Escritora, produtora, activista, oradora, educadora, dona da Comatonse Recordings, Terre Thaemlitz é, também, DJ Sprinkles. Uma heroína deep house - que aqui podemos traduzir literalmente para house profundo: político, educativo, libertador. Criada no Missouri, Thaemlitz começou a trilhar o seu caminho nos 80s, quando o disco e a música de dança eram inextricáveis da cultura queer. Tocava deep house de Nova Iorque e New Jersey em clubes transsexuais de Manhattan - de onde foi dispensava mais do que uma vez por se recusar a tocar êxitos das divas do momento. Influenciada pela sua licenciatura em belas artes e por uma imersão paralela em activismo e política de género, começou a lançar a sua própria música no despontar dos anos 90. Para DJ Sprinkles, a visão da música de dança enquanto um espaço apolítico e hedonista é errada: o clube é um lugar educativo, onde se aprende sobre a cultura gay, sobre política, sobre a sociedade. A sua música, a par da sua visão como DJ, têm como meta última levar a house e a experiência de clubbing de volta às suas raízes queer. É por isso que, nos seus perto de vinte álbuns, aborda - armada de batôn e saltos altos - temas como a sexualidade, raça e classe, deixando para trás a ideia de diversão vazia e atingindo assim um patamar político ímpar na música de dança contemporânea. A experiência que DJ Sprinkles cria numa pista de dança é informada por todos estes vectores filosóficos e sónicos, resultando numa viagem hipnotizante feita de faixas melódicas e deep mas cheias de substância, perfeitamente entrelaçadas com a mestria de quem já conta com mais de duas décadas nas melhores cabines do mundo - e pontuadas pelas suas remisturas secretas, exclusivas aos seus sets. Aqui nada é deixado ao sabor do vento. Os discos que faz e toca têm uma intenção emancipatória: é assim que se faz história, e DJ Sprinkles nunca hesitou em ser uma agente da transformação que o nosso mundo tanto precisa. Vamos com ela? - Inês Coutinho \\ ENGLISH // Writer, producer, actvist, speaker, educator, Comatose Recordings boss, Terre Thaemlitz is also DJ Sprinkles. A deep house heroine - in the literal sense of deep house: political, educational, liberating. Raised in Missouri, Thaemlitz started her path in the 80s, when disco and dance music were inextricably bound to queer culture. She used to play New York and New Jersey deep house in Manhattan's transgender clubs - gigs from which she was fired more than once for refusing to play hits by the divas du jour. Influenced by her degree in fine art and a parallel immersion in activism and gender politics, she started releasing her own music at the beginning of the 90s. To DJ Sprinkles, the vision of dance music as an apolitical, hedonistic space is wrong: the club is an educational place, where you can learn about gay culture, politics, society. Her music, just like her outlook as a DJ, aims to take house and the clubbing experience back to their queer roots. That is why, in her nearly twenty albums, she touches subjects like sexuality, race and class, leaving the idea of empty enjoyment behind - and she often does so in high heels and lipstick. The experience that DJ Sprinkles creates in a dancefloor is informed by all these philosophical and sonic vectors, resulting in an hypnotic journey, paved by deep and melodic tracks that are full of substance, seamlessly blended with the mastery of someone who's been behind the decks for over two decades - and punctuated by her secret remixes, exclusive to her sets. Nothing is left to chance here. The records that she makes and plays have an emancipatory intention: that's how you make history, and DJ Sprinkles never hesitated to be an agent of the transformation our world so desperately needs. Let's join her.
