Datado de 1982, o Quarteto de Cordas que dá início a este programa pertence ao último período criativo de Fernando Lopes-Graça, no seguimento da Revolução dos Cravos e da composição de obras como as Canções Heróicas ou o Requiem: pelas vítimas do fascismo em Portugal. Na mais respeitosa reverência pela tradição clássica, dispõe os quatro andamentos numa animada «conversa» entre violinos, viola e violoncelo – de iguais para iguais. No todo, espelha exemplarmente o desígnio intelectual e estético que orientou a vida do compositor tomarense. Resulta de um esforço de síntese entre uma musicalidade com raízes na tradição popular e os recursos mais sofisticados da música erudita. Ambas coincidem, deste modo, numa mesma pauta, sublimando-se em tensão dramática um confronto de universos distantes, na eterna busca de uma coexistência harmoniosa idealizada. Tudo discorre na desenvoltura técnica e artística de um grande mestre do seu ofício. Em sentido contrário, o Quarteto de Cordas N.º 1 de Paul Hindemith data do início de carreira, em 1915, quando ainda não tinha completado os vinte anos de idade e era estudante do Conservatório em Frankfurt. Ao longo da vida, Hindemith viria a compor mais seis Quartetos de Cordas, mas nunca chegou a ver publicado este seu primeiro. Genericamente, é uma composição que se inscreve numa tradição romântica tardia, mas com laivos de experimentação que denunciam o espírito inquieto do compositor alemão. Destaca-se o contraste entre a cadência fúnebre do Adagio e as articulações esfuziantes do Scherzo, ambos compostos já no início da Primeira Grande Guerra. As leituras extramusicais são confiadas ao critério do ouvinte. COMPOSITORES EXILADOS - Lopes-Graça, Hindemith Solistas da Metropolitana | Temporada Música de Câmara F. Lopes-Graça, Quarteto de Cordas N.º 2, LG 87 P. Hindemith, Quarteto de Cordas N.º 1, Op. 2 José Pereira e Joana Dias, violinos Joana Tavares, viola Catarina Gonçalves, violoncelo #entradalivre [créditos da fotografia: (c) Joel Santos - www.joelsantos.net]