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O CAMINHO CHINÊS

Quando cheguei à China, num gélido dia de janeiro de 2004, para começar a trabalhar como correspondente da Rai, a televisão nacional italiana, tinha uma imagem da transformação da China baseada nos grandes sinais económicos e políticos. Um sexto da população do planeta passava pela maior experiência política e económico-social da História. Comecei então a olhar mais profundamente para o quadro completo e a descobrir não “o povo chinês”, mas “os chineses”, e comecei a compreender o que havia lido nas páginas de Lu Xun, um grande escritor chinês do século XX.
A esperança, escreveu Lu Xun, é como um trilho num campo. De início não existe trilho, mas quando alguém começa a atravessar esse campo, lentamente começa a formar-se um caminho.
Muitos caminhos têm sido abertos na China nos últimos anos.
Os jornalistas que trabalharam na China na década de 1960 falavam de como os chineses eram todos iguais. Durante 30 anos, desde a vitória da revolução até à morte de Mao, o país habituou-se a pensar em termos do coletivo, grupos de trabalho, movimentos de massas. Eu vi uma China diferente, uma onde a história da comunidade se dissolve numa infinidade de histórias individuais, de vitórias e de derrotas, de riqueza e de pobreza, de descobertas, de batalhas, de desperdício, de protestos, mas sempre histórias de indivíduos debatendo-se com um novo caminho que se abria.
Ao fazer a seleção de fotografias eliminei tudo o que estava relacionado com a “crónica” e tudo o que tinha o sabor do exótico, do “Extremo e Misterioso Oriente”.
Cada fotografia torna-se, portanto, numa história que faz referência a outras histórias ou que vive por si mesma.
Histórias de pessoas, histórias verídicas, imagens do quotidiano na China do boom económico. A vida do dia a dia que à primeira vista pode parecer enfadonha, mas que encerra a política, a história, a cultura, as emoções, os desejos e os segredos de uma sociedade.
A sequência de imagens inicia com aquilo que resta da China comunista (Nanjiecun, a última aldeia comunista) e o mito de Mao, transformado num ícone sem cabeça ou numa personagem passível de ser imitada, como Elvis; continua através das ruínas das cidades imperiais, pelas vielas de Pequim, pela mítica cidade de Lijiang com os seus telhados de lousa; olha para a metrópole futurista projetada no século XXI e para os seus habitantes, que recordam muito pouco do passado e olham para o Ocidente para encontrar um caminho chinês para a modernidade; mistura o passado e o presente nos jovens da nova classe média que se disfarçam para serem fotografados como protagonistas da antiga ópera chinesa, tal como fazem os camponeses de uma aldeia não muito longe de Pequim, que seguem dos campos para a caraterização, e daí para o palco.

Paolo Longo


Fonte: http://www.museudooriente.pt/3687/o-caminho-chines-.htm
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