23:45 até às 06:00
Stardustballs: Freddy K x Cem x Dexter

Stardustballs: Freddy K x Cem x Dexter

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Freddy K

Na vida fazem-se escolhas por uma série de motivos. Algumas são forçadas e outras racionalizadas. Há as escolhas por impulso e as escolhas por acaso. E depois há escolhas que se fazem por compulsão, porque algo na nossa própria natureza e alma nos ordena a tal escolha. Freddy K escolheu ser um activista do techno porque o techno lhe corre nas veias e por isso, não tinha alternativa que não sê-lo.

E Alessio Armeni está desde o início dos anos 90 a contagiar quem contacta com esse seu activismo, como um vírus. Ou aliás, como um Viruz, assim mesmo com “Z” no fim, que era o nome do programa de rádio que teve à época em Roma e que foi de tal forma influente na cena local, que se tornou nome de um movimento abrangendo artistas e espaços da cidade. Porque na verdade, se por entre os muitos roteiros turísticos que se fazem em Roma, alguma vez se fizer um dedicado ao techno oriundo da cidade, vai ter de ser feita referência a Freddy K em cada local de passagem. Esteve na fulcral loja de discos “Remix”, onde todos os grandes DJs romanos de techno se cruzaram em algum momento. Editou na primordial ACV com Robert Armani ou Leo Anibaldi. Lançou a Elettronica Romana, onde pioneiros do techno hipnótico italiano Donato Dozzy ou Giorgio Gigli editaram alguns dos seus primeiros trabalhos. Enquanto isso, adquiria estatuto de lenda com os seus DJ sets tendencialmente em formato maratona e com uma filosofia de “techno visto a 360º” que mantém até hoje, depois de se ter mudado de Roma para Berlim, e que tanto abrange obscuros nomes em ascensão como clássicos rave, synth-pop e electro. Bagagem suficiente para ser escolha frequente para encerrar os fins de semana no Berghain com sets a exceder as 10 horas de duração. Em claro desacordo com o facto de um dia ser limitado a 24 horas, Alessio tem ainda uma agência de gestão de editoras (K1971) e uma editora (Keys).

Ele é por isso, mais do que um DJ ou produtor, um bastião dos ideais do techno que faz da pista de dança o seu campo de protesto e reivindicação, apresentando uma lista de exigências curta, directa e inegociável: ele luta pelo nosso direito a fazer a festa. Crentes também nós neste direito universal e inalienável, juntemos a nossa voz à voz de Freddy K.


CEM

Se bem que a cena underground necessite de certos nomes de DJs e clubs estabelecidos para atingir uma determinada visibilidade e massa crítica que lhe permitam um mínimo de auto-sustentabilidade, são os DJs e promotores de menor dimensão e maior vanguardismo, que a permitem evoluir. Numa cena como a berlinense, por exemplo, podemos dizer que um espaço como o Berghain será o seu músculo e rosto, mas eventos como as festas Herrensauna são o seu sangue e o seu nervo.

CEM, originário de Viena, Áustria, é um dos DJs residentes das Herrensauna, um evento regular em Berlim inspirado no contexto das saunas masculinas, que se constitui como um espaço seguro para party-goers de todas as orientações, sem limites ou regras que não as de sermos quem somos e dançarmos ao som de artistas ainda pouco conhecidos mas em ascensão. Inicialmente organizadas num espaço mais semelhante a uma masmorra escura e cheia de recantos secretos, tornou-se um dos eventos mais procurados e cobiçados da cidade, expandindo já a sua filosofia de máxima liberdade e hedonismo sem filtros a espaços tão emblemáticos da história do techno como o Tresor, ou a showcases em eventos tão influentes como o Berlin Atonal. Pele nua, suor, calor e techno são os motes de uma das expressões mais puras que podemos encontrar actualmente das emoções e desejos que moveram os primórdios da dance scene : sexualidade, experimentação e auto-expressão positiva e afirmativa.

A visita do ousado, aventureiro e prodigioso CEM é um vislumbre do que para muitos pode parecer sonho e utopia, mas que na verdade depende apenas da entrega da nossa mente e dos nossos corpos para se tornar real. Ainda que seja por uma noite, o techno faz-se manifesto total de libertação.

- Nuno Mendonça


\\ ENGLISH //


Freddy K

In life we make choices for a bunch of reasons. Some are forced and some are thought-out. There’s impulse choices and choices by chance. And then there's the choices you make because you feel compelled to do them, because something in our very nature our soul orders us to make them. Freddy K chose to be a techno activist because techno is what runs in his veins and because of that, he really had no alternative other than being so.

And since the early 90s, Alessio Armeni has been spreading his activism like a virus. Or rather, like a Viruz, just like that, with “Z” in the end, the name of the radio show he kept at the time in Rome and which became so influential on the local scene, that it also turned into the name of a whole movement bringing together artists and events in the city. Actually, if amongst the many tourist tours you can take in Rome, they create a techno tour, mention of Freddy K will have to be made at basically every stop. He was in the crucial “Remix” record shop, a place where all the important roman DJs crossed paths at some point. He released music in the primordial ACV label along Robert Armani and Leo Anibaldi. He helped put together the Elettronica Romana label, where hypnotic techno pioneers like Donato Dozzy and Giorgio Gigli released some of their first records. Meanwhile he acquired a legendary status with his marathon DJ sets based on a “techno in 360º” philosophy which he keeps today, even after moving from Rome to Berlin, and that can encompass obscure upcoming names and rave classics, synth-pop and electro. More than enough baggage to have become a frequent choice for Berghain closer, with 10-hour-plus sets being a common thing. Still in obvious disagreement with a day having only 24 hours, Alessio also maintains label-management agency (K1971) and a record label (KEYS)

He is, then, more than a DJ or producer, a bastion of techno’s ideals, who turns the dancefloor into his field of protest, presenting a short, concise and non-negotiable list of demands: he is fighting for our right to party. Believers that we are in this universal and inalienable right, we join voices with the voice of Freddy K.


CEM

Even though the underground scene needs DJs and clubs that become established names, in order to achieve a certain degree of visibility and critical mass that allows it to be somewhat self-sustainable, it’s the lesser known DJs and small promoters that form it’s forefront and allow it to evolve. In a scene like Berlin, for example, you can call a space like Berghain it’s muscle and face, but it’s small events like the Herrensauna parties that are it’s blood and nerves.

Originally from Vienna, Austria, CEM is one of the resident DJs at Herrensauna, a recurrent event in Berlin, which is inspired by the context of male saunas, and which positions itself as a safe space for party goers of all inclinations and orientations, without limits or rules other than being yourself while you dance to the music of lesser known names on the rise. Initially organized inside a sort of dark dungeon full of secret corners and hideouts, it has become one of the most sought after events in the city, and already expanding it’s ethos of maximum liberty and unfiltered hedonism, to emblematic spaces like Tresor or influential events like Berlin Atonal. Naked skin, sweat, heat and techno are the keywords for one of the purest expressions you can find currently of the emotions and desires that fueled the dance scene in it’s early stages: sexuality, experimentation, positive and affirmative self-expression.

We welcome the bold, adventurous and prodigious CEM as a glimpse of what may seem to many as dream or utopia, but which depends only on the surrendering of our minds and bodies to become a reality. Even if just for one night, techno becomes manifesto for total freedom.

- Nuno Mendonça
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