Entre 11 e 18 de novembro de 2020, nas plataformas online do ICR Lisboa, decorrerá o projeto "As histórias dos instrumentos", realizado pela Associação Cultural "Pro Contemporania". Serão apresentados recitais em que notáveis artistas romenos contam, através da música, as histórias de seus instrumentos. Era uma vez umas digressões fantásticas que, durante 10 anos, atravessaram a Roménia, ano após ano, de uma ponta à outra, sem parar. Chamavam-se O Piano Viajante, O Violino de Enescu, A Flauta Mágica, O Duelo dos Violinos, Os Órgãos da Roménia, COOLsound, Clássico elevado ao cubo - Violoncelíssimo. As três divas e sua lista foi enriquecendo ano após ano, algumas delas evoluindo de forma extraordinária. Irmãs, parecidas umas com as outras que nem as filhas do Imperador, mas, no entanto, cada uma com uma característica distinta. Quando chegou a hora de comemorar a décima edição e as Digressões fantásticas se transformarem nas Histórias dos instrumentos, o mundo da arte foi engolfado pelo gelo e tudo que era a voz de um instrumento musical emudeceu. As salas de concerto e espetáculo ficaram vazias, nas ruas outrora animadas nas noites de fim de semana ao redor das mesmas, nenhum carro e nenhuma pessoa passava, os vestidos de gala permaneceram nos armários e, por um momento que tomou proporções enormes, todos os músicos tiveram a sensação de viver um pesadelo do qual não conseguiam acordar. Ao contrário de qualquer evidência de que um mundo sem música não existe, havia cada vez mais videntes a prever o desaparecimento da MÚSICA tal como todos nós a conhecíamos. Então, algures, por trás de uma cortina em que se tinha assentado a poeira, já que ninguém precisava mais dela, apareceu uma boa fada que disse: “Não se esqueçam que enquanto souberem contar as HISTÓRIAS DOS vossos INSTRUMENTOS aos espectadores da sala ou aos que se encontram no coreto de um jardim, aos seus alunos e estudantes universitários, aos seus filhos e avós, ao público dos ecrãs dos telemóveis igualmente assustado ao olhar para um futuro incerto, A MÚSICA encontrará o caminho para voltar ao seu lugar, na sala de concertos, ao lado das pessoas". Foi dessa forma que As digressões fantásticas se transformaram nas Histórias dos Instrumentos, para dar esperança àqueles que acreditam no poder único da música de transmitir emoções vivas. Uma série de histórias subjetivas dos instrumentos ganharam a voz do pianista Horia Mihail, do violinista Gabriel Croitoru, do violoncelista Marin Cazacu, do flautista Ion Bogdan Ştefănescu, do clarinetista Emil Vişenescu e do organista Eduard Antal, todos eles contando as histórias dos seus instrumentos de uma forma pessoal, acompanhando-as com uma seleção musical pensada por cada músico da maneira mais convincente possível. As histórias dos instrumentos, as histórias dos compositores, bem como as histórias das suas obras, são atuais, mesmo que a música não tenha sido composta em 2020. Às vezes, as histórias surgem mesmo pelos intérpretes, outras vezes pelos instrumentos, outras ainda pelos compositores. Talvez nem todos sejam atraídos desde o primeiro encontro por um certo tipo de música, mas todos são atraídos por histórias. E o amor pela música clássica pode, às vezes, surgir apenas porque gostámos de como alguém nos contou uma história. Depois da primavera gelada de 2020, As histórias dos instrumentos voltarão a ser as Digressões fantásticas, ganhando vida primeiro ao ar livre, depois em catedrais e finalmente em salas de concerto, da menor à maior, dando de novo esperança, restituindo ao público a coragem de se unir aos demais e de resgatar a singularidade do ato artístico vivo, que pressupõe a existência de dois parceiros: o artista e o seu público.
