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15º“Meet”: Trump, imigração, nacionalismo e racismo

15º“Meet”: Trump, imigração, nacionalismo e racismo

O debate em torno da candidatura e eleição de Trump revelou entre muitos outros, dois aspectos que, numa perspectiva anti-racista, merecem atenção e discussão. Por um lado, este debate originou um simulacro de unidade de vários sectores em torno de uma ideia de "defesa dos valores democráticos”, como se da necessidade de um cordão sanitário se tratasse, mas incluindo estranhamente nesse "arco de defesa da democracia", conservadores e neo-conservadores sexistas, homófobos, xenófobos e racistas e, por outro lado ainda, confirmou a permanente subalternização/guetização do racismo no debate político. 
Aliás, esta posição o que procurou no fundo foi traduzir "valores democráticos" por necessidade de manutenção da vigência do sistema actual que é, nota-se, muito racista. Pois, como era previsível, o debate oscilou invariavelmente entre quem discute o racismo para o negar, quem o relega para segundo plano no confronto ideológico e/ou quem ainda, elegendo a dimensão "classe" como único senão o mais eficaz instrumento de luta política, não consegue abdicar do privilégio doutrinário, nem identificar ou compreender o lugar de enunciação de quem pensa diferente pela sua própria condição de sujeito político "racializado". Daí, por exemplo, a ausência total de debate ou repercussão sobre o que foi e anda é as mobilizações do movimento Black Lives Matter na disputa eleitoral.
Nenhum dos lados deste confronto foi obviamente capaz de prever nem de incorporar a chamada "factura racial" na contabilidade final da contenda eleitoral. 
E por cá, na Europa do Prémio Nobel da Paz, pouco antes das últimas eleições europeias que consagraram a maior subida eleitoral da Extrema Direita nas últimas décadas, cuja presença no Parlamento Europeu e noutros órgãos nacionais, regionais e locais de representação eleitoral, ultrapassou os dois dígitos, houve quem assinalasse esta subida não como um acontecimento circunstancial ou conjuntural, mas sim, como a confirmação de uma tendência estrutural do crescimento político e legitimação social dos neofascismos no dito "mundo ocidental." Desde então para cá, ascenderam ao poder fascistas um pouco por todo lado no dito "mundo ocidental" ou de "matriz cultural ocidental" (Hungria, Polónia, Reino Unido, França, Bélgica, Brasil, Rússia, Ucrânia, Estados Unidos, etc.)
A eleição de Trump, a ascenção da extrema direita no poder em muitos países, a sua cada vez maior representação institucional resultante de escolha popular através da disputa eleitoral, a afirmação do discurso nacional- populista e da superioridade moral da "civilização ocidental" na academia e nos circuitos políticos outrora tidos por "politicamente higiénicos", a islamofobia crescente, a ciganofobia e a negrofobia estruturais alimentam o racismo nas suas diversas formas de expressão. A eleição do migrante como o principal inimigo do interesse nacional e do projecto nacional é um expediente para cimentar o ódio e o racismo. A política da seleção, da perfilagem, do acantonamento e dos muros é o leito dos nacionalismos que alimentam o "nanoracismo" que vê no imigrante o fantasma da ameaça da homogeneidade cultural. Os fascismos que estão outra vez a "sair do armário" um pouco por todo o lado e disputam a hegemonia do espaço público e do debate ideológico na rua não são epifenomenos, são antes, tendências que estão a sustentar dinâmicas políticas profundas de que precisamos discutir para construir respostas à altura. 
A eleição de Obama, para incautos e adeptos do anti-racismo moral, teria inaugurado uma era pós-racial. Como se viu, foi uma fraude. Aliás, há quem considere a eleição de Trump como a "correção de um desvio histórico" e o restabelecimento da ordem natural das coisas.…. A eleição de Trump e todo o debate que isso despoletou convocam capacidade de mobilização para o debate e para militância para a ação política. Não podemos cair no facilitismo e na preguiça política de reduzir este debate a uma questão moral que nos iliba do confronto político. É para este desafio e para tantos outros que este "meet" nos convoca. Divulga e aparece.
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