Âme (live) No princípio era a alma... Bom, talvez não seja assim o dito histórico. Mas pode passar a ser. Porque a história desafia-se, e é escrita pelos vencedores. Vencedores como os Âme, que hoje são impossíveis de separar não só da editora-referência Innervisions, como da música House europeia, de ponta, sofisticada e, claro está, cheia dessa alma com que eles próprios se baptizaram. Kristian Beyer e Frank Wiedemann formam a dupla germânica que desde 2003 anda a reinventar fórmulas e gerar clássico atrás de clássico. Kristian é nosso convidado regular, mas desta vez é Frank Wiedemann que vem a Santa Apolónia. A razão? Ele é a metade dos Âme que se encarrega da execução ao vivo dos temas que os dois criam em estúdio. A manipulação nota a nota, o factor imprevisto, a energia da sala, um olhar que se cruza no momento exacto com alguém a meio da sala, tudo coisas que influenciam quem está a dar-nos em tempo real a sua música e que tornam cada actuação única, personalizada, quase – arriscamos dizer – também fruto da ajuda de nós que vamos estar atentos, deliciados e entregues ao transe. Do minimalismo de Rej ao psicadelismo dramático de Junggesellenmaschine, fundindo barreiras entre House e Techno, acústico e electrónico, Âme equivale a música cheia de oportunidades para nos perdermos não só na pista mas dentro de nós mesmos. Música inigualável e música imperdível. Trikk Bruno Deodato é um caso sério de exportação nacional. O que é nacional nem sempre é bom, e não vos tentem convencer do contrário. Trikk, no entanto, já há muito nos convenceu. Não só a nós, mas como aos maiores palcos e públicos mundiais. Surfando a onda do pós-dubstep, agigantou-se rapidamente e deslizou por territórios House, UK Garage ou Techno, sem nunca perder o balanço. Se em 2012 se estreou a editar produções próprias na ManMadeMusic, 5 anos depois damos com ele a encantar editoras como a Innervisions (de Dixon e Âme, outro companheiro nesta noite) ou a Optimo Trax, e a ser presença frequente em tudo quanto é sítio ou evento desejado pelos clubbers mais ávidos. É um regresso com sabor a consagração, não que ela não tenha sido já concretizada, mas é uma boa oportunidade para exaltar ainda mais os feitos de Trikk, do Porto para o Mundo. Uma mala recheada de vontade e música onde vamos poder encontrar uma mescla representativa do imaginário desprendido de Bruno Deodadto: esperem um cenário onde as frequências graves dominam com força, os ritmos tomam formas surpreendentes e nos fazem arrancar do chão com vista à dança enfurecida. Trikk já é um nacional global. Vão ficar indiferentes ao chamamento ou vão abrir os olhos a um futuro que já é presente? Rui Trintaeum Essa coisa de a vida sem música não fazer sentido pode ser um lugar comum, mas se olharmos para o percurso de Rui Martins Pereira – ou Trintaeum, como a força do hábito o fez conhecer – só podemos acreditar que seja a mais convicta das verdades. Diz-se um amante plural do Jazz ao Techno. Obviamente. Nos anos 80, foi baixista da banda pós punk Culto da Ira e encontra a veia de DJ em bares do Porto. Cria o espaço Loco Mosquito e mais tarde faz nascer um já defunto mas icónico lugar do cenário da música de dança portuguesa: o TRINTAEUM. Foi por lá que fez estrear em solo nacional convidados estrangeiros, que lançou a carreira de jovens talentos nacionais, e que também ele abriu ainda mais horizontes e consolidou a aptidão para preencher noites para a dança, com a música dos outros mas que acaba por se tornar sua e de todos nós, naqueles momentos colectivos em que é mais o que nos une a todos, do que o que nos separa. Receber Rui Trintaeum no Lux é receber com reconhecimento sabedoria e história, mas também sofisticação e oportunidade para que um público diverso se possa deixar contagiar por uma selecção apurada mas nunca egoísta. Há que dançar. Textos: Inês Duarte \\ ENGLISH // Âme (live) In the beginning there was soul... Well, maybe that’s not how the saying goes. But sayings can be changed, because history can be challenged and written by winners. Winners such as Âme, who nowadays are hard to set apart not only from the reference-label Innervisions, but also from cutting edge European House Music, full of that soul that they have baptized themselves with – Âme meaning “soul” in French, that is. Kristian Beyer and Frank Wiedemann are the German duo who, since 2003, have been reinventing old formulas and putting out great record after great record. Kristian is a regular guest of ours, but this time we have the pleasue of welcoming Frank. The reason? He’s the one in charge of performing live the music they both create in the studio. Manipulating everything in real time, a lot of things can influence he who is performing his music in real time for us and that makes each performance unique, personal and, we dare say, also influenced by we who will be lost in awe and trance. From Rej’s minimalism to Junggesellenmaschine’s dramatic psychedelia, fusing boundaries between House and Techno, acoustic and electronic, Âme equals music full of opportunities to get lost into not only the sound, but also ourselves. Unmissable. Trikk Bruno Deodato’s work is a fine Portuguese export. But don’t take our word for it, just because he was born here: Trikk has already crossed the frontier and convinced audiences worldwide. Surfing the post-dubstep wave, he slides easily in the House, UK Garage and Techno territories without ever losing balance. If in 2012 he made his debut for ManMadeMusic, 5 years later he’s been spreading his magic on labels such as Innervision’s (from Dixon and Âme, another artist featured for the night) or Optimo Trax, and showing up in places in events in demand by the most avid clubbers. This is his return to Lux that helps recognize the magnitude of his skill, from Oporto to the world. A record bag filled with the will to make us dance and where we’ll be able to find an amalgamation of sound representative of Bruno’s musical panorama: a scenery filled with low end frequencies and furious, innovative rhythms designed to lift us off the floor. Trikk already is one of Portugal’s main electronic music artists. Will you stay indifferent or will you answer the calling of a future that already is certain and present? Rui Trintaeum Saying that without music life makes no sense can be somewhat common place, but looking into Rui Martins Pereira’s – or Trintaeum, as he ended up being called as – life story, we can only believe it is the utmost truth. He defines himself as a lover of music with soul, from Jazz to Techno. Obviously. In the 80s, he played bass for pot-punk band Culto da Ira and finds his DJ vein in Oporto’s bars. He created Loco Mosquito and later on a now-defunct but iconic place in Portugal’s dance music scene: TRINTAEUM. There he invited many international superstars for their Portuguese debut but also helped launch the careers of local young talent and, of course, worked on his skill to fill up nights playing records and making diverse audiences dance, with records made my others but which end up also being a little bit his, and ours, in those collective moments where it’s more what brings us together than what sets us apart. Welcoming Rui Trintaeum at Lux is welcoming wisdom, know-how and history, but also sophistication and an opportunity to let our audience surrender themselves into a fine selection of music that is never selfish. Let us dance. Words: Inês Duarte
