Uma parceria 33 Ânimos e Americantiga Ensemble. Entre dois mundos propõe um diálogo filosófico durante um encontro fictício, algures no “atemporal” século XVIII, entre um índio sul-americano, educado pelos padres jesuítas nas Missões dos territórios em disputa pelas coroas espanhola e portuguesa e um jovem rei português. O índio viaja para Lisboa a fim de ser mostrado ao monarca como exótico exemplo da educação musical utilizada no processo catequizador e humanista promovido pela Ordem de Cristo, o índio surpreende ao demonstrar simplicidade e erudição, tendo a música como ponto de contacto entre a religião e as diferentes culturas e visões do mundo das personagens envolvidas. É a música que une os dois num consenso, é através da música que os idiomas se aproximam, é com a música que o rei e o indígena vivem aquele momento em que ninguém é superior em relação ao outro, um momento em que a selva e a cidade estão no mesmo espaço. A música apresentada, não condicionada a uma organização linear ou cronológica, refletirá o teor das discussões e servirá como ilustração sonora dos mundos que se descrevem e compartilham. Iniciar-se-á pelas raízes comuns do repertório levado pelos jesuítas nas suas Missões na América do Sul, com aquela que também se manteve importante na Capela Real de Lisboa, como a obra de Giovanni Pierluigi da Palestrina, compositor máximo da Contrarreforma em Roma. Serão também apresentadas obras de compositores portugueses ligados aos jesuítas como os vilancicos portugueses dedicados a São Roque e São Francisco Xavier de Frei Miguel da Natividade – inéditos depositados nos arquivos de Évora, os quais cumpriam função doutrinária e evangelizante semelhante às transliterações de música europeia em língua indígena como Hanacjpachap cussicuinim em Quechua e Zoipaqui Sancta Maria em Guarani. Finalmente, com certa liberdade poética e cronológica, será proposto um paralelismo entre as obras da Capela Real portuguesa como as de António Teixeira, Carlos Seixas e Giovanni Giorgi, com as de compositores presentes nos arquivos musicais das Missões, como as de Giovanni Bassani, Roque Ceruti e Domenico Zipoli, este último radicado em Córdoba (atual norte da Argentina), de onde escrevia e enviava música para as demais Missões. Os músicos do rei ensaiam um concerto, os cantores aquecem a voz, o índio reconhece o repertório comum às duas realidades musicais assim como apresenta ao rei as suas próprias habilidades e conhecimentos. No final, aplaude-se a música pelo seu dom de aproximar culturas, de louvar a palavra e as ações divinas. Texto do maestro Ricardo Bernades APRESENTAÇÃO 12 novembro 2017 | Convento São Pedro de Alcântara 29ª Temporada de Música de São Roque Direção musical | Ricardo Bernardes Encenação | Ricardo Cabaça Sopranos | Sara Afonso e Susana Duarte Altos | Paulo Mestre, Arthur Filemos e António Lourenço Menezes Tenores | Carlos Monteiro e João Pedro Afonso Baixos | Tiago Daniel Mota, Pedro Morgado e Calebe Barros Violinos | Tera Shimizu e Stephen Bull Viola | Maria José Laginha Violoncelo | Raquel Reis Baixo | Marta Vicente Contínuo | Sérgio Silva Teorba | Rui Araújo Oboé | Luís Marques Trompete barroco | Hugo Santos Atores | Miguel Cunha e Victor Yovani Produção executiva | Carolina Caramelo