Nota: a concentração terminou às 15h00. Somos todos invisíveis - Concentração pela dignidade dos sem abrigo - Queremos dignidade. Queremos a nossa vida de volta. Sentimo-nos desprezados no dia a dia. As instituições, a câmara, o presidente e o governo não nos dão apoio. Cada vez vê-se mais gente a viver na rua. A promessa de Marcelo Rebelo de Sousa foi tirar os sem abrigo da rua, dar-lhes dignidade e dar-lhes uma casa. Mas cada vez há mais despejos, mais desemprego, mais pessoas na rua. E menos respostas. Tínhamos uma vida, tínhamos amigos, tínhamos tudo e acabámos na rua. Muitos de nós sentimos vergonha. Não pedimos para chegar a este ponto. Ninguém dá trabalho a um sem abrigo. Perguntam-nos “onde reside?”. Respondemos: na rua. E aí já não há mais conversa, a entrevista acaba ali. - Manifestamo-nos pela primeira vez e sem ninguém a falar por nós Sem sindicatos, sem partidos, sem associações. “Senti-me revoltado com o facto de ter perdido o local onde podia sentar-me para comer, tomar banho, lavar e secar a roupa e conviver. Fiz um apelo a todos os sem abrigo que estavam em frente à cantina. Todos mostraram apoio.” Foi assim que começou a iniciativa. - Pedimos apoio e nunca tivemos Querem mandar-nos para albergues e não queremos. Não têm condições (têm percevejos, porcaria, quartos pequenos com 18 pessoas), as pessoas roubam-se umas às outras. Cada pessoa tem um número, ali o nome não existe. Quando se entra para ali, é como uma prisão: não és mais que um número. É proibido tirar fotografias lá dentro. Se tirarmos, vamos para a rua. Se nos queixarmos, vamos 3 dias para a rua. A Santa Casa da Misericórdia entrega à Vitae 960 euros por mês para cada sem abrigo, mas recusa-se a dá-los diretamente aos sem abrigo. Nestes albergues as pessoas vivem em quartos 3x4 metros com várias pessoas. - Queremos deixar de viver na rua A CML e a Santa Casa têm tanta casa fechada, queremos abri-las e organizá-las. Queremos ter uma casa onde viver com dignidade e ter uma morada para dar numa entrevista de trabalho. E queremos ter dignidade, sem estar sujeitos ao desprezo que sentimos todos os dias. Pedimos às pessoas que estão desempregadas e em dificuldades que venham apoiar os sem abrigo. A revolução que vai haver não é de cravos nem de rosas, é de sem abrigo.