21:30 até às 21:30
SUBTERRÂNEO - o fim dos fins é não fazer nada

SUBTERRÂNEO - o fim dos fins é não fazer nada

SUBTERRÂNEO
o fim dos fins é não fazer nada

a partir de "Cadernos do Subterrâneo" de Fiódor Dostoiévski

encenação de LUÍS ARAÚJO 
interpretação de NUNO CARDOSO 

"Sou um homem doente... Sou um homem mau... Sou um homem antipático... Acho que sofro do fígado, mas não percebo nada da minha doença, nem sequer sei ao certo o que me faz sofrer. Não me trato, nem nunca me tratei, apesar de ter alguma consideração pelos médicos. E se os considero é porque sou supersticioso... Sou muito instruído, não devia, portanto, ter superstições, mas tenho-as, pronto. Ninguém tem nada a haver com isso… Não me trato por pura maldade."

Vinte anos depois de uma experiência marcante no seu percurso, Nuno Cardoso volta como actor a SUBTERRÂNEO, partindo do texto homónimo de Dostoiévski, que definiu o mundo que criou nessas paginas como "estranho, áspero e louco". Desta vez com encenação de Luís Araújo e com uma nova dramaturgia, SUBTERRÂNEO é a voz de um homem acossado que se entrega a um monólogo pleno de desencontros e contradições. A peça parte de "Cadernos do Subterrâneo", ponto de viragem na obra de Dostoiévski, que antecederia e marcaria as suas principais obras, despertando de forma implacável uma nova consciência sobre o lugar do homem na sociedade e avançando para territórios não explorados da literatura, o que levaria George Steiner a considerá‐lo, em termos formais, o mais decisivo texto para a modernidade literária. SUBTERRÂNEO é um monólogo que constantemente se reinventa como falso diálogo com interlocutores imaginários, fingindo respostas que de imediato desmonta, num jogo de espelhos onde fuga e confronto se equivalem, aqui exposto na solidão do palco.
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F = ma 
O Homem do Subterrâneo não é um homem “representativo”, que consinta e adopte o determinismo. Também não é uma anomalia, uma excepção. Numa sociedade estrita, científica, orientada para a produtividade, um homem assim existe para criar um contra-ponto, para apresentar respostas diferentes para as mesmas perguntas. 

Na sociedade mecânica do séc. XIX este anti-humanista estaria metaforicamente, e talvez realmente, num subterrâneo inabitável, um lugar escuro e sem janelas, sem público que o ouvisse. Ao ler este livro hoje, apeteceu-me oferecer-lhe as oportunidades do séc. XXI: oferecer-lhe o espaço e os mecanismos usados pelos profetas do life coaching, do empreendedorismo e do motivational speaking, pelos que fingem ou acreditam ter respostas, a salvação, os gurus do humanismo de pacotilha, os homens “carismáticos” que enchem auditórios e salões de hotel para fazer team building, para dizer a multidões dispostas a acreditar em tudo generalidades como “se podes sonhá-lo podes fazê-lo”, que enriquecem em sessões de autógrafos da 10ª edição do seu 10º livro, os que inundam a internet com apresentações de produtos, palestras e testemunhos que roçam a experiência religiosa. 

Mas um texto com esta espessura não cabe dentro de um powerpoint, não se presta à explicitação sem dar luta, e por isso, apesar da gestualidade agressiva de quem quer muito ser compreendido, todo ele é inércia. O orador vê-se forçado a um dinamismo artificial que contraria o que é dito. E dessa luta entre o que é dito e o modelo em que é dito nasce uma fricção frustrante que torna todo esse esforço inglório. Que no fundo no fundo é tudo o que é dito. Confuso? 

Ao escolher o subtítulo “O fim dos fins é não fazer nada” para este Subterrâneo, lembrei-me de uma entrevista que li há anos em que perguntavam ao Leon Lederman qual era para ele a equação mais completa, a que melhor explicava o mundo. A sua resposta foi uma das mais simples: F = ma, força igual a massa vezes aceleração, ou seja, se se empurrar um corpo, ele reage movendo-se e quanto maior a força aplicada, maior a reacção. Falta perceber se este Homem do Subterrâneo se recusa a mover-se ou se os outros se recusam a tocar-lhe. 

Nietzsche matou Deus e Foucault matou o homem. O que é que nos resta?
Seja o que for, “não se pode dizer que seja um espectáculo muito interessante”. 

Luís Araújo


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FICHA TÉCNICA

encenação: Luís Araújo
interpretação: Nuno Cardoso
dramaturgia: Luís Araújo e Nuno Cardoso, a partir de "Cadernos do Subterrâneo", de Fiódor Dostoiévski
cenografia: Tiago Pinhal Costa
desenho de luz: Rui Monteiro
sonoplastia: Pedro Augusto
multimédia: Luís Araújo (com Sara Pazos e Sofia Lemos da Costa)
fotografia: Sara Pazos
co-produção: CCVF, Centro de Artes de Ovar, Theatro Circo
apoios: Staedtler, Anjos Urbanos
direcção de produção: Pedro Jordão
produção executiva: Alexandra Novo
direcção administrativa e financeira: José Luís Ferreira
design gráfico Drop.pt

duração: 1h15 (sem intervalo)
classificação: M/12

(Ao Cabo Teatro é uma estrutura apoiada pela DGArtes/ Governo de Portugal)
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