Horário: 21h30 - 23h00Oradores:
Frei Bento Domingues
Dra. Lídia Jorge
Moderação: Dra. Luísa Meireles
É no hemisfério da profunda interioridade do pensamento que primordialmente se impõe a realidade. Com ela historicidade, memória, reminiscência. O primeiro momento de percepção é ainda pré-elocutório: o objecto torna-se presente nas sensações mediante a impressão. O intuito colhe-o sem que a razão o julgue. É neste instante noético que os múltiplos conteúdos e modos sensoriais assomam a priori de forma apenas visível interiormente. Pela sua pré-existência, o objecto fala ao sujeito antes que o sujeito fale o objecto. E porque o pensamento tem na fala o seu maior instrumento, os sentidos incitam a linguagem a encontrar acesso à entidade que, ainda não falada, é apenas mistério. Pela fala entende o pensamento o que vê e diz o que entende. Mas quanto mais o fala, mais o espanto primevo, uterino, se fragmenta. Então o mistério esvanece tomado pela razão porque todo discurso é sempre limite. Poderá na Arte, mormente na Poesia, permanecer oculta a transcendência do ser falado, dado que na palavra poética a coisa é todas as coisas em si? E qual o lugar de Deus depois da banalização repetida do seu nome, depois da fala ladainha que, ao invés da Revelação, o verte?
Pedro Abrunhosa
Fonte: https://www.serralves.pt/pt/actividades/pensamento-como-pre-escrita/