22:00 até às 02:00
Elysia Crampton | Polido ► ZDB

Elysia Crampton | Polido ► ZDB

8€
Entradas: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur Discos, Tabacaria Martins e ZDB (quarta a sábado 18h-02h) | reservas@zedosbois.org
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Elysia Crampton
Embrenhada num limbo político-social, a obra de Crampton é titânica, complexa e ambígua. Dificilmente poderia ser concretizada numa outra época da história. A epopeia digital em que se tornou poeta sonora, lida com uma noção de caos, dominada por temáticas actuais como capitalismo selvagem ou tácticas de desinformação. É tomar pulso à realidade, não de um ponto de vista de provocação, mas sim de reacção e de transformação. O carácter libertário que exala da artista é um acto de resistência latente, espelhando, sem outra alternativa, uma realidade algo distópica, mas focada em alcançar um equilíbrio estrutural das coisas.

Nascida nos Estados Unidos, mas de raízes andinas, Elysia Paula Chuquimia Crampton é uma investigadora por natureza. Esmiuça alguma da memória sul-americana, relacionando-a com o colonialismo espanhol e os seus crimes, de onde o emerge último álbum ‘Demon City’. O que poderia ser, por si só, uma área de estudo específica, torna-se na verdade num ponto de partida – de geografia não definida. Se no panorama da electrónica nomes como Muslimgauze, Huerco S. ou Matmos já tinham dado importantes contributos em direcção a esse exercício de estudo e exposição histórica, a abrangência da autora – e o modo como interliga pontos às vezes até pouco comuns – situa-a num espaço insular. Entre 2012 e 2015 apresentou-se exclusivamente sob o alter-ego E+E, assumindo pouco depois o nome próprio e estabelecendo uma rede de colaborações intensas incluíndo Kelela, Total Freedom, Chino Amobi ou Lexxi. A ferocidade transgressora da sua expressão angariou-lhe uma atenção crescente por parte de festivais, galerias, clubs e toda uma geração desconfortável com o rumo destes tempos; no limite, cunhou um estilo que o apelidou como ‘severo’.

Mas o que torna afinal a sua arte tão vital? Dir-se-ia, desde logo, o seu risco natural, o nervo de desestabilizar para encontrar harmonia e justiça. De vingar uma historial demasiado longo de repressão e fundir esse discurso num corpo estético onde a electrónica também se assume como nómada, fluindo pela cumbia do Perú, pela techno de Berlim, pelo  reggaetón do Panamá, até ao white noise de Nova Iorque; no meio do itinerário étnico-anarquista ressaltam breves flashes de samplagem de videojogos, filmes ou simples ‘found sounds’ numa colagem sonora alucinante e em constante fluxo. Os ganhos texturais de tais experimentações superam qualquer expectativa, seja num plano de pura estática e poesia improvisada ou de ritmos latinos ofuscados por programações maquinais. Crampton pega nas possibilidades de sonho e constrói uma imagética que atinge diversos registos: sci-fi, industrial, spoken word, psicadelismo ou mera performance (provavelmente a lista continuaria sem um fim aparente). De certo modo, estamos perante a criação de uma plataforma conceptual avessa à inércia e à indiferença, um trabalho em progresso, aberto e assente numa participação colectiva (em cada disco surge uma lista de convidados diferentes). ‘Sobrevivência é a chave’, segundo palavras da própria, em modo de resumo.

Numa temporada musical da ZDB que abrange ainda Moor Mother ou Klein, a inclusão de Crampton à agenda completa uma franja essencial no que de mais urgente e desafiante tem sido feito nos últimos tempos. Não será mais um concerto, senão uma instalação punk sem guitarras. NA
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