ARCHÉ no princípio era eterno

No principio era eterno: o Gesto, o Corpo, o Objeto, o Criar.
Trazemos em bruto a fúria, a beleza e o poder daquele começo. 
Só nós podemos refazer e voltar a tecer as coisas que vêm.
Só nós podemos destruí-las.
Movemo-nos por detrás da arqueologia e da presença 
- nós permanecemos intocadas através das fogueiras, das cinzas e das histórias.
Ninguém nos vê, todos nos podem sentir.
Somos nós, desde o princípio.
Somos nós a própria Origem

Sobre a Matridança e o processo criativo:
A Matridança nasceu em 2011, inicialmente como uma proposta educativa de corpo e movimento para mulheres. Com o desenvolver deste projeto, senti necessidade de unir estas mulheres num coletivo que criasse algo maior e mais inteiro, a partir dos processos individuais que resultavam das aulas. Um grupo de mulheres distintas, com elementos profissionais e não-profissionais das artes performativas, com as suas histórias e feitios singulares. Um coletivo que questionasse o presente, o passado e o futuro do que é feminino, e fosse então capaz de ancorar visões do que eu chamo Feminino Desconhecido. Assim, a primeira criação da Companhia Matridança resultou de uma pesquisa da linhagem materna de cada uma. Em ARCHÉ esta linha é desfiada pelas oito atuantes até uma Primeira Mulher, a mulher que terá dado origem a todas as outras da sua linhagem, uma mulher imaginária a que vão dando, por camadas, corpo e presença - lembrando as bonecas russas "matrioskas", no seu multiplicar quase infinito. 
Desta pesquisa individual até à mulher original, surgem gestos e sensações, desde memórias e palavras como Eterno Retorno
                        Sementes
                        Comunhão
                        Terra
                        Nutrição
                        Coração, até à sensação de Poder no seu aspecto mais misterioso, semelhante em tudo a uma força da Natureza incontrolável, ou impossível de conter. Foi essencialmente a partir da tensão entre dois aspetos - o pacífico e o turbulento, o transcendente e o erótico, o visceral e o nutridor – que nasceram a composição e a coreografia. Em ARCHÉ, estas são dimensões paradoxais que afloram imagens, objetos, movimentos e relações, ligadas intimamente à matéria e ao feminino mais profundo e pleno de significado. Pois só a partir deste lugar desconhecido e inquietante, será possível para cada uma de nós, e todas nós em coletivo, trazer ao palco ARCHÉ - a origem.