Olhar para dentro é de todos o nosso desejo mais sincero. É um gesto que nos aproxima do olhar da criança, um olhar primeiro sobre todas as coisas. Este é um olhar de desconstrução, um olhar para as coisas que as vê como se as visse pela primeira vez, como se visse o seu interior – um olhar de estranhamento. Os fins não existem, essa é a lição de qualquer criança olhada diretamente nos olhos. Há qualquer coisa que bate e baterá sempre numa fotografia sempre que ela nos ensine a desconstruir, a recriar, a dissolver, isto é o que nos coloca em tensão esta exposição de Carlos Alves: que tal como Edward Said nos afirma: “nada é puramente uma coisa”, que há dicotomias a serem vencidas, polaridades a serem desvanecidas por um olhar que esta sempre à procura de um nivelamento, de uma consonância, de uma afirmação de vida em que todas as diferenças perdem os seus contornos. Visto de dentro o corpo é o encontro com uma estrutura, uma construção, um estranhamento: Despolarizar e desconstruir é também abraçar. Esse é também o poder da fotografia.
Nuno Brito.
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