19:00 até às 23:00
Galeria Ana Lama Arte Extremo I André Trindade

Galeria Ana Lama Arte Extremo I André Trindade

0€ - 1000€
André Trindade fez talvez a performance com mais impacto nas artes plásticas portuguesas em tempos recentes, "Mesoamerican Ballgame". Executada em Serralves em 2016, consistia numa reposição do jogo que existiu durante 3000 anos criado para as classes nobres guerreiras Aztecas. Para a performance construiu-se em Serralves uma plataforma em pedra, uma reprodução pequena do que na época pré-Colombiana se nomeava de arena dos golpes, criou-se a plataforma que seria apresentada com performers vestidos à época. 

Os performers usavam máscaras que não escondiam a identidade do usuário, o seu rosto misturado com a máscara compunha uma espécie de dupla face com o animal ou a divindade representada, máscaras com duas metades, de um lado o rosto vivo e do outro o crânio sem carne ou parte humano parte animal. Além das máscaras de época, também compunham a indumentária artefactos de cerâmica e de ouro que se repetiam em módulos e fios e alças, colares e braceletes. Os performers tinham também elementos reforçados de cabedal nos joelhos e caneleiras. 

Jogo de bola mesoamericano tratava-se de um jogo extremamente violento, ocorriam frequentemente ferimentos graves infligidos quer pela bola densa e pesada, quer por outros jogadores e as mortes eram relativamente comuns. Na performance concebida por A. Trindade em vez de bola densa de pedra revestida a borracha usada pelos Aztecas, os jogadores neste caso performers (jovens artistas plásticos) divididos em duas equipas de quatro, jogavam com cabeças de madeira, cabeças de madeira dos principais políticos da nossa praça ou de outros personagens públicos com responsabilidade política (espécie de ready made segundo a tradição picaresca e de crítica política) - um político ou uma figura pública, era esculpida a sua cabeça em madeira pelos artistas plásticos ali mesmo junto à arena, o personagem escolhido pelo publico no dia anterior seria a bola do jogo do dia. Nos jogos que se realizaram durante uma semana os performers com botas nas quais se aplicou um dispositivo pontiagudo de aço, pontapeavam as cabeças para que estas fossem perdendo a fisionomia ao ser chutadas, fossem perdendo o seu relevo figurativo tornando-se formas disformes e abstratas.

Numa entrevista durante a performance a 15/3/2016, A. Trindade revelava que se considerava um herói da abstração, dizia ser o único verdadeiro herói da abstração em Portugal, expressava que os outros artistas faziam arte abstrata para fugir à mundanidade figurativa do dia a dia, procuravam uma elevação filosófica nas formas arquetipais ou orgânicas, mas que ele ao contrário não fugia da frustração que lhe causava a política, ele enfrentava esse fatalismo e criava um manifesto social em defesa do indefensável um processo de destruição-construção criando uma abstração ritualística magnânima.

Como justificação da performance é de lembrar que em 2015, no princípio da legislatura, foi votado por unanimidade com acordo de todos os partidos do circulo parlamentário, que se iria fundar o estatuto especial do artista, acabando com o regime dos recibos verdes para os artistas e empregando toda a comunidade artística diretamente nos quadros do estado. 
Com pensões vitalícias a partir de 1000 euros e até 10 000 euros, dependendo do ar extravagante dos artistas, do tamanho dos bigodes e das barbas, dos padrões e cores a usar pelos artistas. 
A cedência de espaços para os artistas criarem, a compra de sofás e outro mobiliário próprio para o ócio e trabalho; cedências municipais e a criação de cooperativas pelo Estado para que a terceira idade do artista pudesse ser mantida secreta. 

Como se veio a comprovar nada disto foi para a frente, pelo contrário, fecharam por desinvestimento a maior parte das Galerias já restritas e a Dgartes acabou com a modalidade de bolsas à pessoa singular aceitando só colectivos -os artistas plásticos estavam assim condicionados a participar inseridos em grupos de teatro ou dança.  

Na performance "Mesoamerican Ballgame" o que se evocava acima de tudo era a solidariedade das classes políticas (o costume no Jogo de bola mesoamericano das classes nobres guerreiras Aztecas era que equipa que ganhava torneio tinha a honra de ser sacrificada), o que se evocava com a performance era a solidariedade da classe política Portuguesa, sacrificando esta a sua imagem nas botas dos artistas, humor negro com desaparecimento da cultura em lato senso e do que esta representa. 

A. Trindade acabou por ficar muito abalado com o impacto desta performance nos media e na comunidade internacional e deixou de fazer arte, corre agora em tribunal uma acção contra a liga nacional de futebol, porque os jogos da taça são jogados com uma bola com a cara de um político escolhido anteriormente pelo público e A. Trindade pede direitos autorais por esta dinâmica inventada por si. 

A performance que executará agora é apenas uma excepção à sua convicção de deixar de fazer arte e como tal tem um corpo na música experimental e não nas artes plásticas. 

Ana Lama, Ilha Felisberta. Dezembro de 2018.

Performance “PORTUGALITY - for sale” 
Txt intro por Rui Matoso

colaboração 3eu
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