Infante D. Duarte Herdeiro da Coroa Sabia que D. João I teve um papel muito importante na História de Leiria? Quer conhecer um facto histórico, passado em Leiria, nunca mencionado nos compêndios de história? Seja nosso convidado, divirta-se, e mergulhe na história: No último trimestre de 1400 Portugal sofre um enorme abalo: a novíssima dinastia, inaugurada por D. João I em 1385 e garante da independência nacional, perde o filho primogénito legítimo do Rei, D. Afonso. O Infante Herdeiro morre, em Braga a 22 de outubro, no decurso de uma peregrinação que o devia levar com a mãe, D. Filipa, a Santiago de Compostela. Pouco tempo depois, ainda em pleno luto, realiza-se – em Leiria – uma cerimónia da maior premência e importância política: a confirmação e juramento do Infante D. Duarte como aquele que se predestina a ser Rei, como novo Infante Herdeiro da Coroa. D. Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, conde de Ourém e de Barcelos, desempenha neste episódio um papel de grande relevo uma vez que do seu acordo jurado e declarada proteção ao novo Infante Herdeiro depende de facto o futuro do Portugal enquanto Reino independente. A “Crónica do Condestável” resume assim esta sucessão de eventos: “ E poucos dias [passados] mandou o Rei chamar o Condestável [para] que fosse a Leiria para fazerem menagens [homenagens] ao Infante Duarte, que Deus deu a Portugal por primogénito. E o Conde foi a Leiria, como lhe foi mandado, e os preitos [tributos de vassalagem; testemunhos de veneração; juramentos solenes] e menagens foram feitas ao Infante Duarte como primogénito e senhor natural. E, isto acabado, o Rei mandou a todos que tirassem o “doo” [ dor(*); luto] que traziam por o Infante dom Afonso.” (**) Da cerimónia propriamente dita ou de quem nela participou nada se sabe a não ser que estiveram presentes como principais protagonistas: o Rei, o Infante e o Condestável. Adivinha-se que presentes estiveram também certamente a Chancelaria Real, altos dignitários da Igreja e representantes da grande Nobreza entre os quais Afonso de Portugal, filho ilegítimo de D. João I, criado em Leiria, e que aqui casará no ano seguinte com Beatriz, filha de D. Nuno Álvares Pereira. Luís Mourão (*) “Doo” em português arcaico por “dor” e “luto” por extensão (manifestações ou sinais de luto são manifestações ou sinais de dor pela perda). Veja-se por exemplo nas Cantigas de Santa Maria de Afonso X, da segunda metade do século XIII: “Ao demo non pro[u]gue | dest’, e con grand’ enveja revolveu a pousada | o que maldito seja; el que toda maldade | ama sempr’ e deseja fez o prazer em doo | tornar, Ca lle prazia. Parade mentes ora como Santa Maria d’ acorrer non demora a quen por ela fia.” (7a estrofe da Cantiga 241) “Doo” lê-se “dó” de acordo com Carolina Michaelis de Vasconselos, citada em Gladis Massini-Cagliari, A música da fala dos trovadores: desvendando a pro-sódia medieval, São Paulo: Editora UNESP, 2015, p. 155. (**) Citado in: Saul António Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, Leiria: Câmara Municipal, 2004 (2ª ed.), p. 129 Click to share on Facebook (Opens in new window)Carregue aqui para partilhar no Twitter (Opens in new window)Click to share on Google+ (Opens in new window)Clique para partilhar no LinkedIn (Opens in new window)Carregue aqui para partilhar por email com um amigo (Opens in new window)