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Inauguração: Ana Vieira

Inauguração: Ana Vieira

Dar a ver o não-ver. Esse é outro impulso do trabalho de Ana Vieira. Para isso, a artista levanta obstáculos, esconde, impede o acesso e a visão clara - e faz cair aqueles véus que transporta- mos em forma de pré-conceito optimista e ilusório da visão-total: acreditamos, sem pensar, que vemos facilmente. De que basta abrir os olhos para ver. A obra de Ana Vieira ergue, assim, um muro contra a iconocracia contemporânea. E por isso aproxima-se, passo a passo, da “in-visi- bilidade”, da exigência de um esforço e utilização de mediadores e dispositivos de optimização da visão: por exemplo, a lupa. Parece indicar-nos: ver é muito difícil. E os espelhos que usa em algumas obras, ou os obstáculos que nos levanta, as interdições e a exigência de mobilidade e desvios, são permanentes reveladores da dificuldade de ver. Do esforço necessário para aprender a ver. E de uma lição que, com as obras da artista, podemos aprender: não vemos apenas com os olhos, mas com o corpo todo. Isso fica claro em Corredor: um espaço de vazio moldado, arquitectado, para atravessar. Um caminho iniciático. Uma entrada, uma passagem, uma saída. Sem se ver, logo, o fim. Nele toma-se consciência do corpo em relação com o es- paço mutante, e fica clara a importância do corpo em toda a obra desta artista, que nos obriga tantas vezes a rodear, a circular, a deambular em redor das suas obras, sem podermos entrar. Só com o corpo todo vemos o mundo.

Paulo Pires do Vale
(excerto de "Ana Vieira: Sair")


Ana Vieira nasceu em Coimbra, em 1940. Viveu e trabalhou em Lisboa, onde faleceu no início do ano de 2016.

Das exposições individuais destacam-se “Ambientes”, Galeria Quadrante, Lisboa, 1968 e 1971; “Ocultação/Desocultação”, 1978 e “Corredor”, 1982, Galeria Quadrum, Lisboa; “Janelas”, Fun- dação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1977, e 2004; “Ana Vieira, Exposição Antológica”, Funda- ção de Serralves, Porto, 1999; “Close Up”, Galeria Graça Brandão, Porto, 2004; a instalação “Casa Desabitada”, produzida pelos Artistas Unidos apresentada em Lisboa e no Porto, 2004; “Muros de Abrigo”, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa e Mu- seu Carlos Machado, Açores, ambas em 2011 e “Inquietação”, Galeria Graça Brandão, Lisboa, 2014.

Das várias exposições colectivas em que participou, em Portugal e no estrangeiro, destacam- se as de Roma (Galleria Nazionale d’Arte Moderna), Paris (Centre Culturel Portugais e Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris) e Belgrado (Museu de Arte Moderna).
Em 1977, participou na “Alternativa Zero - Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contem- porânea”, em Lisboa. Esteve representada nas exposições “Anos de Ruptura - Uma Perspectiva da Arte Portuguesa nos Anos 60”, Palácio Galveias, Lisboa, 1994; “Antes y Después de la Re- volución - Vanguardias del Arte Portugués de los Anos 60 y 70 en la Coleccion de la Fundacion de Serralves”, Madrid, 1999; “CIRCA 1968”, a exposição inaugural do Museu de Serralves, 2000; “Moradas”, Fundação Carmona e Costa, 2008; “El Arte del Comer, de la Naturaleza Muerta a Ferran Adrià”, Barcelona, 2011; “The problem with having a body is that always needs to be somewhere”, The Approach, Londres, 2017 e “Women House”, primeiro no La Monnaie de Paris, 2017 e posteriormente no National Museum of Women in the Arts, Washington, 2018.
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