10:00 até às 14:00
Corpo e Inconsciente

Corpo e Inconsciente

O nosso corpo é um processo de atualização permanente até que um dia se extingue e com ele se vai o som (os ruídos) e as imagens que o existir causa. Extingue-se não apenas a imagem do corpo físico como, também, os seus tempos e ritmos corporais. Esta consciência de somos um permanente trânsito — tanto interiormente como na relação com o exterior — liga o corpo com o futuro a partir do presente e o futuro com o passado. O corpo vive no meio destes entretempos, destes dois tempos que o transportam para dentro de um estado criativo quando se toma consciência deles. Estar em permanência nesse estado criador é um imperativo natural do corpo. Como se pode trazer esse estado criativo em permanência para um ator? Como fazer este tipo de processo criador tornar-se um sistema de ação e fazer parte de cada gesto, de cada som do corpo do artista?

A criação ou estudo desse padrão intuitivo onírico — estar num estado de sonho e ou visões vigilantes em permanência — é fundamental para o corpo do artista. Esse estado é uma abertura para um lugar de acesso a imagens de si e de mundos que o colocam mais próximo do seu inconsciente. A partir da abertura desse espaço de visões e de comunicação com o espectador, iluminam-se os corpos numa excitação de espíritos encenadores. É como se ambos, ator e espectador, se tornassem observadores participantes de uma “visão surda” encenada por ambos. 

O trabalho dos artistas, no nosso entender, é feito desse perceber que o corpo que os transporta é um órgão do inaudito, como lhe chama Hugo Ball. Esta expressão é adequada à utilização do corpo em busca de uma voz criadora, desse estado de relação com a concepção de uma cosmogonia individual. Propomos desenvolver essas cosmogonias individuais a partir do som e das imagens arquetípicas como matérias de base. Nesse sentido busco em cada corpo de ator aquilo que, à falta de melhor termo, defino como uma “musicalização” do existir. É como se o corpo abandonasse a sua condição de instrumento e se tornasse presença de uma vibração ou energia que flui. Se tornasse uma música surda que se escuta sem se ouvir. Este inaudito é tornado audível e visível. E talvez se possa dizer, transformador do corpo num órgão sensível que lhe permite, e a quem com ele contacta, ouvir e ver o inaudito, mas também a si mesmo, como quem ouve e vê o que sente. Escuta, vê as imagens interiores e exteriores moldadas nas fibras da carne. Este invocar do corpo do artista, como uma abertura, ou criação, para o escutar do seu corpo e do mundo, é uma qualidade que impõe a existência de um território comum. Esta encenação do mundo é um abrir-se à pertença de, ou pelo menos, a tornar-se acessível por instantes ao indiferenciado. À passagem do caos ao cosmos. 

É sobre este labirinto de conceitos que proponho trabalhar os corpos e os anseios dos atores que se candidatarem à formação Corpo e Inconsciente.

Inscrições|Informações
geral@ifict.pt
Tef: 939 305 715
Final das inscrições e pagamentos até dia 14 de dezembro.
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
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