Biblioteca Municipal de Tavira Álvaro de Campos
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humus | corpodehoje Sinopse Materializar o teu sorriso num segundo. vê-lo a desfazer-se e começar o meu. No ponto em mim onde a tua voz ecoa, guardo a memória do teu ser e acordo. Ficha artística Concepção e direcção artística | Ana Borges Intérpretes co- criadores | Bárbara Ramos, Ivana Hrouzkova, karen da Silva, Mónica Brás e Samuel del Bello Músicos | Artur Duarte, James Lacey e Manu Figurinos | Helen Ainsworth iluminação | equipa técnica da Autarquia de Tavira Produção | corpodehoje Agradecimentos | direcção e todos/as os/as funcionários/as da Biblioteca Municipal de Tavira reflexão | Cientificamente, “húmus ou humo do termo latino humus, é a matéria orgânica depositada no solo, resultante da decomposição de plantas mortas”. Húmus é para mim o que representa a matéria entre o fim e o início; o recomeço das coisas; da matéria viva que vai alimentar a terra depois do processo de morte. Representa o fim e o recomeço. Quando estamos em contacto com a natureza, e pomos as mãos na terra, vemos a transformação acontecer em directo, na primeira pessoa. Há sementes que permaneceram da época anterior e na primavera renascem e trazem flores até à superfície, há uma batata doce que ficou esquecida e renasce sem pedir para isso, há folhas que caem das árvores e se transformam em novos pedaços de terra que alimenta as plantas no solo. Aquilo que cai, que morre, dá lugar ao que surge, que nasce. E assim são os ciclos da natureza, sendo a primavera o reflexo máximo da abertura, do reflorescer, da frescura, do renascer. O efémero está presente em cada estação do ano que regula a vida, as acções do homem na natureza, nas suas actividades de trabalho e descanso. As próprias flores nascem e morrem, têm uma duração, como tudo na vida, a própria vida de cada ser tem uma duração. Mas se existe húmus, onde fica o efémero? Já que não há uma morte apenas, mas uma transformação. Questionamos sobre este tema nesta peça de dança, percebendo que se em cada fim, há um recomeço como nos lembra o Sérgio Godinho “..O fim de tudo, é o recomeço..” talvez o efémero não exista, mas antes exista uma coisa que sucede a outra. O efémero na dança sempre foi o mais difícil de resolver para um bailarino, um coreógrafo, até ao ponto de haver poucos registos da história da dança, pois o movimento nasce e acaba às vezes em segundos…diferente da pintura ou fotografia que se materializa, na prática, numa imagem, que nos pode acompanhar pela vida fora. Mas a memória do corpo existe e ali fica o movimento no invisível. É então o efémero uma palavra criada para demonstrar o que não se perpetua visivelmente no tempo? Porque pode existir para sempre. Uma pessoa que morre fisicamente, vive na memória de quem a amava, logo existe. Contrariando a visão de Descartes “Penso, logo existo”, talvez pudéssemos criar “Sinto, logo existo”. Ana Borges
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