10:30 até às 18:00
Animais que ao longe parecem moscas - Until July 30

Animais que ao longe parecem moscas - Until July 30

João Maria Gusmão e Pedro Paiva
Com a participação da Coleção Norlinda e José Lima
With the support of Coleção Norlinda e José Lima

Até 30 de Julho  /// Until July 30
Núcleo de Arte da Fábrica Oliva
Terça a domingo
Tuesday to Sunday
10:30 – 18:00

Consta que Jorge Luis Borges ouviu o célebre sinólogo germânico Franz Kuhn desdenhar de uma ilustre enciclopédia chinesa, o Empório Celestial de Conhecimento Benévolo. Referia esse vade-mecum oriental que os animais não se dividiam em vertebrados e invertebrados, como por aqui se acredita,  mas sim em categorias diversas que tinham por efeito não se excluírem umas às outras. “Nas suas remotíssimas páginas está escrito que os animais se dividem em: (a) os do imperador, (b) embalsamados, (c) amestrados, (d) leitões, (e) sereias, (f) fabulosos, (g) cães vadios, (h) incluídos nesta classificação, (i) que se agitam como loucos, (j) incontáveis, (k) desenhados com um pincel finíssimo de pêlo de camelo, (l), etc…, (m) que acabam de quebrar o jarrão, (n) que ao longe parecem como moscas.”  Certamente, haveria nessa obra uma outra entrada extraordinária dedicada à sereia embalsamada do imperador que, pendurada no torreão da grande muralha, lembrava a mosca da fruta, e uma sobre o leitão amestrado que se divertia a quebrar toda a porcelana branca da Cidade Proibida e que se assemelhava à varejeira, especialmente quando representado no horizonte por um finíssimo pincel de camelo a tinta-da-china…  E muitas outras entradas haveria nesse livro, que, sendo incontáveis, eram sempre integradas nessa categoria, na qual de longe os ângulos das coisas figuram, à medida que se afastam do observador, mais e mais redondos e pequenos, até não possuírem detalhe algum, formando, por fim, um ponto negro: o Tao da Mosca. E que teoria óptica! Pois quem por ela fizer juízo, está no direito de tomar indistintas todas as coisas e seres, e, face à sua total abrangência, prescindir de qualquer outro padrão por onde se reger. Da mesma forma, quem por esta ou qualquer outra via, souber dessas propriedades do insecto doméstico, não necessitará de mais ciência ou literatura, ou mesmo de qualquer enciclopédia, incluído a presente de que falamos.

João Maria Gusmão e Pedro Paiva apresentam, em São João da Madeira, obra recôndita da sua lavra: um conjunto de ventos, electrodomésticos, seres e coisas recolhidas nos bastidores dos filmes que têm realizado. Mas não se pense que não haverá cinema ou, tão-pouco, a fantasmagoria do celulóide! Se bem que a mostra ofereça sobretudo objectos mais ou menos sólidos, promete-se que nos subtis movimentos dos espíritos das coisas ver-se-ão fantasmas! À semelhança dos animais guardados nos museus de história natural ou na Monalisa, os artefactos agora recolhidos fingem olhar para nós, como se estivessem vivos. Senhores, é uma exposição de zombies! A súmula do tempo e de como ele é experienciado por uma variedade de seres inertes depois de séculos a interagir com o Homo Sapiens: um catálogo das mais variadas espécies de criaturas. Fazendo lembrar, todavia, não o miolo da nossa Enciclopédia Luso-Brasileira, mas a adenda do vigésimo quinto volume da mesma. Nas suas ínfimas palavras poder-se-á ler, os animais também se dividem: (a) usando uma faca, (b) se forem sujeitos a velocidades elevadíssimas, (c) em cores primárias, (d) secundárias, (e) terciárias, (f) os que acham a banana comestível, (g) os que não a acham, ou que simplesmente preferem a laranja a outros frutos de época, com a excepção da batata, que por sinal não é fruta, mas tubérculo, (h) esses e outros, tais como, os que são feitos de vidro, (i) que têm rodas, (j) que se penduram ou estão empoleirados cheios de electricidade, (k) que sabem jogar às cartas por acaso, (l) falsos, e os incluídos nesta selecção, (m) que usam camuflagem e ainda assim se escondem atrás da palmeira, (n) os que põem ovos… 

A exposição vai ter ainda um frigorífico. 
E, lá dentro, a noite do Antártico. 
É escuro e frio, ZZZZZZZZZZZZZZZZZz  .
ZZZZZZZZZZZZZZZZZz. ZZZZZZZZZZZZZZZZZz.
Ainda assim, ouvem-se moscas! 
Como diz a sabedoria popular: 
"As moscas mudam, a enciclopédia é a mesma.”
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