Decorria o mês de Julho de 2009. Foi-nos solicitado para uma tese de doutoramento uma radiografia integral do S. Pedro, de Vasco Fernandes, obra maior do Museu Grão Vasco. Não sendo aconselhável qualquer desmontagem da pintura do seu suporte actual, tornou-se necessário conceber um método de realizar um exame tão vultuoso no próprio local, fora do horário de abertura ao público. A noite impôs as suas regras e o tempo de execução permitido. Foi uma noite mágica, uma grande aventura e uma feliz memória de uma tarefa científica de que todos os participantes se orgulham: a primeira radiografia integral de uma pintura de tal dimensão, com total respeito pela sua estabilidade e segurança, no local em que vive.
É tempo de fazer um balanço dos métodos de exame físico até agora aplicados sobre as obras atribuídas a Vasco Fernandes, do que está feito, do que falta fazer. E também de avaliar da importância que esses documentos vêem assumindo numa história de arte algo confusa sobre o enigma deste pintor e da sua obra, em que registamos opiniões totalmente contraditórias entre alguns dos nossos mais prestigiados investigadores.
Iremos recordar o que não pode ser negado: no espectro invisível não há mentira que resista. Que todos, especialistas ou não, venham recordar e partilhar connosco o encanto da ciência ao serviço das obras de arte, numa fantástica noite do mês de Julho de 2009.
José Pessoa
Técnico de Fotografia e Radiografia
Para a Conservação de Obras de Arte
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