encenação MARIA JOÃO LUÍS com TERESA SOBRAL, IVO ALEXANDRE, JOSÉ LEITE, JOÃO SABOGA, LÍGIA SOARES, EMANUEL ARADA, HELDER AGAPITO, CATARINA RÔLO SALGUEIRO, BEATRIZ GODINHO e RUI GORDA como Iakov TEATRO CINEMA DE PONTE DE SOR 1 A 11 DE FEVEREIRO 5ª FEIRA A SÁBADO ÀS 21H30; DOMINGOS ÀS 16H00 INFO E RESERVAS 967 710 598 teatrodaterra@gmail.com a partir de Homenagem aos nossos empregados de Mickael de Oliveira, A Gaivota de Anton Tchékhov e Esteiros de Soeiro Pereira Gomes cenografia ÂNGELA ROCHA vídeo INÊS OLIVEIRA movimento PAULA CARETO desenho de som JOSÉ PEIXOTO assistência de encenação CATARINA RÔLO SALGUEIRO direcção de produção e luz PEDRO DOMINGOS co-produção TEATRO da TERRA e TEATRO DA TRINDADE INATEL M/14 “A ideia de trabalhar o neorrealismo, nasce de uma vontade minha, pois tendo sido nascida e criada na lezíria ribatejana, conheci bem de perto os protagonistas das obras de Soeiro e Redol. Passados muitos anos, senti a necessidade de “voltar à terra”, à minha infância e adolescência. Ao mesmo tempo, nessa viagem de retorno cruzei-me com este que foi o movimento neorrealista português - A luta dos pobres. As gentes da lezíria, os operários da fábrica em Alhandra, os avieiros, os esteiros, os telhais, os campinos, os capatazes, os latifundiários, os ciganos, etc.; uma comunidade socialmente rica e digna de análise, como o fizeram tão bem Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol (Alhandra e Vila Franca de Xira). Em Almada, começámos esta viagem pelo neorrealismo com “O Cravo Espanhol” de Romeu Correia, que levámos a Ponte de Sor, Castro Verde, Setúbal, Alverca, Seixal e Leiria; passamos em “Gândara” de Carlos de Oliveira e o seu “Finisterra” e acabamos em Alhandra nos telhais dos “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes. A adaptação pretende trazer esta obra para a contemporaneidade, transportando as crianças trabalhadoras dos telhais e jovens operários para os dias de hoje. Quem são hoje os filhos dos homens que nunca foram meninos?” Maria João Luís “Temos sido espectadores alheados da malícia dos tempos, do vazio daquilo a que raramente damos nome. Mas tem nome. Esta encruzilhada de episódios nos valores morais dos homens. Esta dúvida de berço: o que vim aqui fazer? Não sei. Todos temos coração. Temos também nem que seja uma confusão pequenina do que podemos fazer; ou não. Podemos duvidar do que se faz depois da morte, mas há sempre em nós uma vontade de explicar, de sentir a chuva no ombro do outro. Ou não? Ou será que em cada passo somos abandonados pela melancolia dos afetos e pelo cerco constante das perguntas? Onde é que eu pousei a minha morte? Onde é que estou? Sou um escravo, alimento-me de jornas. E cresço na minha vontade de ser montanha, de ser um tempo em que os homens mexem os esqueletos metálicos com o punho erguido a desenhar a liberdade. 1 de novembro, dia de todos os santos, dia de todos os pobres’, dia de todos os lixos, dia de todas as fomes. Onde está o pão, por Deus? ... Sou uma burguesa, uma trabalhadora à jorna, uma criança, uma escrava milenar, a mãe da terra. Sou tudo isso à espera que apareça um tradutor que me explique como é que sou todas essas coisas. Sim, coisas, essas coisas, certa de que todas elas são, em absoluto, uma única: sou pessoa, uma pessoa com a dependência da Terra num corpo que é o meu. Um corpo não escolhido por mim, um corpo sólido que nem sequer sei se mereço. Já repararam hoje nas vossas mãos? Já pensaram que poderiam pertencer a outro corpo? E os que dominam o céu e a terra, já pensaram que domínio será esse? Um cavalo ou uma besta? Sois umas bestas! Sois uns cavalos! Sois umas cavalgaduras que vos contradizeis a toda a hora. Tenho consciência dos meus dedos, das minhas mãos, dos meus motivos. E os outros? E dos outros? Onde estão eles? Serei também eu um deles? Sou um deles! Tenho a pele queimada pelo fogo na minha orelha esquerda. Tenho o meu braço estilhaçado por ouros das índias ausentes. Tenho um filho na barriga da terra. Trata-se um homem pelo que não consegue desligar da vida, nunca. Trata-se um homem pelo nome!” Maria Quintans