O tempo parece ficar suspenso quando desembarcamos no núcleo de Hangares, o mais pequeno da ilha da Culatra e parte do conjunto de ilhas que compõem a Ria Formosa, no sotavento algarvio. Cercado por arame farpado, a testemunhar a história de fronteira com um campo de treino de inactivação de explosivos e de demolições que foi também um aeródromo para reabastecimento de hidroaviões, o núcleo é composto no seu interior por habitações clandestinas construídas após o 25 de Abril. Não há rede eléctrica nem água potável. Este é um lugar cuja rusticidade só encontra paralelo na simplicidade das pessoas que o habitam. Alguns são pescadores, outros reformados que encontram ali a sua paz de espírito e o seu ritmo longe do reboliço da costa algarvia, onde alguns têm a sua primeira casa.
Em dois verões seguidos (2015 e 2016) visitei e fotografei o núcleo de Hangares com o objectivo de captar a vida num lugar que poderá, num futuro próximo, deixar de o ser. Pretendi captar o espaço físico, as pessoas, a memória e a vida a partir dos referentes que a estruturam: o trabalho e a religião. O que aqui se apresenta é uma selecção de imagens a partir desses elementos: dia e noite, festa e trabalho, interior e exterior, expostos com o propósito de perpetuar a memória de Hangares.
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