21:30
Pedro Caldeira Cabral @ Fora do Lugar, Idanha-a-Velha

Pedro Caldeira Cabral @ Fora do Lugar, Idanha-a-Velha

14 Dezembro 21h30 
Idanha-a-Velha
Sé Catedral

Pedro Caldeira Cabral
Labirinto da guitarra

“São muitos os caminhos cruzados no repertório musical da Cítara europeia…”

Notas:
Entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Por motivos de segurança, a porta será encerrada assim que a lotação estiver preenchida. 
As portas abrem 30’ antes do início do concerto.

Pedro Caldeira Cabral, Guitarra Portuguesa
Joaquim António Silva, viola

Programa:
Vilancete e Cantiga, Pedro de Escobar (1465-1536)
Pavana Quadro, Anthony Holborne (c.1570-1620)
Sonata K. 322, Domenico Scarlatti (1685-1757)
Sonata K. 37 (Allegro-Adagio-Minueto), Carlos Seixas (1704-1742)
Fofa da Rozinha, atr. António Leal Moreira (1758-1819)
Marcha dos Cavalinhos, Manuel José Vidigal (1763-1827)
Allegro, João Paullo Pereira (c.1790-1860) 
Fado Conde da Anadia, José Mª. dos Cavalinhos (fl.1850-1870)
Valsa, Gonçalo Paredes (1873-1915)
Maxixe Poiarense, Manuel R. Paredes (c.1875-1930)
Variações em mi menor, Artur Paredes (1899-1980)
Despertar, Jaime Santos (1909-1982)
Vôo da Mosca, Jacob B. Oliveira (1918-1969)
Danças Portuguesas, Carlos Paredes (1925-2004)
Fantasia Verdes Anos, Carlos Paredes/P. C. Cabral
Momentos, Pedro Caldeira Cabral (1950)
Baile dos Carêtos, Pedro Caldeira Cabral

Notas ao programa:
Desde a sua origem (no século XVI), a Guitarra era conhecida entre nós pelo nome de Cítara e tocada nos meios aristocráticos abrangendo o seu repertório vários géneros: O acompanhamento do canto, a execução de peças de dança, as versões intabuladas de canções polifónicas, simples ou glosadas e de fantasias instrumentais a solo.
Integrava também frequentemente os conjuntos vocais e instrumentais , realizando uma função harmónica e rítmica, a par das violas, da harpa, do cravo e do orgão. A notícia mais antiga do seu uso contextualizado é dada por Garcia de Resende (cronista, poeta e músico) em 1521. Na  obra  “Descripçam e debuxo…” do Mosteiro de Santa Cruz ( Coimbra , 1541) compara-se o “suave tom” dos orgãos ao timbre da Cítara e faz-se referência à utilização desta nos ofícios religiosos.
A sua presença em práticas musicais seculares é referida também pelos monges crúzios e no Teatro aparece referida no rifão “Palavras sem obras, Cithara sem cordas” usado por Jorge Ferreira de Vasconcelos na sua “Comédia Eufrosina” de 1543. Em 1582 o cronista Frei Phillipe de Caverel, de visita a Portugal, descreve alguns instrumentos musicais usados pelos portugueses, citando a Cítara, a Viola, o Cravo e o Orgão, entre outros. Em 1652, encontramos no inventário de Francisco de Leão a menção de que possuia uma Cítara comprada em Lisboa por 480 reis e enviada depois para o governador de S.Paulo, no Brasil.
Por volta de 1680 é realizada por Frei Pedro a escultura do anjo músico, tocando uma Cítara de seis ordens, “tirada do natural”, integrada no Retábulo da Morte de S.Bernardo, no Mosteiro de Alcobaça.
A notícia sobre o compositor Padre João de Lima no manuscrito da B.N. de Lisboa intitulado “Desagravos do Brasil “ descreve-o como tocando vários instrumentos de corda entre os quais, em segunda posição, a Cítara.
Entre 1712 e 1715, o famoso cirurgião e filósofo António Ribeiro Sanches (1699-1783) recebia lições de Cítara na cidade da Guarda, facto que atesta a prática deste instrumento para além dos grandes centros de cultura do país.
Com a publicação do “Estudo de Guitarra” , Porto , 1795, António da Silva Leite (1759-1833) dá-nos um precioso testemunho sobre o uso da Cítara no seu tempo, referindo-a como instrumento de acompanhamento a par do Cravo e da Tiorba.
O seu livro é dedicado exclusivamente à Guitarra “Inglesa”, um dos vários tipos de Cítara europeia em voga no século XVII, cuja afinação e estrutura interna terão sido modificadas por violeiros alemães, sendo mais tarde introduzida em Inglaterra nos meados do século XVIII.
Esta Guitarra ,com apenas 10 cordas e com uma afinação e técnica muito diferentes da nossa, tem entre nós uma difusão limitada aos círculos aristocráticos e burgueses das cidades de Lisboa,  Porto e Coimbra, nunca se popularizando e desaparecendo gradualmente a sua prática com a revitalização da Cítara, causada pela associação desta com o Fado de Lisboa.
A desqualificação social da Cítara é um facto, atestado por exemplo com a notícia da prisão em 1820 (ano do nascimento da Severa), de um tal  Manuel Raimundo, homem pardo, por  estar “tocando em huma Cytara” numa “loja de louça que também vende aguardente”, na Calçada de Santana , em Lisboa.
Cunha Matos, descrevendo os costumes da burguesia do Brasil em 1824, diz-nos: “Na província de Goiaz, as senhoras cantam soffrivelmente e tocam o psaltério, a cithara, a guitarra e as violas” ilustrando claramente o uso dos dois instrumentos em contexto social idêntico, tal como Silva Leite o fizera anos antes no seu método.
Em 1858 é publicado no Porto a obra de Fétis “A Música ao Alcance de Todos”, cuja tradução contém um glossário de José Ernesto de Almeida, no qual se descrevem a Cítara e a Guitarra da época com indicações do estatuto social diferenciado dos seus utilizadores, as respectivas afinações e técnicas.
O século XX assistiu à requalificação social e musical do instrumento, entretanto elevado à categoria de símbolo identitário, frequentemente incluído em representações pictóricas eruditas ( de Mário Eloy,  Cândido da Costa Pinto a Júlio Pomar e Graça Morais ) , citado pelos mais famosos poetas (de Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andersen a Manuel Alegre).
Concluindo, a  Guitarra Portuguesa de hoje entrou definitivamente na categoria de instrumento de concerto, apreciada internacionalmente, representada por um conjunto vasto de intérpretes, apostados na divulgação das várias vertentes que constituem o seu reportório, bem ilustrado no programa deste recital.
© Pedro Caldeira Cabral 2012

Pedro Caldeira Cabral. Nasceu em Lisboa em 1950.Ainda na infância inicia o estudo da Guitarra Portuguesa,da Guitarra Clássica e da Flauta doce.Mais tarde estuda solfejo,contraponto e harmonia com o Prof.Artur Santos.
A partir de 1970 inicia o estudo do Alaúde,da Viola da Gamba e de outros instrumentos antigos de corda e de sopro,vindo mais tarde a fundar e dirigir os grupos La Batalla e Concerto Atlântico, especializados na interpretação da Música Antiga em instrumentos históricos.
Desde 1969 desenvolve como compositor,um estilo próprio, fundado na tradição solística da Guitarra Portuguesa, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica. Como intérprete tem alargado o reportório solístico da Guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach,Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros e apresentado publicamente novas obras originais de autores contemporâneos.
Tem realizado investigação na área da música tradicional (Organologia musical),tendo colaborado com o Dr.Ernesto Veiga de Oliveira na segunda edição de “Os Instrumentos Musicais Populares Portugueses”- Fundação Calouste Gulbenkian , Lisboa,1983 e na 3ª edição ( capítulo novo) datada de Janeiro 2001.
Desde 1970 tem dado na qualidade de solista concertos nas principais salas e festivais da Europa, Estados Unidos da América, Macau e Brasil.
Pedro Caldeira Cabral tem efectuado conferências e seminários sobre temas músicais na Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Suiça, Suécia e Turquia) e E.U.A..
Fez a pré-produção e a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa na EXPO 98.
Em 1999 foi editado o livro “A Guitarra Portuguesa” de sua autoria, sendo esta a primeira obra monográfica sobre as origens e evolução histórica, estudo organológico, e reportório do instrumento nacional.
Comissariou as exposições monográficas “Portuguese Guitar Memories” apresentada no Convento de Santa Agnes de Boémia ,em Praga,, República Checa em Setembro de 2000 e “À Descoberta da Guitarra Portuguesa” no Museu Abade de Pedrosa em Santo Tirso, em Junho de 2002.
Fez programas nas seguintes emissoras de Televisão: RTP (Portugal), WDR, ZDF e NDR (Alemanha), BBC e Granada TV (Inglaterra), ORTF (França), VPRO (Holanda) e TV Globo e TV Cultura de S.Paulo (Brasil).
A sua discografia a solo inclui: Guitarras de Portugal, Tecla (1971); Encontros, Orfeu (1982); A Guitarra nos salões do século XVIII, Orfeu (1983),; Pedro Caldeira Cabral, EMI (1985); Duas Faces, EMI (1987); Guitarra Portuguesa, GHA (1991); Momentos da Guitarra, Fenn,(1992); Variações, Mediem/WDR (1993) ; Musica de Guitarra Inglesa, BMG/RCA Classics (1998); Sons da Terra Quente, F M (2000) ;The Enchanting Modinhas and the English Guitar, Radical Media (2001); Memórias da Guitarra Portuguesa, Tradisom (2003), A Guitarra do Século XVIII, Tradisom (2003), Guitara Diversa Mastermix, (2004) e Círculo Imperfeito, PrimeTime (2013).

Joaquim António Silva. Nasceu em Óbidos em 1956. Músico autodidacta, tem exercido esta actividade paralelamente à sua vida profissional como fotógrafo e professor. Frequentou cursos de direcção coral com Mário Mateus e Fernando Lopes-Graça. Desde 1979 que se interessou pela Música Antiga, dedicando-se ao estudo do alaúde e outros instrumentos instrumentos em uso na idade-média e renascimento.
Integra desde 1986 o grupo La Batalla e desde 1991 o Concerto Atlântico, ambos dirigidos por Pedro Caldeira Cabral, e com os quais se apresentou em inúmeros concertos em Portugal, e nos festivais de Utrecht (Holanda) e Clerckenwell (Inglaterra),além de outras cidades estrangeiras.
Integra igualmente como acompanhador, o Trio de Pedro Caldeira Cabral, tendo participado em inúmeros concertos em Portugal, na Irlanda, na Noruega, na Alemanha, na Holanda, na Bélgica, em Itália em França, em Espanha e em Macau.
Tem-se também dedicado ao estudo e práticas da música tradicional, nomeadamente ao reportório de dança e instrumentos tradicionais da Estremadura e ao trabalho de direcção coral de grupos amadores.
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
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