A Heineken e o Lux Frágil convidam Mano Le Tough para escolher quem vamos ouvir no dia 09 de Dezembro. . Mano Le Tough . À medida que a noite avança, há um gigante gentil a fazer tremer o chão de madeira da pista do rés-do-chão. Entrou sem alaridos, mas vai construindo com tempo, sem pressa, deixando a música respirar, criando antecipação. Até que damos por nós perdidos em transe, no meio das melodias entrançadas com que Mano nos encanta, arpejos belos, vozes de outros mundos, com secções de ritmo que cortam pela sala fora e dão bom uso aos infragraves. É House para o novo milénio, é Mano Le Tough a comprovar porque já foi apelidado por Dixon & Âme como a esperança do estilo. Amante da natureza, das montanhas, das coisas simples, Mano é um dos mais recentes nomes seguros da música de dança. Já esteve connosco pela última vez no início do ano, regressa como curador desta Green Ray e as escolhas que fez não só não desapontaram, como nos deixaram em verdadeira antecipação nervosa – a boa antecipação nervosa. Podíamos dizer que ele é um DJ especial, mas isso cabe-se a vós avaliar, por isso vamos só sugerir. Sugerir que mais uma vez se deixem levar pelos encantamos de Mano Le Tough, o durão de nome que no fundo é um coração mole e nos leva sem esforço por caminhos que evocam a dança comunal, desde os tempos ancestrais (ele que até chama ao que faz House-folk) algo bastante apreciado pela espécie humana. Música que estimula emoções, que ajuda à catarse, que nos eleva a sítios que simplesmente não existem fora do tipo de ritual que se tem dentro destas quatro paredes. Hora de acolhermos os timbres dos sintetizadores como se na nossa memória colectiva existissem há milhares de anos, e de nos entregarmos a uma das actividade mais divertidas de sempre. A Música! As the night moves on, there is a gentle giant shaking our wooden dancefloor. He started off subtly, taking his time to build his set, unhurriedly, letting each track breathe, building momentum. And then we find ourselves lost in a trance, amongst the tapestry of melodies he has created, beautiful arpeggios, other worldly voices cut by a banging rhythm section that puts our infrabass speakers to good use. It’s House for the new millenium and he’s Mano Le Tough, the guy who has been dubbed by Dixon & Âme as the genre’s hope. A lover of nature, mountains, and simple things, Mano is one of dance music’s recent sure bets. He was with us last in the beginning of this year, but this time he’s coming as the curator of his own night and the artists he picked have left us excitedly nervous – in a most good way. We could say that he’s a special DJ, but that’s up to you to decide, so we’ll leave it to your consideration after the night. We suggest that once again you let yourself get taken away by Mano’s enchantments, the tough-guy-by-name that has a sweet heart and takes us effortlessly through a journey which evokes communal dance, something we as a species have appreciated since immemorial times (and he even calls his sound House-folk). Music that speaks to our emotions, helps catharsis, and elevates us to places that don’t exist outside the rites that take place inside those four walls in our ground floor. It’s time to welcome synth sounds like they had always existed, and to lend ourselves to one of the most fun activities ever: Music! ____ . Gilb'R . Ok. Talvez Gilb’R vos deixe a coçar a cabeça e a pensar que não se lembram lá muito bem de ouvir falar deste nome. Mas descompliquemos: Gilb’R, ou Gilbert Cohen, é o patrão da Versatile Records (histórica editora do panorama da música electrónica de dança em actividade desde 1995 e poiso de artistas como I:Cube, Pepé Bradock, Osunlade ou Joakim) e metade dos Chateau Flight. Agora que já o localizámos mais um pouco nos nosso imaginários, sigamos em frente. Ligado desde cedo à parisiense Radio Nova (onde foi programador musical) é um dos principais nomes da “cena francesa” - embora na verdade ele próprio diga que não é grande fã da coisa - e não só como produtor mas também no que toca a divulgar outros. Auto-intitulado “geek”, o seu enciclopédico conhecimento musical torna-o um “DJ dos DJs”, alguém cujos pares não hesitam em ir ouvir. E se os ouvidos mais exigentes aprovam, os nossos cantam graças. Um dos seus maiores prazeres enquanto DJ é misturar aquilo que provavelmente, a maioria do público não estava à espera que misturasse. Manter o suspense, agarrar o interesse. Seguir Techno com Disco, fazer uma pausa com Ambient ou até, porque não, Musique Concrète. Tocar discos à rotação errada. Tudo possibilidades. Mexer com as mentes de cada um de nós, lançar desafios – e claro, recolher os frutos de uma pista sorridente e que não pára de dançar! Ok. Maybe Gilb’R will leave you scratching your head and thinking you haven’t heard from him before. But how about this: Gilb’R, or Gilbert Cohen, is Versatile Records’ boss (a historical label which has released the likes of I:Cube, Pepé Bradock, Osunlade or Joakim) and half of Chateau Flight. Connected since the early years to parisian Radio Nova (where he used to be a musical programmer), he’s one of the main names of the French scene – even though he himself says he’s not a big fan of it – not only as a divulger of music but as a producer as well. A self-proclaimed geek, his encyclopedical knowledge of music makes him a “DJs’ DJ”, someone whose peers don’t hesitate to listen to. And if exigent ears approve, ours sing praises. One of his biggest pleasures as a DJ is to mix what people don’t expect him to mix. Maintaining suspense and an interesting audience. Mixing a Disco track into some banging Techno, making a pause with an Ambient or Musique Concrète track, playing records on the wrong speed – all possibilities he explores. Messing with our minds and keeping us challenging – and of course, staying around to see the result of a happy crowd! ____ . isolée (live) . Rajko Muller tem lugar cativo permanente nos corações musicais de tanta e tanta gente e é mais que compreensível – e merecido. Nascido em Frankfurt, com uma incursão pela Algeria antes de chegar à adolescência, é quando retorna à cidada natal que entra na explosão synth-pop e EBM com um sintetizador e uma caixa de ritmos. Começa a exploração que seria para uma vida! Farto dos sons que até aí seguia, descobre o House e o Hip Hop e a partir daí o percurso foi seguramente sempre ascendente. Ao partilhar as suas criações com o amigo ND Baumecker, acaba por chegar aos ouvidos da Playhouse, mítica editora de Heiko Schafer e Ata. Boom. Com o primeiro single, “System”, lança a primeira pedra para uma carreira profícua e bem-amada. Para além da Playhouse, encontrou abrigo em editoras como a Dial ou a Pampa Records (vale a pena ganhar uma tarde e escutar o extenso catálogo de Isolée) e conta com 3 álbuns e inúmeras remisturas – talvez a mais popular seja a que fez para “Cardiology”, de Recloose, um hino moderno do House minimalista, com uma linha ácida inventiva e automaticamente reconhecível dispersa por cima de apontamentos Jazz. É nesta apresentação ao vivo, com material apenas do próprio, que Isolée desafia o público a entregar-se às suas criações que tomam vida em palco e forma única e irrepetível a cada noite. Haverá clássicos e coisas que ainda não saíram da gaveta, tudo manipulado momento a momento. Oportunidade mestra para ouvirmos Isolée exactamente como ele quer. Rajko Muller has a permanent spot reserved in the musical heart of so many people, and more than understandable – it’s completely deserved. Born in Frankfurt, but having lived some time in Algeria before his adolescence, it is when he returns to his home town that the enters the synth-pop and EBM explosion with a synthesizer and a drum machine. There starts the exploration of a lifetime. Tired of the sounds he had grown out of by then, he discovers House and Hip Hop and from there on, there was only way forward. By sharing his creations with friend ND Baumecker, he ended up landing a release on Playhouse, Heiko Schafer’s & Ata mythical record label. With his first single, “System”, he lays the foundations of a successful and loved career. Aside from Playhouse, he has released on the likes of Dial or Pampa Records (do take some time off to listen his extense back catalogue) and has already done 3 albums and countless remixes – the most popular being, perhaps, his remix for Recloose’s “Cardiology”, laying an inventive acid line over a jazzy but thumping mood. With this live performance, featuring only his own material, Isolée challenges the audience into listening to his creations the way he intended, while at the same time not playing the shame show twice – classics and unreleased material will be played and manipulated on the fly. An unmissable opportunity. ____ . Maurice Fulton . Thump thump thump thump… O familiar pulsar do bombo duma caixa de ritmos pode induzir a muita coisa e juntar-se a mil e um resultados possíveis no todo de uma faixa, cada uma única. Mas Maurice Fulton é daquelas lendas a quem podemos agradecer toda a influência no House. Desde os anos 90 que anda a dar uma mãozinha a produzir alguns dos maiores clássicos do género - “Gypsy Woman”, de Crystal Waters ou “Love Love Love” dos Basement Boys, tiveram o seu toque de midas. Maurice cresceu no Hip Hop, mas rapidamente se fartou da violência e da mensagem menos que positiva que acabou por assolar boa parte desse movimento. Foi nos ritmos quatro-por-quatro que encontrou abrigo. Em parcerias, ou como produtor ou teclista, explorou as vertentes mais Garage do House, de início. Avançando e nunca estagnando, mostra influências desde o Disco (incontornável no seu ADN) e Jazz até ao Electro, não foge ao Dub, e confirma-se, enfim, um grande Senhor dos nossos tempos. O americano, agora radicado na Australia, é um daqueles tipos cuja colecção e conhecimento musical deve fazer roer de inveja e admiração grande parte dos seus pares. Felizmente para nós, Maurice não se confina ao estúdio e é um DJ de excelência, livre de dogmas para além da busca incessante pelo disco certo. E esse disco certo é normalmente tão surpreendente como certeiro. Não se admirem se no fim ficarem com a sensação que o inesperado é muitíssimo divertido! Thump, thump, thump, thump… The familiar pulse of a kick drum from a drum machine can induce a lot of things and join a lot of different results in a track, each one unique. But Maurice Fulton is one of those legends to whom we can thank a lot for influencing modern House. Being into music production since the 90s, he lent a hand to timeless classics such as “Gipsy Woman”, by Crystal Water, or “Love Love Love”, by Basement Boys. Maurice grew up in Hip Hop culture but he quickly grew tired of the less than positive message the genre ended up preaching. It was on the four-to-the-floor beats that he found his refuge. Teaming up with others, or as a producer or keyboardist, he explored the more Garage side of House, in the beginning. Moving on and never staying still, he wears his Disco influences proudly, not forgetting Jazz, Electro, Dub, and so many other vibes that make him one of the greatest figures in House Music. An american by birth, now living in Australia, he’s one of those guys whose music collection and musical knowledge would make us all envious and in awe with admiration. Lucky for us, more than just a studio cat he’s an excellent DJ, free of any dogmas other than the right record at the right time. And that record usually is as surprising as it is right. Don’t be surprised if by the end of his set you get the feeling that the unexpected can be greatly fun! ____ . The Drifter . O companheiro de Mano Le Tough e Baikal na Maeve, editora dos três, não podia ficar de fora nesta mostra de talentos engendrada pelo primeiro. The Drifter (Mark Flynn na certidão de nascimento) vai mostrar que tem uma palavra a dizer, e uma palavra cada vez mais forte. Despertou para a música electrónica na faculdade, e se já havia crescido a ouvir Prodigy ou Chemical Brothers, foi numa noite chamada “Backlash”, em Dublin, que se apaixonou pelo lado mais House e Techno da coisa e decidiu, enfim, ser DJ. Farto da falta de oportunidades e de distrações, dá o salto para Berlim em busca do sonho da única coisa que queria fazer a sério na vida: estar ligado à Música. Começa a fazê-la depois do incentivo de Baikal, acabando por se estrear na Permanent Vacation, e não tarda a organizar com Mano Le Tough as noites “Passion Beat”. Daí para diante, o céu era o limite – e incluiu até fazer uma perninha como vocalista para nomes como Jacob Korn ou Good Guy Mikesh. Com o desejo de poder unir o lado mais Indie da vida com o mais electrónico, The Drifter vive para os momentos de comunhão com a pista, aqueles momentos perfeitos onde a sintonia reina entre pessoas tão díspares. Seja no House, no Disco ou no Techno, podemos contar com a sua aposta nas sonoridades mais hipnóticas, emotivas e melódicas. Não se dispersem, estamos bem unidos com The Drifter. As Mano Le Tough and Baikal’s buddy at Maeve, the label they all run, he just had (thankfully!) to be a part of this Green Ray night. The Drifter (Mark Flynn by birth) will show us that he has something to say, too. Or play, to be accurate. He awakened to electronic music in college, and even though he grew up listening to the likes of Prodigy or The Chemical Brothers, it was at a night called “Backlash”, in Dublin, that he fell in love with the House and Techno side of things and decided to become a DJ. Tired of not having the chance to do what he loved the most, he moved to Berlin to chase his dream: to live for Music. He starts producing it with some help from Baikal, eventually debuting on Permanent Vacation, and soon he’s running the “Passion Beat” nights along with Mano Le Tough. From there on, the sky is the limit – and he even lent his voice for tracks from Jacob Korn or Good Guy Mikesh, among others. Hoping to unite the Indie side of life along with more electronic beats, The Drifter lives for those moments of togetherness on the dancefloor, those perfect moments when everyone is in tune, no matter how different and unique each individual is. Be it playing House, Techno, or Disco, we can count on him bringing hypnotic, emotive and melodic tracks into the game. Don’t drift off, we’re all together for The Drifter. ____ . Baikal . Baikal pode querer dizer o mais antigo e profundo lago no mundo. Mas se formos pessoas atentas à música electrónica de dança nos últimos anos, o primeiro instinto é associar Baikal com o produtor do mesmo nome, senhor de uma sonoridade tremenda e brincalhona com os sintetizadores. House onde camadas e camadas de detalhes se vão empilhando e encaixando umas nas outras, onde as melodias serpenteiam com facilidade – veja-se a mais recente Pelican’s Flight ou a já clássica Why Don’t Ya?, que de tão tocada por Dixon até teve direito a remistura do mesmo. Companheiro de Mano Le Tough e The Drifter na editora dos 3, a Maeve, Baikal terá sem dúvida muito em comum com os mesmos, ao mesmo tempo que deixa a sua marca própria. E o que esperar de uma quinta quente e suada no Agosto de Santa Apolónia? Os sons plásticos do House e Techno modernos (embora assuma declaradamente as influências de Chicago e Detroit, das origens, da raiz), ora arrastados ora curtos e incisivos, mas sempre com aquele poder que nos parece engolir, envolver e não largar mais, propelindo-nos no transe da dança noite fora. Exercício de vá-para-fora-cá-dentro, viagens interiores à boleia de Baikal pela galáxia onde o céu tem luzes vermelhas. Baikal might mean the oldest and deepest lake in the world. But if you haven’t been living under a rock in recent years, for sure the name will resonate with electronic dance music producer Baikal, master of a huge and playful sound. House full of synth work and layers where details are stacked and melodies twist through with ease – check the recent Pelican’t Flight or the already modern classic Why Don’t Ya?, that even got a remix by Dixon. A fellow of Mano Le Tough and The Drifter on their label, Maeve, Baikal certainly has much in common with them, at the same time he conducts his own personal style. And what to expect from this hot, sweaty, August Thursday in Santa Apolónia? The plastic sounds of modern House and Techno (even though he expresses his love for the classic roots in Chicago and Detroit), either mellowed out or determined and incisive, but always packing a quality to them that seems to involve us and not let go, propelling the trance of dancing throughout the night. Hitchiking with Baikal on a galaxy where the sky is full of red lights – Lux. Textos/Words: Inês Duarte
