"O Brasil vive um momento sombrio de sua História: o triunfo da extrema direita ao poder consolida uma atmosfera política preocupante, onde forças retrógradas, forças da brutalidade, da violência e da falta de solidariedade humana saíram do armário orgulhosas. As palavras do horror e do ódio ecoam, sem constrangimento algum, tanto da boca de pessoas comuns, e o mais grave e assustador, as palavras ecoam da boca do presidente eleito: o racismo, o sexismo, a xenofobia, a homofobia e o ódio de classe estão na ordem do dia. Diante de tal ordem, como resistir? Artistas, professores, intelectuais, estudantes, movimentos sociais e a classe trabalhadora representam neste momento a força e a esperança possíveis. Neste aspecto, o trabalho profundamente humano do fotógrafo brasileiro Gustavo Lutfi, nos convida amorosamente a “OLHAR”. Os retratos desta exposição foram tirados em incursões pela América Latina e África, entre os anos de 2010 a 2015. Através de seu trabalho, é possível olhar o outro com generosidade e afeto, olhar a diversidade e a riqueza da vida humana, que se revelam através de sua lente, e na coragem deste olhar se deixar afetar pela existência deste outro. Suas fotos nos convidam para esta experiência da sinceridade e do encontro, despida de defesas e de condicionalidades. “A sua existência me interessa, me comove e me faz melhor”, cada foto poderia estar a dizer esta frase simples, ao mesmo tempo complexa e difícil, difícil porque nestes tempos obscuros de ódio cego e desejo de destruição das existências que não se enquadram em uma determinada visão de mundo, contornar tal miséria espiritual de pensamento torna-se um imperativo ético e moral. Cada retrato carrega em si a potência de revelar uma vida humana em sua mais rica singularidade, tentando construir pontes afetivas que nos tocam, e nos sentimos gratos, pela experiência artística de ser afetado pela vida humana revelada. “Assisto ao abismo e nele me encontro Fundo e abismado entre rochas e socos E isso nos obriga ao alimento urgente Ao beijo último e à revolução máxima (…) Vaga-lumes nos protejam Pois ao horizonte Trevas” Os versos do poeta Matheus Trunkle, dialogam com a necessidade de resistir, pegamos emprestado tais versos, pois as fotos expostas podem ser vistas também como pequenos vaga-lumes, tentando iluminar as trevas de quem, apesar dos abismos, resiste e luta!" Natali Malena.