Debater o espaço, as arquitecturas, o jogo cénico e a democracia Partimos deliberadamente para a ideia de vir a ter como local de trabalho um espaço que reunisse as condições de criação e habitação diárias, oficinais e administrativas, técnicas e de silêncio, do fazer do teatro que queremos e fazemos, desde sempre de modo precário. É um modelo que pode conter os outros que a história conhece, na sua máxima abstração, um espaço de paredes nuas como espaços de significação potenciais para uso cénico. Um teatro de palcos verticais e horizontais, paredes laterais, palco e teia, como um todo, de que cada criação tirará partido. As modalidades de relação entre a cena, as cenas, e a sala, as salas, serão ditadas caso a caso. Hoje em dia, cada criação inventa a sua arquitectura própria, a sua dimensão, o seu cenário. É esse o propósito. Fazer renascer o teatro, como um todo interdisciplinar, no parto de cada objecto em estaleiro, já que a repetição é em processo o seu destino regular, isto é, o ensaio e a maturação do objecto cénico, a passagem do mecânico ao sensível, do dramatúrgico ao estético. E pensando que, de cada vez que construímos um objecto criativo, estamos a propor um modelo de relação, mais aberto ou mais fechado, mais estimulador do sujeito espectador enquanto ficcionador, ou mais “manipulador”, portanto mais ou menos democrático. Em plena sociedade do espectáculo o nosso desejo é o de fazer da democracia um acto sensível concreto, algo que faz parte da troca enérgica e do sistema de tensões que cada criação/representação concretiza. Em boa verdade esses sistemas de tensão não partem de formas neutras e a democracia enquanto configuração e modelo de relação entre uns e outros, cidadãos, condicionamento, espectadores e actores, é algo sempre em causa, não um adquirido e por essa razão necessariamente laboratório — aqui não se propõe a inovação pela inovação a partir de um absoluto da cena, pelo contrário, idealiza-se uma relação de jogo entre partes, a cidade não é um destino, um conjunto de consumidores, é uma parte do jogo. O Colóquio que aqui organizamos abordará estes temas segundo a visão de cada interventor. Essa riqueza diversa será o alimento necessário para o caminho que queremos trilhar com a invenção do nosso teatro, uma casa comum, uma causa comum. Fernando Mora Ramos PROGRAMA COMUNICAÇÕES 15H00 FERNANDO MORA RAMOS Intervenção de abertura 15H30 JOÃO BONIFÁCIO SERRA Que fizemos do espaço público? 16H00 ANA PAULA AMENDOEIRA Personas em tempos sombrios 16H30 HENRIQUE MANUEL BENTO FIALHO “E isto em dizendo, fazendo” — o teatro enquanto espaço poético 17H00 MARIA HELENA SERÔDIO Razões e consequências do livro de Peter Brook O Espaço Vazio 17H30 JEAN-PIERRE RYNGAERT Abertura de um teatro profissional e estudantil num campus universitário. Um espaço estranho no sistema francês no fim do século XX 18H00 JOSEPH DANAN Um espaço para o pensamento 18H30 NUNO RIBEIRO LOPES Nada para além de mim e do meu corpo 19H00 DEBATE moderado por TERESA ALBUQUERQUE