FOLIA apresenta Auto da Índia

Folia apresenta Auto da Índia

No Auto da Índia (1509) Gil Vicente antecipa as críticas posteriores aos efeitos perversos da miragem de enriquecimento fácil no Oriente, «que ao cheiro desta canela / o reino nos despovoa». Sendo homem de teatro, em vez de fazer diatribes cria uma situação: retrata uma jovem que se vê com casa posta e marido ausente durante os três anos de uma torna-viagem à Índia. A ardilosa «Constança», já antes infiel, ajuda-se da criada para se divertir jogando entre dois amantes – um castelhano fanfarrão e um jovem escudeiro, ambos pelintras, tipos dos homens que ficam por cá. Quando o marido regressa da viagem árdua e de pura perda, manobra-o com igual desenvoltura. Numa sociedade tradicionalista mas que acabava por privilegiar as aparências, na qual o hábito fazia o monge, esta mulher à rédea solta e em posição dominante representaria um «mundo às avessas». Procurámos dar expressão a estes conceitos: dois homens sobre andas dentro de vestidos que os sinalizam como mulheres manipulam literalmente as personagens masculinas, retratadas por títeres. Nada mais apropriado do que revisitar esta primeira farsa portuguesa para marcar o arranque da Folia.

Auditório Museu do oriente
30 de Abril, 18.00h
Gratuito [mediante levantamento de bilhete no próprio dia]
Duração: 40', sem intervalo
Classificação etária: M/12
Dramaturgia e encenação: José Henrique Neto
Marionetas e interpretação: Diogo Vaz Cavaleiro e José Henrique Neto
Grafismo: Diogo Vaz Cavaleiro