Terça, 2 de Julho Teatro Rivoli. Porto WIM WENDERS ESPECIAL “Evoluções do tempo, continuidade do movimento” 19h, A ANGÚSTIA DO GUARDA-REDES NO MOMENTO DO PENÁLTI, de Wim Wenders m/12 21h30, AO CORRER DO TEMPO, de Wim Wenders m/12 Cópias DIGITAIS RESTAURADAS. SESSÕES ÚNICAS Bilhetes: 3 euros A ANGÚSTIA DO GUARDA-REDES NO MOMENTO DO PÉNALTI / DIE ANGST DES TORMANNS BEIM ELFMETER Um filme de Wim Wenders Com Arthur Brauss, Kai Fischer, Erika Pluhar Alemanha, 101 min, 1972, M/12 Festival de Veneza 1972 — Prémio FIPRESCI «A minha amizade com Peter Handke marca a origem do filme. Eu já conhecia o romance antes da sua publicação e tinha-lhe dito: «Tive, durante a leitura, a impressão de ver um filme, o livro é como a descrição de um filme». Ele respondeu-me em tom de brincadeira: «Pois, então só tens que o fazer!» Até aí, eu nunca tinha escrito um argumento, nem sequer tinha visto ainda que aspecto tinha tal coisa. Peguei no livro e dividi-o em cenas; não havia muito a fazer, pois já estava estruturado como um filme. Cada frase resultava num plano, era muito simples. […] A Angústia do Guarda-redes deve muito a Hitchcock, mais do que qualquer outro dos meus filmes. Já Peter Handke se tinha inspirado nele. Para o plano em que Bloch acorda e vê o seu casaco em cima de uma cadeira, utilizei a mesma técnica que Hitchcock utilizou no famoso plano da torre em Vertigo (A Mulher que Viveu Duas Vezes): um deslizar da câmara para a frente combinado com um zoam retrocedente. No que diz respeito à velha senhora que observa Bloch no autocarro, ela foi directamente retirada de A Lady Vanishes (Desaparecida!). Quando escrevi o argumento, tinha também uma lista completa de músicas que queria incluir no filme. Cinco ou seis estão lá, entre elas – na sequência em que Bloch apanha a camioneta para ir para o campo: a minha cena preferida – The Lion Sleeps Tonight, dos Tokens. Foi a primeira vez que Robby e eu viajámos pelo campo: de Viena até à fronteira jugoslava. Era o nosso primeiro pedaço de road movie, estávamos muito orgulhosos. De repente, surgiu-me a possibilidade de fazer um filme com meios reais, em 35mm. Aconteceu bastante inesperadamente. Essa vontade foi posta em questão com o filme seguinte.» Wim Wenders, A Lógica das Imagens, Ed.70 AO CORRER DO TEMPO / IM LAUF DER ZEIT Um filme de Wim Wenders Com Com Rüdiger Vogler, Hanns Zischler, Lisa Kreuzer Alemanha, 175 min, 1975, M/12 Festival de Cannes 1976 – Prémio FIPRESCI Festival de Chicago 1976 – Melhor Filme Pensei, então, que poderiam ser condutores de camiões TIR quem, no meu filme, ia fazer esta viagem pela Alemanha. Primeiro, tinha pensado num circo ou naqueles transportes de vendedores ambulantes. Isso teria, porém, significado estadas muito longas num lugar e eu preferia avançar de modo mais rápido. Mais tarde, surgiu então a ideia de que isto poderia ter alguma coisa a ver com cinemas de província e aí, de repente, tudo se ajustou. Eu tinha até os pontos de referência para a viagem: os cinemas. […] Eu estaria imbecilizado se não fosse a música rock. Os Velvet Underground têm um verso assim: Her life was saved by rock ‘n’ roll. O Bruno tem, por isso, uma music-box na parte de trás do seu TIR e um gira-discos para singles à frente, na cabina do condutor: duas máquinas salva-vidas. De certo modo, o filme ocupa-se desta geração de homens que, no passado, gastaram toda a sua primeira mesada nas music-boxes para ouvir Tutti Frutti ou I’m just a lonely boy, mas que eram ainda demasiado novos para poderem eles próprios usar sapatos bicudos. Nostálgicos em redor da autoscooter, olhando apenas como um outro levara uma rapariga a dar uma volta e a apalpara por debaixo da blusa. Eles têm agora trinta anos, estão ainda 2000 light years from home. Tudo tem que se tornar diferente. Retirado de uma entrevista com Fritz Müller-Scherz, publicada no livro do filme Im Lauf Der Zeit (Ao Correr do Tempo), Frankfurt am Main, 1976, In A lógica das Imagens, de Wim Wenders, Ed. 70
