Café-Teatro "Solilóquio de uma Atriz" | Oficina de Teatro de Almada M/12 23 e 24 Fevereiro Sexta e Sábado 23h30 Teatro-Estúdio António Assunção Solilóquio de uma atriz; solilóquio para uma atriz – de um título de um poema integrando uma série que abordava a preparação dos atores, principalmente a mulher de Bertolt Brecht, Helen Weigel, nos camarins e bastidores, acabou por constituir uma seleção de poemas e canções do pobre B. B., com base nos «Hauspostille», de 1927, que adotavam a forma das baladas populares (algumas delas violentas, como a da infanticida Maria Farrar), na poesia do exílio, feroz no seu ódio e ternura, com ecos de pregões de rua e palavras de ordem gritadas em manifestações, a maior parte dela introduzida clandestinamente na Alemanha nazi, e também na significativa influência da cultura chinesa na obra Brechtiana, em particular o poeta Po-Chu-Yi. Na forma épica de teatro que Brecht defendia e teorizou, «o espectador é colocado diante de alguma coisa» em que «cada cena vale por si» numa «construção articulada» onde, em linguagem de signos, os gestos, recortados, decompostos, evidenciados, são opções e se sucedem as transformações realizadas à vista dos espectadores; perante o olhar que se pretende não alienado do público, neste solilóquio desfilam personagens femininas: a atriz, a prostituta, a mãe, a viúva de guerra, a agitadora política, a velha astuciosa em desamparo… E estas personagens narram. Contam de si e dos outros já que «o ser social determina o pensamento». O disfarce revela os sinais profundos do que dantes era mascarado. A quem aqui representa é lançado um apelo: mostrai que mostrais! Bernard Dort observava lucidamente, num ensaio sobre a dramaturgia brechtiana, que «cabe ao espectador refletir e agir fora do teatro. A verdade não está no palco nem na sala de espetáculos mas na vida real. O teatro remete o espectador à sua realidade. Cabe a nós compreendê-la e, se possível, transformá-la. Semelhante tarefa não cabe ao teatro. Que ele se contente, por seus próprios meios, em nos afirmar a necessidade: já será muito». E é por isso que, tal como a Shen-Té da «Boa Alma de Tsé-Chuan», a actriz aqui termina com uma interpelação ao público, desafio directo que lhe é lançado olhos nos olhos: nestes tristes, escuros e angustiantes tempos, há-de haver alguma solução. Tem de haver! Precisa de haver!... FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA Autor: Bertolt Brecht Dramaturgia: José Carlos Faria e Isabel Leitão Figurino: José Carlos Faria Direção de Atores: Fernando Rebelo Encenação e Interpretação: Isabel Leitão Produção: Oficina de Teatro de Almada