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Rua Guilherme Braga, 40-62 - Armazém 22, Espaço Sacramento (ao Cais de Gaia) - Vila Nova de Gaia Ver website
Numa noite, talvez em véspera de Natal, um homem fala da sua mãe. Há um passado complexo que foi fazendo um presente estranho. “O chão era de terra escura e com um cheiro forte. Eu e os meus irmãos dormíamos num colchão colocado em cima de um tapete em cima do chão de terra. A nossa mãe deitava-se num colchão mais ao lado. As noites eram enormes, intermináveis, fundas, longas, profundas como uma água no poço escuro onde temos medo de colocar a mão, o braço, e nunca mais ter fundo ou sermos mordidos do outro lado por um bicho mau que nos segue para o afogamento. As noites eram estreladas. Várias vezes acordei com os gemidos da minha mãe e do homem em cima dela. Uma vez ele dobrou a sua sombra e disse-lhe sua puta. Foram essas noites que confirmaram a descoberta que havia feito do silêncio em mim. Em mim e nos meus irmãos. O respirar acordado deles. Os nossos olhos muito abertos espetados no tecto do palheiro. Os nossos olhos muito fechados.”
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