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Colóquio Rosa Lobato Faria 'A Actriz'

Colóquio Rosa Lobato Faria "A Actriz"

Colóquio Rosa Lobato Faria "A Actriz" , 10º aniversário da sua morte. Com Herman José, Maria Rueff, Fernando Luís, Rita Blanco e Ana Brito e Cunha

Quando passam 10 anos sobre a morte de Rosa Lobato Faria, Pedro Rebelo de Sousa, seu genro, presta uma devida e "sentida" homenagem ao reeditar uma carta que lhe dirigiu em 2013.

"Rosinha,
	Passaram dez anos desde que, de uma forma um tanto trágica, partiste. Sempre fez espécie a muitos este tratamento informal que nasceu há mais de quarenta anos entre o jovem namorado da tua filha Bi e essa mulher que conseguia contrabalançar uma reconhecida beleza exterior com o brilho do seu intelecto.
	Foi assim – a cumplicidade e o amor quase filial foram crescendo com a certeza de saber abraçar o todo que qualidades e defeitos acabam caldeando. No brilho do teu olhar oceânico e nas rugas desejadas do teu rosto fui-me aninhando ao longo dos anos.
	Partilhávamos Abril porque nele nasceste em 1932, nele comecei a namorar a tua filha, porque nele nasci também, porque nele nasceu a nossa primeira filha Mariana (a quem em tua homenagem pusemos o apelido Lobato de Faria), porque nele, Abril, pensamos que poderia haver algo diferente para Portugal, porque nele decidimos Bi e eu deixá-lo há 36 anos, desiludidos com o devir do País, casando e emigrando como a esmagadora maioria da juventude portuguesa agora faz ou gostaria de fazer….
	A verdade é que poderia discorrer páginas e páginas sobre o que os Abris podem significar nas nossas vidas, conforme as conversas que fomos tendo.
	Rosinha – sei que integraste, depois da tua morte ainda mais, esse mistério diário da vida que tento desmistificar nas orações e no que julgo ser o “perpetuar” da alma. O sentido que tanto se busca e que não tem sentido.
	Com a tua doçura, a tua pretensa irresponsabilidade com as minudências do quotidiano material, com esse flutuar primaveril nas asas do imaginário que verdadeiramente nos faz sentir algo mais do que um organismo de funcionalidade precária, com o teu egoísmo, tónica de quem busca o alfa e ómega da existência no fugaz momento da criação.
	Esses ingredientes que se, por vezes, eram incompreendidos pelo meu lado racional, acabaram por ser o combustível da tua obra, artística e literária.
	Desde a letra para uma canção escrita em 10 minutos até aos romances que vi “crescer” como que numa urgência de quem cumpria (metódica e disciplinadamente) esse mandato de dar forma a algo arquitectado nos labirintos da Tua imensa criatividade.
	Depois essa doçura da Tua poesia que pousava sobre nós qual alter ego versão feminina de um Eugénio de Andrade. Parece que entrávamos em cada poema e nele permanecíamos inertes porque era (como Ela) feito para ser declamado.
	Eras uma Mulher singular, sem dúvida, dir-se-ia. Na singeleza de uma vida despojada reencontraste, na companhia dessa figura algo ímpar do editor Joaquim Figueiredo Magalhães, uma alegria de quem ama a vida e sua multifacetada interacção artística a par da plural actividade literária.
	No calor da tua muito simples hospitalidade envolvias-nos com um incomparável arroz de frango ou um saboroso lombo assado, ou inigualável leite-creme de sobremesa.
	Contigo aprendi que a sopa da pedra pode existir nas nossas vidas e que na contabilidade do ser humano a “situação líquida” é de uma extrema precariedade. 
	Com o tempo vi a tua aproximação gradual de Deus e discutimo-la sem fronteiras. Acho que na muito actual dialéctica entre o Ser e o Ter convergimos em que o Transcendente se manifesta no reino do Ser e bem testemunhei como os teus dons transbordavam na evidência de que o talento supera a materialidade e a finitude da condição humana.
	Sei que terias uma tristeza profunda com o que muitos atravessam neste nosso Portugal mas cantarias com o brilho do olhar e a melodia dos teus versos essa “ânsia de ser eternamente madrugada ou ser precariamente eternidade” que todos temos. 
Porque, afinal Rosinha, a Fé é isso, esse acreditar na Vida, no próximo, esse vibrar que impulsiona para o belo e o infinito."
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