22:05 até às 00:15
À Boca da Noite (performance.poesia.música)

À Boca da Noite (performance.poesia.música)

Luis Beirão & Vítor Hugo Moreira - são anfitriões de uma sessão especial de poesia e música. Aberta à participação de todos. À Boca da Noite, porque por mais escura que seja havemos de amanhecer... Noites alternadas na 5ªQuarta de cada mês (quando o mês tem mais que 4 Quartas) entre a Casa Bô (Rua do Bonfim, nº356 - Porto) e a Casa da Madeira do Norte (Rua da Torrinha, nº55-Porto). Desta vez, na Casa da Madeira. Mais uma (i)realidade Olimpo IRealizações Culturais, numa parceria entre as noites da Casa Bô e as da Casa da Madeira do Norte!

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A NOITE DISSOLVE OS HOMENS

A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.

AURORA, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o húmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contacto de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio..
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HAVEMOS DE AMANHECER.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces,
AURORA.

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Carlos Drummond de Andrade
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