde a fantasia se desenvolve, foi feita com desenhos abertos a buril de ponta de aço em película, colorida depois directamente a aguarela e guacho. Filme aberto a buril em pontas de película, colorido a guacho e aguarela. Tentativa de filme sem câmara, procurando ironizar com a ideia que a ignorância faz da criação artística de alguns dos valores plásticos contemporâneos. A LUZ E OS ANJOS 1962 Vasco Branco estava muito entusiasmado com este filme, acerca do qual me dizia querer colocar em confronto a diacronia entre o Barroco dos anjos do Museu de Santa Joana (Aveiro) e o modo como a luz dos automóveis modificava e animava a expressão dos seus rostos. Ele próprio se refere ao filme, nestes termos: “Aliciante, isto de animar, de dar um sopro fugaz de vida à matéria inanimada. E, sobretudo, duas épocas em confronto: uma procurando o infinito, outra procurando superar as suas limitações na clave do humano”. Gente Trigueira Doc | 16’ – cor – 8mm Gente Trigueira é a gente queimada pelo Sol rasando a superfície das águas da Ria, da gente encardida pelo ar salino da laguna. Esforço titânico, mas compensação miserável para quem labuta nas fainas do Sal, do moliço, do junco, do berbigão. Gente Trigueira é, em suma, a paisagem humana da minha terra.