SOPRO “O lençol terra e o lençol céu beijavam-se com tanto desejo que às vezes não se percebia que eram 2 lençóis, colavam-se um ao outro e entreteciam-se como uma única membrana. Certo dia aconteceu um sopro que sacudiu os lençóis e fez aparecer a evidência de um espaço ondulante entre o céu e a terra. Há quem diga que é nesse espaço móvel que os corpos, humanos e outros, praticam as formas que vão sendo no empurrar-puxar, agarrar-largar, dar-receber, espiralar, enrugar, deslizar, vibrar, migrar. Será nesse adensamento intermitente da matéria que se vai desenhando a especificidade de cada forma de vida.” Sofia Neuparth SOPRO é um estudo do nascer do gesto que traz ao encontro a alegria de ser movimento! Não se é corpo sozinho. O prazer de esticar um braço, rebolar, olhar para o céu, tocar o ar, sentir a terra a beijar os pés…dançar. Há uns anos fui descobrindo que o movimento pode fazer-se gesto e que a dança poderia ser a poesia do gesto. Cada forma que se vai fazendo forma, dança a dança que dança…assim possa…e ninguém sabe o que pode um corpo! Seja corpo água, pássaro, luz, nuvem, flor, erva, som, insecto, girafa, peixe. Nunca ressoou em mim a tristeza dos humanos (muitos deles supostamente dedicados à “dança”) quando expressam a incapacidade de “criar” um momento dançante… não que em Sofiez a dança se faça linda e brilhante a todo o momento mas a alegria, o amor de poder dançar, o agradecimento de poder dançar é uma força imensa! Acompanhei ao longo do caminho da existência vidas complicadas em que o movimento não podia mesmo aparecer, em que o corpo físico se viu enjaulado numa imobilidade cruel. Bem dentro do meu coração acompanhei os últimos anos de quem amo muito, alguém que em criança era selvagem e aventureira e atrevida, alguém que se foi fechando numa concha de não movimento até que qualquer gesto se tornou impossível…e nós humanos aqui a desperdiçar a vida, a inventar complicações que justifiquem a nossa falta de girar, gritar, saltar, existir! O SOPRO é um grito, um sussurro, uma canção, um beijo, um sopro de amor de existir…não é uma boa dança ou uma dança feia ou…é dança, com a companhia de quem vibra lado a lado, a Margarida na atmosfera e o Bruno na música, e sabem porque danço? porque posso! E que o mundo dance! que a dança dance! que o corpo possa! Sofia Neuparth Sofia Neuparth Tem um percurso singular no seio da Arte Contemporânea em Portugal. Deu forma a um espaço próprio de investigação artística que sustenta as suas práticas nos estudos do corpo e do movimento. É o entendimento que tem do corpo como acontecimento em relação que determina todo a sua acção, quer a nível do trabalho de formação que desenvolve há 34 anos, quer em relação à estrutura profissional que co-criou e dirige – o c.e.m, do Festival que programa – Pedras d´Água , da intervenção politica que realiza e das criações que apresenta. O seu percurso tem sido acompanhado por artistas e teóricos como Steve Paxton, Bragança de Miranda, Peter Pal Pelbart, Christine Greiner ou Helena Katz que muito têm contribuído para a divulgação e inscrição dessa singularidade e da sua pertinência na contemporaneidade. Na sequência do exercício de dançar teoria onde se dedica à ligação entre o trabalho de corpo e o estudo da biologia e da filosofia emergiram criações como “mmm-um poema físico”(2005), “práticas para ver o invisível e guardar segredo”(2010), “ 1 ou 2 contentamentos comedidos”(2011) ou “pátio” (2012, 2013, 2014, 2015 e 2016). FICHA TÉCNICA: SOPRO é um Solo de dança de Sofia Neuparth Atmosfera em presença de Margarida Agostinho Música de Bruno de Azevedo Produção: c.e.m - centro em movimento, Cristina Vilhena Imagens do projecto: Play Bleu