A partir de Tito Andrónico de William Shakespeare Texto de Cláudia Lucas Chéu Direcção de Marco Paiva Desenho de luz de Nuno Samora Espaço Sonoro de Digitópia: José Alberto Gomes, Óscar Rodrigues, Tiago Ângelo Fotografia de Paulo Pimenta Com: Albano Jerónimo, António Coutinho, Andreia Farinha, Ana Rosa, Carolina Sousa Mendes, Carlos Jorge, Filipe Madeira, Hugo Fernandes, João Pedro Conceição, Joana Honório, Nelson Moniz, Rui Fonseca, Ricardo Peres, Tomás Almeida. Tito Andrónico, o texto que conhecemos como original de William Shakespeare, aparece como sendo a sua prima tragedia. Para nós é o primeiro encontro com o autor mais célebre da dramaturgia mundial de todos os tempos. E é a crueza da escrita de Shakespeare neste seu primeiro texto trágico, que de facto nos interessa. Provavelmente porque é nesse ritual iniciático que também nos encontramos ou pelo menos, passados 32 anos de trabalho, é ai que queremos estar. Este Tito Andronico conta-nos uma história sobre o desejo de Poder e nessa história, conseguimos vislumbrar o que profeticamente são as consequências desse desejo até aos dias de hoje. É com a história de Tito Andronico que aproveitamos para dizer que não queremos o poder, que não é isso que nos move. Não procuramos no entanto traçar uma linha moral, muito pelo contrário. Procuraremos sim, uma certa amoralidade, o que nos deixa de imediato numa situação de perigo. Mas também não procuraremos espelhar nos sucessivos assassinatos descritos na peça de Shakespeare, uma alienação do real como no Calígula de Camus. Na verdade, não procuramos nada. Nem sequer procuramos a proximidade com o texto de William Shakespeare (até porque a primeira coisa que fizemos foi entrega-lo a outro dramaturgo para que o esquartejasse) Para nós a sangrenta tragédia de William Shakespeare é só um motivo, para contar a nossa historia, acompanhados por um grupo de músicos que tentarão contar também a sua historia e um dramaturgo que tenta escrever na sua historia pessoal e profissional, umas quantas linhas sobre a sua opinião acerca de Tito, da ideia de Poder, de uma companhia de Teatro que não quer o Poder para nada, porque não saberia o que fazer com ele e de um sistema que nos acolhe porque nós não sabemos o que é o Poder. Enquanto tudo isto se passa, nós continuaremos por ai. E quando menos esperarem nós trataremos de vos cortar a garganta. É mentira. Não cortamos nada.