22:30 até às 23:30
Citemor 2018 | João Fiadeiro // I am (not) here

Citemor 2018 | João Fiadeiro // I am (not) here

JOÃO FIADEIRO // I AM (NOT) HERE
Sex 3 Ago 22:30 // Casa Catela, Montemor-o-Velho

Mais informações em www.citemor.com

I am (not) here de/com João Fiadeiro
a partir de I am here (2003) de João Fiadeiro que, por sua vez, foi construído a partir do imaginário da artista visual Helena Almeida .

“Olhamos para o corpo e o corpo termina de repente nos pés, nas mãos. Acaba ali. Não há mais nada à frente, parece uma escarpa de um rochedo sobre o mar. De repente, termina.”
Helena Almeida

INTRODUÇÃO
I am (not) here é uma performance-instalação que adapta o espetáculo I Am Here de João Fiadeiro para um espaço não convencional, sem frente definida, onde o espectador se movimenta e relaciona com a apresentação a seu ritmo e a seu modo. Nesse sentido, I am (not) here aproxima-se de forma mais explícita do território que lhe deu origem: o das artes plásticas e da performance art, onde espectador e obra quase se cruzam, quase trocam de lugar. I am (not) here continua para lá da apresentação que lhe dá corpo. A sua presença manifestar-se-á através dos restos, rastos e traços resultantes da performance.

APRESENTAÇÃO
Em 1999 o Rui Catalão começava um texto que lhe encomendei para o livro DOC.LAB (que documentava a experiência de um laboratório de investigação artística que organizei no Lugar Comum) da seguinte forma:

“A primeira vez que me apercebi da relação entre a realidade física e virtual, tinha onze anos. Estava perdido nas ruas de Gibraltar e um casal de meia-idade britânico, igualmente desnorteado, perguntou-me onde ficava uma rua qualquer. Atrapalhado por ter sido confundido com alguém da população local, e com a ajuda do famélico inglês que tinha aprendido no primeiro ano do preparatório, esquivei-me com a resposta “I am not here”.”

O texto prosseguia na descrição das suas impressões e sensações em relação ao trabalho que desenvolvíamos, mas esta pequena história nunca mais me saiu da cabeça, por descrever de forma tão perfeita o que sinto tantas vezes, desde sempre, mesmo em adulto (sobretudo em adulto). 

Mais tarde, quando surgiu a oportunidade de criar um trabalho a partir da obra de Helena Almeida pensei dar-lhe o título de “I am not here” e só não o fiz porque, numa daquelas coincidências significantes que acontecem quando os astros estão todos alinhados, fui informado (pela própria Helena) que a série de imagens em que estava a trabalhar para a Bienal de Veneza se chamaria “Eu estou aqui”. Achei essa coincidência tão forte que decidi deixar cair o “not” (um pouco como o Rui deixou cair o “from”) e aceitar a co-incidência que me cai nos braços. Mais tarde arrependi-me por sentir que o “not”, a meio da frase, corresponderia melhor ao trabalho de evocação e convocação (e não de ilustração ou representação) que tinha decidido fazer de relação com o imaginário da Helena Almeida. Mas já era tarde demais porque o trabalho ganhou vida própria e nunca mais pensei nisso. Até que 10 anos mais tarde surgiu a oportunidade de fazer uma performance-instalação a partir de “I am Here” (para o Colégio das Artes em Coimbra, em 2015, a convite do Delfim Sardo) e não hesitei um segundo em recuperar o “not” entretanto caído, colocando-o agora em parênteses (lugar de onde nunca saiu). 

Entretanto, em mais uma daquelas coincidências sem explicação, quando estava à procura de material para escrever sobre este trabalho, encontrei, no fundo do baú de um disco rígido, numa pasta com o título “coisas para arrumar”, um outro texto que o Rui Catalão, agora sobre “I Am Here” e que, por uma razão que não me recordo, nunca chegou a ser publicado. Achei que o tom e ambiente que descreve se adequava de tal forma ao “I am (not) here”, que decidi usar uma parte para apresentar esta performance-instalação (o “not” é da minha autoria):

“Em “I Am (not) Here” não há qualquer jogo com a localização ou a representação do corpo, mas antes com as formas (materiais) que ele produz, através da fotografia, do desenho e da sombra. Ao encenar a finitude do corpo (morfológico), cativo das suas fronteiras dentro da realidade, João Fiadeiro sublinha a emergência do (corpo do) trabalho, como se entre vida (presença) e morte (ausência) não existisse nem história, nem drama, nem tensão, mas apenas linhas marginais, que se cruzam, entrelaçam e desfazem no vazio.”
João Fiadeiro

Sobre Helena Almeida
(...) Helena Almeida sempre construiu imagens, mesmo quando ainda não as fazia como artista. A partir dos 10-11 anos, posava durante longas horas para o seu pai, o escultor Leopoldo de Almeida: «o corpo não existe e o meu corpo era também como se não existisse. Eu estava ali, parada. Era um modelo, não podia ter frio ou calor.» Uma presença tão requisitada pelo olhar do espectador com o passar do tempo criava dentro dela própria uma sensação de desaparecimento, de impertinência. O corpo de Helena Almeida era já naquela altura uma imagem, pela insistência na pose e pela exaustão que essa insistência provocava. O corpo como imagem tomava-se permeável com o espaço do atelier, com a temperatura e com a gravidade, mas o corpo continuava a existir. O que é tão comum a todos nós transformou-se então e para sempre num motor de perplexidades: como é que um corpo termina de uma maneira tão derradeira?
Maria Filomena Molder
(in Dramatis Persona: Variações e fuga sobre um corpo)

(..) Para quem se interessa por questões do processo criativo, as obras de Fiadeiro e Almeida são passagem compulsiva (...) ambos usam o corpo como a única ferramenta que temos a certeza de possuir e em ambos parece evidente a necessidade de construir objetos ficcionais sobre a natureza e o processo de elaboração do que nos é apresentado como trabalho final.”
Delfim Sardo

Criação e interpretação: João Fiadeiro
Montagem do espaço cénico e operação de luz: Paulo Morais
Fotografias em tempo real: Katia Sá
Residência técnica: Teatro Viriato
Agradecimento: Rui Xavier, Carolina Campos e Letícia Skrycky

www.re-al.org
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