N/D
Green Ray*17 | Lux curated by The Black Madonna

Green Ray*17 | Lux curated by The Black Madonna

The Black Madonna

'A música de dança precisa de riot grrrls. De Patti Smith. Precisa de DJ Sprinkles. A música de dança precisa de algum desconforto com a sua euforia. A música de dança precisa de sal nas suas feridas. De mulheres com mas de 40 anos. De DJs que amamentam e precisam de adormecer os filhos antes de irem tocar. A música de dança precisa de queers e adolescentes mal-dispostos que estão fartos disto tudo. A música de dança precisa de escritores, críticos, académicos e historiadores. A música de dança precisa de pessoas pobres e de pessoas que não têm os sapatos certos para conseguir entrar no clube. A música de dança precisa de camisas sem gola. De pessoas que trabalharam toda a semana. De pessoas que aparecem antes da meia-noite porque não têm como pagar bilhete. A música de dança não precisa de mais status quo.'

As palavras são de Black Madonna, o feeling é o de todos os que respiram isto pelas razões certas. Marea inspira-nos, não apenas por ser uma disc jockey incrivelmente talentosa, mas por ser uma agente de mudança, embaixadora pelas vozes oprimidas do nosso underground global e agitadora cultural no Smart Bar de Chicago, equipa que integrou como residente em 2012 ao lado de Derrick Carter e Frankie Knuckles e que hoje programa, levando àquela cabine nomes tão essenciais como Honey Dijon, Honey Soundsystem ou DVS1. 

Uma outsider desde a infância, Marea, filha de mão bibliotecária e pai músico de blues, enfrentava bullies na escola dia sim, dia sim. Isolava-se com o seu walkman na casa de banho para ouvir Madonna e Deee-Lite e perder-se num mundo de fantasia. Numa entrevista de 2016, partilha que o bullying não podia ter tido um papel maior no seu processo de se dissolver na música. Mas a luz vence sempre a sombra, e Black Madonna saiu do outro lado: aos 16, dois anos depois de ter sido levada a uma rave ilegal, desistiu da escola para vender mixtapes - andou com os amigos de rave em rave, aprendeu a misturar discos em 1997, e desde aí que trata a midwest rave scene por tu. Influenciada por DJs como Derrick Carter, DJ Heather, Boo Williams, Terry Mullan ou Paul Johnson, mudou-se para Chicago. Passou anos a tocar em festas undeground, a receber quase nada - ou nada. Mas a aprender. Muito. 

Há cinco anos lançou 'Exodus', um hino disco house tão exuberante como eficaz, que foi tocado pelos melhores DJs de Chicago, a sua terra prometida, e firmou o seu lugar no panteão da house americana. Cedo choveram bookings para a Europa. O primeiro? Panorama Bar. O resto é História. A História que é urgente, daqui em diante, ser lida nos livros. A História das mulheres, da comunidade LGBTQI+, a história negra, a história dos artistas da periferia - a História, central para a música de dança, em que Black Maddona não só se insere mas não se cansa de contar, enfrentando com coragem a força silenciadora de uma cultura cada vez mais saturada pela comercialização. É uma honra receber a sua voz, tanto enquanto DJ como enquanto curadora. Nas as suas palavras: 'as pessoas tendam a sobre-romantizar a música de dança, mas os momentos de transformação na pista, esses momentos são reais'. Vamos.


Heidi

Do balcão da Phonica para as melhores pistas de dança do mundo; Heidi tornou-se símbolo da melhor loja de vinyl londrina enquanto aí trabalhou, em meados dos anos 2000, vinda do Ontário, Canadá. Presença notável na loja, Heidi rapidamente passou de desconhecida a uma das novas DJs mais respeitadas da cidade, tendo sido a primeira numa sucessão de DJs para quem trabalhar na Phonica foi uma rampa de lançamento e não apenas uma oportunidade para estar mais junto dos novos lançamentos.

Como produtora, a sua estreia deu-se na Let's Get Physical, de M.A.N.D.Y. e Booka Shade, bem no pico de relevância da editora - ainda trabalhava na loja. Rapidamente teve de abandonar o seu dayjob para se pôr à estrada e cumprir um calendário de actuações exigente que se mantém até aos dias de hoje. Criou a sua própria editora Heidi presents Jackathon Jams, cujo impacto lhe trouxe várias residências e noites por todo o mundo - incluindo actuações no Fabric, Watergate, Festival Movement em Detroit, residências em Ibiza entre muitas outras - e é um dos pesos pesados da club culture global, além de cúmplice frequente da curadora deste Green Ray, The Black Madonna. 


Honey Dijon

Miss Honey Dijon pertence a uma estratosfera de DJs muito especial. Dotada de técnica e um conhecimento da música incríveis, Dijon respira sem problemas nas alturas do DJing onde, para a maioria, o ar rareia. Fá-lo parecer fácil - e talvez para si o seja, se considerarmos que o seu talento a levou a ter como mentor nada menos que uma lenda viva do house de Chicago, Derrick Carter. Outra influência que cita é a do mago nova-iorquino Danny Tenaglia que, a partir da cabine, a inspirou pela forma como cria drama na pista de dança e pelos riscos que corre para levar os corpos dançantes ao êxtase. 

Honey Dijon é, no entanto, muito mais que uma DJ excepcional com um som único forjado apartir destes dois centros da house music. É um símbolo vivo do espírito inclusivo que guiou esta cultura desde a sua génese - desde Knuckles e Levan a Vasquez e Tenaglia. É uma mulher transgender acolhida na aceitação não-binária que o clubbing oferece - e que define esse mesmo clubbing, quando este é bem feito. Grooves certeiros, rough como Chicago e dramáticos como NYC, articulados para criar uma atmosfera fluida e livre, uma pista enquanto espaço de entendimento e amor comunal - é isto que nos traz e que encaixará na perfeição com a caixa mágica de Sta Apolónia. 


HAAi-

HAAi é a palavra holandesa para tubarão, e esse significado até podia fazer sentido para esta DJ em ascensão: num panorama em que se tratam os maiores por 'big fish', ser um tubarão é a meta de muitos. Mas esta disc jockey australiana, há meia década baseada em Londres, foi buscar o seu nome artístico ao título de uma faixa da banda indonésia The Panthers. Quando se fixou na capital inglesa era vocalista da banda de rock psicadélico Dark Bells e muito embora não fosse propriamente clubber, coleccionava discos, sobretudo dos anos 60 e 70, coisas africanas e turcas de paleta psych.

Até que uma viagem a Berlim a fez apaixonar-se inexoravelmente pela club scene. Em paralelo, começou uma residência semanal no Ridley Road Market Bar em Dalston, que lhe limou arestas até à perfeição durante dois anos de compromisso e devoção, com sets longos a tocar Motown, disco, afro beat e faixas dançáveis de todos os cantos do mundo. Hoje é residente do Phonox, um dos melhor programados clubes Londrinos, onde funde a sua skill técnica impecável à sensibilidade de quem passou anos atrás dos pratos a fazer o que ama. Uma estreia que se adivinha surpreendente.


DJ Rahaan

 Muito se falou de Chicago nos últimos anos e fomos assistindo a um regresso às raízes da house por parte de meio mundo, mas Rahaan nunca precisou regressar a nada - nunca saiu. Esteve lá, no início, na sua Chicago. Viveu os primeiros anos da música house directamente na fonte, quando ainda não era um género mas vários, tocados juntos no clube Warehouse pelas mãos de Frankie Knuckles. Testemunhou Lil Louis ou Ron Hardy, nos 80's, com amigos, na pista de dança - e tem muito para nos contar.

Como produtor lançou em selos de culto como Stilllove4music, de Jerome Derradji, a Jiscomusic, Disco Deviance, a Four Play entre outros, tanto com originais como com re-edits. Como DJ respira com a mesma liberdade dos seus mentores; cruza a melhor música negra de dança sem a rigidez estilística que cristalizou tantos dos seus contemporâneos, mas dotado de um instinto letal para comandar corpos dançantes apartir de rodelas de plástico negro. Realeza de Chicago a não perder. 

- Inês Coutinho


\\ ENGLISH //


The Black Madonna

“Dance music needs riot grrrls. Dance music needs Patti Smith. It needs DJ Sprinkles. Dance music needs some discomfort with its euphoria. Dance music needs salt in its wounds. Dance music needs women over the age of 40. Dance needs breastfeeding DJs trying to get their kids to sleep before they have to play. Dance needs cranky queers and teenagers who are really tired of this shit. Dance music needs writers and critics and academics and historians. Dance music needs poor people and people who don't have the right shoes to get into the club. Dance music needs shirts without collars. Dance music needs people who struggled all week. Dance music needs people that had to come before midnight because they couldn't afford full admission. Dance music does not need more of the status quo.” 

The words are Black Madonna's, the feeling is one that anyone who breathes this culture for the right reasons relates to. Marea inspires us, not just because as a dick jockey she is incredibly talented, but because she is an agent of change, a mouthpiece for opressed voices of our global underground and cultural agitator at Chicago's Smart Bar, a team she joined as a resident in 2012 alongside Derrick Carter and Frankie Knuckles and that she today programs, bringing names as essential as Honey Soundsystem, Honey Dijon or DVS1 to that booth.

An outsider since childhood, Marea would face bullies at school day in, day in. She would isolate herself in the toilets with her walkman, listening to Madonna and Dee-Lite while getting lost in her very own fantasy world. In a 2016 interview, she shared that bullying couldn't have had a bigger part in her process of dissolving in music. But light beats shadow, and Black Madonna came through on the other side: at 16, two years after having been to an illegal rave for the first time, she quit school to sell mixtapes - hopping from rave to rave with her friends, she taught herself to DJ in 1997, quickly becoming an insider in the midwest rave scene. Influenced by DJs like Derrick Carter, DJ Heather, Boo Williams, Terry MUllan or Paul Johnson, she moved to Chicago where she spent years playing in undegrround parties and getting paid next to nothing - or nothing at all. But learning. Loads.

Five years ago she released 'Exodus', a house disco anthem equal parts exuberant and effective that was played by some of Chicago's best DJs, her own promised land, and got her a definitive place in the american house pantheon. Soon European bookings started pouring in. The first? Panorama Bar.  The rest is History. The History that urgently needs to be read in books from now on. The History of women and the LGBTQA+. Black History. The History of periphery artists - the History, vital to dance music, in which Black Madonna not only plays a part but tirelessly recounts, bravely facing the silencing force of a culture that is more saturated by commercialisation each day. It's an honour to welcome her voice, both as a DJ and as a curator. In her own words, 'people tend to over-romanticise dance music, but those moments of transformation, those moments are real'. Let's do this.


Heidi

From the Phonica counter to the best dancefloors in the world; Heidi truly became symbol of the best record shop in London while she worked there in the mid-00s, coming from Ontario, Canada. A special presence at the store, Heidi quickly went from being the new girl to being one of the best new DJs in town; the first in a line of DJs to whom working at Phonica meant more than just getting all the new releases - it was a launching a pad. 

As a producer, her debut was on M.A.N.D.Y and Booka Shade's Let's Get Physical label, right at the peak of relevance of the label - when she still worked at the shop. Quickly she had to quit her dayjob and hit the road to follow a demanding DJ schedule that she's been able to keep to this day. Soon after she created her own label Heidi presents Jackathon Jams and the impact brought her various residencies and nights all over the world - including shows in Fabric, Watergate, Detroit's Movement Festival, Ibiza seasons among many other top slots. She's truly one of the heavyweights of global club culture, as well as a frequent booth partner of this Green Ray's curator, The Black Madonna. 


Honey Dijon

Miss Honey Dijon belongs to a very special DJ stratosphere. Armed with incredible skills and music knowledge, Dijon breathes easily in the heights of DJing where, to most, air lacks. She makes it look easy -  and maybe to her it is, if we remember that her talent means her mentor is none less than a living legend of Chicago house, Derrick Carter. Another influence she often cites is New Yorkan wizard Danny Tenaglia who, from the booth, inspired her by how he creates drama in the dancefloor and by the risk he takes to take dancing bodies to ecstasy.

Honey Dijom is, however, much more than an exceptional DJ with a unique sound forged from these two central names of house music. She is a symbol of the inclusive spirit that guided this culture from its inception - from Knuckles to Levan to Vasquez to Tenaglia. She is a transgender woman, welcomed in the non-binary acceptance that clubbing offers - and that defines clubbing itself, when clubbing is done properly. Spot-on grooves, rough as Chicago and dramatic like NYC, articulated to create a fluid, free atmosphere, a dancefloor as a space for understanding and communal love - this is what she brings, and it will fit perfectly in Santa Apolónia's magic box.


HAAi-

HAAi is the Dutch word for shark, and that meaning could very well make sense to this rising DJ: in a landscape where the key players are called 'big fish', being a shark is everyone's goal. But this Australian DJ, who moved to London half a decade ago, took her name from the title of a song by Indonesian band The Panthers. When she arrived to the British capital, she was the vocalist of psychedelic rock band Dark Bells, and although she wasn't necessarily an avid clubber, she was collecting records, mostly 60s and 70s African and Turkish stuff with a psych edge.

And then a trip to Berlin made her inexorably fall in love with the club scene. Around the same time, she started a weekly residency at Ridley Road Market Bar in Dalston, in which she cut her teeth to sheer perfection with longs sets spanning from Motown to disco, afro beat to danceable tunes from around the world. Today she is a resident at Phonox, one of London's best programmed clubs, where she fuses her impeccable technical skill with the kind of sensibility reserved only to those who have spent years behind the decks doing what they love. A debut that will surely surprise everyone in the room.


DJ Rahaan

Chicago has been referenced countless times in the past years as we witness a return to the roots of house, but Rahan never had to return to anything - he never left. He was there, in the beginning, in his Chicago. He lived the first years of house music directly in the source, when it wasn't one genre but many, played together at Warehouse by the hands of Frankie Knuckles. He witnessed Lil Louis and Ron Hardy with his friends, in the 80s, from the dancefloor - and has lots to tell us.

As a producer he has released on cult labels like Jerome Derradji's Stilllove4music, Jiscomusic, Disco Deviance, Four Play among others, both with originals and re-edits. As a DJ he breathes with the same freedom as his mentors; blending the best black dance music without the stylistic rigidity that crystallised so many of his contemporaries and armed with a lethal instinct to command dancing bodies from slices of black wax. Chicago royalty that simply cannot be missed.


- Inês Coutinho
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
Download App iOS
Viral Agenda App
Download App Android