Traz um livro, uma poesia, um texto ... e a vontade de partilhar. O beijo o que corta a boca o vómito os seios descaídos A água a cair da montanha - Tu roubaste as minhas lágrimas - O beijo que corta a boca - Os criminosos tem sangue na boca - Porque roubaste as minhas lágrimas. - Estava muito escuro. - Posso olhar os teus olhos. - Gostas de histórias secretas. - Aquelas onde as mãos tocam o sexo das paisagens - Como acontece o orgasmo. - As árvores tem orgasmos - Que significa - São os lábios a murmurar. - Tens frio - Tenho medo - Medo... - Dos assassinos - Todos são assassinos - Os assassinos são frágeis - Mostra-me a boca - Não tem sangue. - Lábios que cortam são sensuais - Deita-te - Em que posição - Como um arame retorcido - Um contorcionista - Assim imóvel e triste como o palhaço do circo - O politico que escarnece de sua alma. - Muda de posição - Agora és uma pedra - Uma pedra - Sim dos teus olhos caem cal. - Cal branca - Sim muito branca - Agora estás muito quente. - Tens um revólver - Não. - Para que queres um revólver - Para te matar - Mas tu tens amor por mim - Matando faço renascer esse amor. - Estás louco. - Tenho sonhos como uma pessoa normal. - As pessoas normais choram - Choram e fazem sexo. - Vou sair deste espaço. - Gostava de espreitar pelo buraco do teu umbigo - Que coisas podias ver - Uma galeria de arte - De arte - Arte erótica talvez - Vou sair - Depois fecha a porta Dá-me o futuro - Com que gestos farás uma casa - Quem lá ira morar - O homem do saco - Aquele que falsifica dinheiro - Já o vi a cuidar das flores do jardim - Conhece ele o futuro - Saber isso é insuportável - Insuportável. - Sim saber o que virá - Adiantar o tempo é um ato de loucura - Previmos o tempo da chuva, podemos desenhar com os pés o caminho que vira - Os astros já denunciaram por onde iram correr as aguas - Agora estamos confiando numa paixão desconhecida. - Confiamos - Suavizamos o abismo. - Mostra-.me o mapa - Aquele onde ardeu a floresta. - Ardeu o corpo da Joana - O orgasmo luminoso das freiras. - Comprei um livro para colorir, tentei desenhar mas as mãos tremem. - Não importa os olhos tremem mas a natureza e uma linha perfeita - Perfeita?! - Uma linha perdida mas segura - Não há segurança o amor apenas garante que os sonhos mantém intacto o poder daquilo que acreditamos. - Em que acreditas? - Que o sol brilhara em todas as direções - Mesmo nos olhos das aves de agoiro - O sol é uma ave de agoiro - A chuva são muitas gotas de agoiro - Isso contamina os meus olhos e eles não conseguem chorar - Olha-me de novo! - Não quero olhar -Tens medo - Vou esconder-me - Escolhe uma cor - Preto - Toma uma caneca de leite - Meia de leite - O poeta pede meia gramática - Olha-me de novo! - Não repitas essa ordem - Não queres olhar para mim? - Não quero - Isso é necessário - Sim - E para que serve - Para te prender - Melhor usar as mãos - O corpo digital - Toca-me - Não quero -Como queres fazer o meu dia -Um passo na água - Água a ferver - Não - Escolhe uma cor -Já escolhi - A mesma cor - A mesma - Escolhe outra - Tenho inclinação para esta cor - Tenho - Despeja os olhos - O olhar - Isso. - Arruma as roupas - Não quero - Não podes ficar aqui - Quem decide - Não sei, tens lugar para ir - Delineei um mapa - Tem casas? - Também tem árvores - Consegues subir - Sim - Quando andas e abres os olhos que vejo eu - Não vês nada - E impossível - Com a ajuda de um guia posso perceber os lugares, as igrejas, o cheiro a sumo de laranja - Quando abres os olhos sei que eles são escuros - Um escuro muito vivo - Por falares assim deles fico com medo - Ontem subiste na árvore - Com algum esforço - Perdeste a qualidade animal - Tenho a de procriar - Quantas crias - Muitas - Todas crescidas como botões de rosa - Quando andas e abres os olhos vejo me muito pequeno no caminho - És o rei - Não sei - O animal de estimação - Sou aquele que pratica esgrima - Não consigo olhar - Tem muitos sangue - Vou subir na árvore - O meu olhar acelera - Da me um doce. - Guardarei um menos doce - Ontem havia muito barulho - É quando remexes o papel - Costuma ser o cartão - Onde vais com tantas toneladas?. - Vender - Quem compra? - os antiquários da sombra, vendem também amuletos. - As pessoas deitam a sorte ao lixo - É improvável encontrar diamantes mais provável encontrar pernas de frango - Ou ossos, para isso é preciso bons dentes - Uma solução para a falta de cálcio - Os velhos ja não tem paciência para remexer o papel - Nas redondezas não há um ferro velho - Nem tem um hospital - Há um a milhas - Fica longe - As famílias não gostam de ver morrer os seus velhos, a moderna engenharia ira construir depósitos para enterrar maquinas e velhos - Isso é um pesadelo - Por onde começar, pelo lixo? - Não - Nao quero cair - Como permanecemos de pé - O amor - Ainda é possível? - No lixo encontrarás uma manta, tu e o teu velho cão o - O velho cão morreu mas ainda sacode o rabo, quando o vento sopra é ele - Não vamos cair - Nenhum animal se despede - Sim só a criatura humana - Na verdade não sabemos, não estamos prontos - As despedidas são embaraçosas - Prova este vinho - Parece que sabe a terra . Foi plantado numa terra vermelha - O calor da terra dá aroma ao vinho - Mostra-me a boca, ainda tem sangue - Foi o duelo - Uma briga feia - Não consigo evitar ou levo os homens para a cama ou para o ringue - Gosto deste vinho, sabe a terra mas gosto - Costumo dar uns passos de dança - Se bebo e danço fico tonto - Nenhum animal se despede - O homem gato sim - Quem é esse - Um feirante que diz palavrões - Lutas-te com ele - lutei e perdi - Não gostas de perder - Prefiro cobrir-me de terra - Vais beber mais -Não vou beber mais, vou esquecer consigo esquecer - A rua está deserta, vou tentar não me despedir - Voltou o barulho - Agora são os ratos - Gastei o veneno - Tudo se gasta - Até o sono quando ficamos com medo de morrer - Agora os ratos também mexem o papel - Os velhos já não conseguem - Gastas-te o veneno nos velhos - Deitei no rio - O rio está velho, já não come as flor - Porque comeria o rio as flores - Porque anda magro - Nunca reparei - Andas distraído - Sempre o vi magro - Agora sofre de tuberculose - A galopante - Penso que não - Deita-te - Que queres - Fazer uma foto - Queres usar o meu corpo - Te comeria como o rio come as flores - As flores são fáceis de mastigar - Nunca comi flores, não tem muitas na cidade - Algumas crescem melhor no lixo - Essas cheiram melhor - A que horas vai ser o funeral - De quem? - Do vendedor de discos - O velho não ouvia, mas vendia discos - Os olhos também ouvem - Dá os pesares á família - Sim - Leva algumas flores para comer - Ha um velho que anda pelo teatro, o teatro de papel - O velho que cuida de uns bonecos - Julga que sao os seus filhos - Quando o teatro caiu eles morreram, foi um bombardeamento, as tropas do ditador ocuparam a cidade. - Porque se chama o teatro de papel - O teatro primeiro habita nos livros - Habita tambem nas cabecas. - Os personagens do teatro parece que vivem dentro de uma caixa de sapatos - A companhia teatro de papel e uma companhia pobre - O antigo director era um Judeu rico, ele e o velho que anda pelo teatro, a companhia agora tem outro director. - Um homem de meia idade, bem parecido, ouvi que fala varias linguas - Amanha apanharei o comboio - Onde vais? - Ao teatro moscovo - Vais te encontrar com alguem? - Com um pianista - Vais escrever sobre ele - Vou tocar as mãos dele - As mãos dos pianistas são magras - As deste são magras - Já o vi a tocar, quando era pequena a minha mãe levou me a um concerto dele, anos mais tarde andava fugido - Perseguição politica - Queria fugir ao serviço militar - Um desertor - Para a família um traidor, também para a família Soviética ele merecia a pena máxima - Mas escapou - Escapou - Como escapou - Talvez tenha voado - Não sei que aconteceu - Talvez uma historia difícil e banal - Terá sido salvo pelo amor - O toque do sino - A sinfonia da primavera - A revolução da primavera - Sim camarada - Viva a liberdade - Os nossos filhos iram festejar - O comboio vai partir - Não te despeças - Não vou quebrar o pacto - Serás fiel ao silencio O teatro está a dormir, o teatro a dormir é o teatro em ruinas - O sino está a tocar - Na casa do ourives vão cozinhar uma perdiz - O diretor do teatro costuma frequentar a casa - A vizinhança fala em namoro - As filhas do ourives tem simpatia por ele mas é só simpatia - Sempre que o ourives caça uma perdiz manda o criado tocar o sino. - Agora a caça não é permitida e a multa é pesada - O ourives faz muitos favores, o ourives tem o agrado dos juízes e dos famintos - Não se sabe de que lado está - Gosta de dormir confortável a moeda que recebe é a moeda que dá - Já o vi no teatro - Ele costuma estar na primeira fila - O teatro fica empestado com o cheiro dos charutos que espalha daqueles dentes forrados a ouro - As filhas dele também vão ao ao teatro, elas são um pouco surdas - Isso alimenta mexericos - O teatro de papel também vive da intriga - Frequentar o teatro dá estatuto - Os ricos do lugar vão mostrar a fatiota e os bigodes aparados - O ourives usa o teatro para promover o seu negócio - O pianista anda triste por causa de tudo o que sente é o piano que se comove por ele - Aquele teatro está a dormir, tudo parece feliz, ninguém precisa de pensar Por cima do teatro a vida deslumbrante e boémia dos corpos - O pianista frequenta a casa das meninas - A dona contratou - Antes tinha uma loja de antiguidades - Sim lembro me da rua onde a loja funcionava, não era muito frequentada, a policia costumava ir la, estavam a investigar, suspeitavam de pratica de abusos contra os bons costumes. A policia ostentavam uma braçadeira com as iniciais BM que quer dizer bons costumes. Agora os bons costumes frequentavam a casa das meninas e a dona subornava a policia dos costumes com um requintado e gratuito menu de carnes - O abade também ia lá - A dona se confessava a ele - Costumava o velho abade se fechar numa das divisões , parece que tinham negócios - Todos negociavam , como os teatros estavam a fechar a casa das meninas recebia todas as classes embora a proprietária privilegiasse a boémia artística, na casa das meninas circulavam influencias, certos medíocres faziam vénia a um jornalismo que promovia o pior, tudo aquilo era a falsidade do palco politico aquilo era muito sujo, a morte ainda não tinha aparecido para revelar tudo Parte superior do formulário - Mataram o pianista - Parece absurdo - Matar um pianista é tao natural como matar um canalizador - Que motivos haveria para matar um canalizador ou para matar um pianista - Podia ser por causa do barulho - Um canalizador a martelar os canos pode despertar vontade de matar, a desafinacao do canalizador pode ser a causa - E o pianista, o que leva alguem a matar - Alguêm o considerar inutil - Ou ver nele um potencial canalizador - O canalizador conduz a água - O pianista conduz o ritmo, o pianista e o canalizador são condutores de água - Encontraram o pianista na casa das meninas mergulhado numa banheira - Fecharam a casa, levaram a dona para o gabinete do chefe da policia - Vao fazer perguntas, a proprietaria vai soluçar muito - O pianista gelado - Quem o matou - Terá sido a antiquaria, um frequentador da casa, mas o motivo, várias hipótses - Nao havia dinheiro para lhe pagarem, sabia algum segredo - Tinha uma doenca incuravel - Nunca acabava as palavras cruzadas - Planeava um golpe - Quis mexer no jogo, não se pode conhecer o jogo - O pianista andou a remexer, agora conhece o silencio, o silencio está de molho -:Agora que vai acontecer - A casa vai fechar ou vão contratar outro pianista - Contratar outro pianista e avisa lo que o destino dos pianistas é serem mortos - A casa das meninas tem fantasmas - Os fantasmas não podem fazer parte da clientela - Aquele lugar podia ter sido atingido pelo golpe final - Mas os acontecimentos tornaram o local mais interessante - A casa das meninas precisava de aventura, matar um pianista assim como a mira da espingarda a apontar para o pardal, o pianista no telhado e o caçador, o publico caçador a disparar muito incomodado e sonolento - Aquele pianista morreu, não deixou herança, deixou o assobio do vento que pode ser o assobio do canalizador Abre as mãos as tuas mãos vazias - Olha aquele livro - O livro no chão não se distingue da pedra - Chovia no velório do pianista - Era esperado um dia de sol - As meninas da casa fizeram uma renda para vestir a urna - Á boca calada disseram piadas - Que género de piadas - Um pianista é como uma vaca molhada no pasto - Um pianista não dá leite - O pianista tinha um ar cómico - Uma velha passou o tempo a limpar o pó do fato e ele parecia sorrir - Na casa das meninas também conhecida como a casa das bonecas foi feriado As tuas mãos vazias, tu escondes uma vontade de não te importares - O pianista não vai ser aplaudido - Vamos fechar o livro, fechar as portas do teatro - A policia já não vai continuar a procurar um culpado - Vamos pensar que a bebida o matou - A banheira cheia de água foi uma mentira - Vamos dormir, no quarto das meninas não vai haver homem - Mostra-me a boca, ainda tem sangue, o nojo dos dias - Onde está a criança? - A criança está na casa do cão - O pai da miúda tem cara de cão - Onde trabalha o cara de cão - Trabalha na fronteira - Há quantos anos - Mais de trinta - A criança fugiu para este lado , o medo a atirou para aqui. - O controle funciona ate certo ponto enquanto acreditamos, o controle e uma rocha que se vai tornar areia, a criança esmagou a rocha, agora vai caminhar sozinha. - No caso do pianista morto foi o cara de cão que arquivou o processo, o cara de cão era cliente assíduo da casa das bonecas,, o cara de cão nascera numa pequena aldeia, no trato com a sua criança era exageradamente meigo e era na sua função de guarda da fronteira um exímio executante dos métodos de confissão, foi ele que interrogou a antiquaria, não usou os métodos, o dinheiro amolece os torturadores, a morte de um pobre e anónimo pianista não justificava nada, aquilo fora um acidente, aquele tipo de acidentes que também a natureza comete - O Abade está na santa casa - Costumam escutar o delírio -Repetidamente exclama:- As trombetas soam, o anjo do Senhor guarda o vosso tesouro. - A antiquaria pede que se cale, ela costuma visita-lo - Costuma por causa de um pacto - O Abade financiava a casa das meninas e deu-lhe o perdão pelo pecado do homicídio- - Ela odeia o Abade, desejava mata-lo - Isso não apagava a loucura. - O Abade olha para ela como se levasse uma alma para o céu - Ele sempre pergunta pelas meninas - A Sara era a sua favorita, ela curava a doença do desejo - O Abade quando espera a antiquaria fuma o seu cigarro de papel velho. - Costumas ir na santa casa? - Vou fotografar - Consegues ver dentro do medo - O medo também está revestido de ossos - A coragem são os ossos do medo - Há uma feira que acontece no largo. no coreto toca a velha banda, tem algumas tendas de trapos e bebidas fermentadas - Os moradores ornamentam as casas. - Também costumam fazer rezas de sorte para os casamentos - Os operários vestem as melhores roupas e os ricos se esmeram a exibir as acções mais caridosas. - Quando a feira começou tinha a bênção do Abade, era ele que abria o baile. - Ainda é ele, costuma ir acompanhado por dois membros da ordem. - A antiquaria também está presente. - A banda toca aquelas musicas românticas, o Abade estremece com as marchas patrióticas, uma das musicas podia ser o anjo da trombeta.