22:00 até às 23:59
Stereossauro 'Bairro da ponte' - Lux 28/Fev

Stereossauro "Bairro da ponte" - Lux 28/Fev

CONCERTO DE APRESENTAÇÃO DO ÁLBUM BAIRRO DA PONTE

A nova voz da velha cidade.
Bem-vindo ao Bairro da Ponte. Aqui celebra-se o acervo exclusivo da voz de Amália Rodrigues e da guitarra de Carlos Paredes, redescoberto por Stereossauro e partilhado com duas mãos cheias de artistas convidados. Mas se estás à espera de encontrar um bairro de fado, não podias estar mais perdido. Na tasquinha da esquina as raízes da música portuguesa cantam ao som do hip hop e nunca se faz silêncio. É numa desgarrada ensaiada que a guitarra portuguesa se junta ao rock com uma batida electrónica. Um bairro cheio de artistas, onde 19 temas acabam com a distância de estilo e idade. E se ouvem em velocidade cruzeiro, sem pressas nem apitadelas. O Bairro da Ponte não é apenas um álbum. É a nova voz de uma velha cidade que pede para ser ouvida.

Convidados do álbum: 
Carlos do Carmo, Gisela João, Dj Ride, Slow J, Plutonio, Papillon, Camané, Legendary Tigerman, Rui Reininho, Capicua, Ace, NBC, Holly, Nerve, Paulo de Carvalho, Dino D'Santiago, Razat, Ana Moura, Ricardo Gordo e Sr. Preto. Uso de samples autorizados de Amália Rodrigues, Carlos Paredes e outros.
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STEREOSSAURO   –   BAIRRO DA PONTE

Fado. Hip hop. Mundos distintos, distantes e díspares ou, pelo contrário, dois corpos culturais que se atraem exactamente porque partilham tanto em comum? Em Para Uma História do Fado, o reputado musicólogo Rui Vieira Nery fala de uma música nascida nos círculos “boémios e marginais” de Lisboa e, na sua investigação de documentos históricos, cita os diários de um oficial alemão que passou pelo Brasil no primeiro quartel do século XIX e que descreveu o fado como “dança de negros tão imoral e no entanto tão encantadora”.

É certo que o hip hop tem uma origem distinta, fruto de uma experiência cultural muito precisa e específica, no Bronx, bairro de Nova Iorque, nos alvores da década de 70. Mas, talvez mais do que qualquer outra expressão musical da idade da pop, o hip hop teve o condão de se disseminar globalmente assumindo, em cada lugar, as marcas concretas de cada realidade que o acolheu. Se a cadência do ritmo, as ferramentas de produção ou o domínio da rima e a sua entrega com flows característicos permitem traçar marcas de universalidade neste género – quer estejamos a falar de hip hop produzido na América, em Portugal, em Angola, na Rússia ou no Japão... -, a verdade é que a língua, o calão, as histórias que se contam, as realidades que reportam e até – e isto é muito importante – os samples que adornam a música reforçam as diferentes identidades locais.

Como o fado, portanto, também o hip hop português – ou tuga... - tem na sua origem marcas de boémia e de marginalidade e uma inequívoca negritude que o liga à geração nascida dos que vieram para Portugal arrastados pelos processos de descolonização após o 25 de Abril.

O hip hop e o fado têm muito mais em comum do que se poderia pensar. E só alguém que amasse tanto as duas culturas poderia facilmente ver o que as une em vez de se focar no que as separa. Alguém como Stereossauro.

Stereossauro é um veterano que carrega nos ombros uma carreira que se estende pela melhor parte de duas décadas: experimentação solitária primeiro, no quarto, com discos e gira-discos, com colagens disparatadas, tudo alimentado a uma curiosidade infinita, daquela que ainda não se saciava com uma pesquisa no google; depois veio a aliança com o seu inseparável companheiro DJ Ride, cabeça de pensamento similar, com quem criou os Beatbombers e ao lado de quem conquistou dois títulos mundiais na exigente arte do scratch; e em cima de tudo isso contabiliza ainda várias mixtapes, produções avulsas, batidas criadas para muitos MCs, exercícios de derrube de barreiras entre o que entendia ser o “seu” hip hop e a música portuguesa que sempre abraçou –  os Clã e Mão Morta, o Sérgio Godinho e Zeca Afonso... ou Carlos Paredes e Amália.

Quando remexeu em “Verdes Anos”, assumindo os pads da sua MPC como o mestre assumiu o aço das cordas da sua guitarra, Stereossauro abriu – talvez seja melhor escrever “escancarou” – um universo de possibilidades: o maestro António Vitorino de Almeida, numa cerimónia oficial, viu e ouviu Stereossauro a reinterpretar “Verdes Anos” e aplaudiu o resultado. De repente, ganhámos todos uma música que era nossa, que era moderna e intemporal, que olhava para o passado e para o futuro e por isso definia o presente. Foi a música escolhida pela RTP para anunciar a chegada a Portugal da grande festa da canção: os Beatbombers puderam depois interpretar a sua versão de “Verdes Anos” na cerimónia de encerramento do Festival Eurovisão da Canção perante uma plateia verdadeiramente global. 

Stereossauro deu agora o passo seguinte: BAIRRO DA PONTE. O trabalho com que sucede a Bombas em Bombos, o seu primeiro álbum em nome próprio, editado em 2014, é, simplesmente, o mais ambicioso da sua carreira e um disco que tem tudo para assumir uma justa condição de registo histórico.

Partindo dos masters originais de Carlos Paredes e Amália Rodrigues depositados nos arquivos da Valentim de Carvalho, Stereossauro criou um espantoso trabalho de fusão entre tradição e modernidade, carregado de história mas também de sonhos de futuro. Este tipo de acesso tem sido raro na história da música – os US3 ou Madlib a abordarem livremente os arquivos da Blue Note são exemplos possíveis – e é totalmente inédito em Portugal. Nunca um produtor de hip hop no nosso país teve a possibilidade de pesquisar sem restrições neste género de arquivos, de aceder a masters e a bobines de multipistas e ouvir aquilo que muito pouca gente ouviu, para lá dos artistas e dos engenheiros de som envolvidos originalmente nas sessões. No caso de Amália, já nem a diva nem o seu engenheiro de sempre, o mestre Hugo Ribeiro, se encontram vivos, pelo que aquilo que Stereossauro escutou naquelas multipistas – a fadista a falar com os seus músicos entre takes, a dar instruções ao seu engenheiro – equivale, muito literalmente, a viajar no tempo, até às décadas de 60 ou 70 do século passado. E Stereossauro, quando descreve o processo, não esconde o entusiasmo e usa, com frequência, palavras como “arrepio” ou “privilégio”.

O que é este BAIRRO DA PONTE que Stereossauro habita, então?

É o nosso presente, o presente de uma cidade livre, que ostenta com orgulho as marcas identitárias que a distinguem de outras cidades, onde o passado vive no presente e onde o presente continua a ousar projectar o futuro. É um bairro de tascas frequentado por marialvas e fadistas, por MCs e DJs, por gente que pinta o nome nas paredes e nos braços e que nunca esquece Amália ou Carlos Paredes.

Nestes dias actuais, Lisboa está cada vez mais presente no mundo: os milhões de selfies nos seus pontos mais turísticos atiram-na para os labirintos do Instagram e vulgarizam-na numa vertigem de pasteis de nata e latas de sardinha. Mas há outro lado nessa feroz equação do progresso: derrubam-se barreiras que antes tornavam as tradições inacessíveis à transformação nas suas redomas de cristal, derrubam-se muros sociais, misturam-se ideias e práticas. E o que resulta daí é uma nova vibração, a vibração que, precisamente, atravessa este BAIRRO, as suas vielas e varandas, as suas tascas e jardins, as suas gentes.

É com a voz de Amália que o Bairro da Ponte se abre: “eu canto este meu sangue, este meu povo”, revela a diva. E está criado o clima para um disco que ao longo de 19 faixas reúne um número sem precedente de convidados num projecto destes. Por ordem de entrada em cena: Camané, NBC, Slow J, Papillon, Plutónio, Ana Moura e DJ Ride, Dino d’Santiago, Carlos do Carmo, Legendary Tigerman e Ricardo Gordo, Gisela João, Capicua, Ace, Rui Reininho, Nerve, Razat e Paulo de Carvalho, Holly e Sr. Preto.

Gente do Norte e do Sul. Gente do fado e do hip hop. Do rock. Gente de várias gerações, de diferentes posturas, com diferentes sotaques. Gente de todas as cores. Homens e mulheres. Cantores, músicos e produtores. Amigos: como Ride e Holly, claro, e como Razat, companheiro na exploração dos fundos mais graves que tristemente desapareceu em vésperas da edição deste BAIRRO DA PONTE. Ele era um natural habitante deste lugar cheio de futuro.

E há tanto mais aqui dentro: as vozes de Amália ou de Alfredo Marceneiro, as guitarras de Carlos Paredes ou António Chaínho e até o assobio de Vasco Santana. Depois de tantos anos mergulhado em feiras de velharias em busca dos vinis de que também se faz a nossa memória, Stereossauro deu o passo seguinte e foi beber directamente à fonte, aos arquivos, onde repousa a memória de uma cultura que está mais viva do que nunca. Pegar nessa memória e devolver estas vozes, estes dedos, estes sons e estes sopros ao presente é erguer algo de novo. E Stereossauro, DJ e produtor, assume também no disco a condição de músico e até de letrista: criou ele as palavras que Gisela João ou Ana Moura cantam neste disco. Um bairro novo, portanto. Erguido à sombra desta ponte que nos continua a permitir cruzar águas e tempos, vidas e culturas. É assim que se faz história. E esta é a história de Stereossauro.
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
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