NOITE DEKMANTEL: VOISKI [live] + MAKAM

Makam

Para que fique já como uma espécie de declaração de intenções de Makam, eis algumas coisas de que o holandês não gosta: música que não é real, música que não é pura, artistas que não empregam toda a sua alma no que fazem, e pistas onde há pessoas que não dançam. Logo à partida, ficamos esclarecidos que é melhor virmos ouvi-lo dispostos a suar, e bem.

É que reparem, Guy Blanken é oriundo de Haia, um dos pontos nevrálgicos da música de dança holandesa, uma cidade que o próprio intitula de “Soulful City”, e desde os 14 anos que vive na cena clubbing, imbuído do espírito festivo típico dos holandeses. Além disso, já os seus pais eram fãs de house music (o que não vale ter pais fixes…), portanto qualquer teste de ADN que lhe façam vai de certeza encontrar elevado teor de groove. Do que gosta então Makam? House, pois claro. Matéria na qual, produzindo ou tocando, se revela com espontaneidade e instinto, uma máquina imparável de fazer dançar. Atente-se nos resultados fulminantes obtidos com faixas de house classicista e irresistivelmente rolante lançadas principalmente na Sushitech ou na hoje inescapável Dekmantel, como “Aimé” ou “What Ya Doin”, ou ainda a mais dub-techno “Girls Night”, lançada via Ostgut Ton depois de mixada por Ryan Elliott na sua compilação “Panorama Bar 06”. Registe-se, com todo o significado que isso tem, o facto de ter atingido o posto de residente no já saudoso e para sempre mítico club Trouw em Amesterdão. E imagine-se por fim o efeito do destilar deste refinado lote de experiência e aprendizagens numa pista cheia de membros inferiores ágeis e mentes despertas.

Amigo de longa data de Casper e Thomas, da Dekmantel, Guy é exemplo do paradigma da forma de estar do colectivo holandês, qualidade, saber, e muita vontade de fazer a festa e viver no momento, e por isso ele aqui está. Fica feito o alerta, Makam tem há anos uma máxima que segue à risca : “no pussy shit”. É para dar tudo.

Voiski

Sendo certo que o techno foi originalmente idealizado pelos seus mentores de Detroit como um statement futurista, mais do que desenhado “apenas” para ser dançado, foi enquanto música de dança que obteve maior expressão, em especial como reflexo de uma certa forma hedonista de estar na vida. Com a música do francês Voiski, aquilo que temos é o que acontece quando o techno soa maior que a própria vida.

É que é quase impossível, ao escutarmos vários dos seus trabalhos, não termos o espírito assaltado pelo pensamento : “isto é absolutamente enorme”. É como estar no cockpit de um avião a jato no momento da descolagem. A tensão que se acumula enquanto rolamos na pista cresce até ao sufoco e repente dá-se o arranque e as forças da gravidade colam-nos ao assento, até que perdemos o pé e irrompemos pelo céu, a cabeça progressivamente mais leve, quanto mais alto chegamos. Até às estrelas. É possível sentir assim o techno e Voiski é a prova. Quer recorrendo a mais experimentalismos, quer optando por abordagens mais loopy, mas sempre luxuriantes, os seus temas vivem desta tensão permanente entre impacto físico disparado atmosfera fora em rajadas palpáveis, e intoxicantes nuvens químicas de estimulantes mentais. L.I.E.S., Delsin e, claro, a Dekmantel, num futuro bem próximo, têm estado entre as rampas de lançamento destes autênticos projécteis dançantes, sem esquecer o projecto Vrilski com VRIL, que já garantiram a Voiski um brilho inconfundível no actual firmamento techno.

É já mais ou menos consensual em França, que Voiski está, talvez a par só de Zadig e Antigone, no top dos melhores live-acts/DJs da nova vaga do techno francês, que muitos já equivalem em relevância ao esquadrão berlinense. Os nossos amigos da Dekmantel ajudam-nos a tirar teimas, mas antes de deslizarmos com ele pela pista de Santa Apolónia fora, fica o conselho: apertem bem os cintos de segurança.

Textos: Nuno Mendonça

\\ english version //

Makam

For starters, as a statement of intent from Makam, here´s some of the things the dutchman dislikes: music that is not real, music that isn´t pure, artists who don´t put their soul into what they do, and dancefloors with people who don´t dance. Straight away, it´s very clear that you should come hear him with a willingness to sweat.

You see, Guy Blanken comes from The Hague, one of the nevralgic centers of dutch dance music, a city that he himself calls “Soulful City”, and since he was 14 years old, he´s been living in it´s club scene, imbued of the typical dutch party spirit. Besides, even his parents were house music fans (how cool to have parents like that...), so any DNA test he takes is sure to reveal a high dosage of groove. But what does Makam like, then? House, of course. A style through which he reveals himself to be an unstoppable dance-provoking machine, be it producing it or playing it. Behold the striking results he obtains with classicist and irresistibly rolling tunes, released mainly on Sushitech and tonight´s inescapable Dekmantel, like “Aimé” or “What Ya Doin”, or the dub-techno leaning “Girls Night”, released on Ostgut Ton after being mixed by Ryan Elliott in his “Panorama Bar 06” comp. Remember, with all the significance it carries, the fact that he reached the status of resident at the much-missed and perennially mythical Trouw club in Amsterdam. And imagine, at last, the effect of the distilling of this refined set of experiences and learnings onto a dancefloor filled with loose lower limbs and awakened minds.

A long time friend of Dekmantel´s Casper and Thomas, Guy brings the paradigm of the dutch collective raison d´etre, quality, knowledge, and a desire to bring the party and live in it´s moment, and so, here he is. Heads up, though. Makam has for years had a sort of motto which he follows to the end: “no pussy shit”. So bring your A-game.

Voiski

Although techno was originally idealized by it´s Detroit mentors as a futurist statement, and not “just” as dance music, it has obtained it´s biggest expression, as dance music, and particularly as a reflection of a certain hedonistic way of life. With frenchman Voiski´s music, what you get is what happens when techno sounds larger than life itself.

It´s almost impossible, listening to some of his work, to not have this thought assault your spirit: “This is absolutely huge”. It´s like being on the cockpit of a jet-plane about to take off. The tension you feel as you roll down the track grows to suffocation, and suddenly, the blast comes and the forces of gravity glue you to your seat, until you lose your ground and shoot off into the sky, your head progressively lighter, the higher you reach. Reach for the stars. It´s possible to feel techno like that, and Voiski is the proof. Whether resorting to more experimental tendencies, or opting for a more loopy, but equally as lush, approach, his tracks feed off this permanent tension between physical impact that shoots you off through the atmosphere, and the intoxication brought by chemical clouds full of mental stimulants. L.I.E.S., Delsin and, of course, Dekmantel, in a very near future, are amongst those serving as launch ramps for these veritable dancing projectiles, not forgetting the Vrilski project, with VRIL, which have guaranteed Voiski has attained an unmistakable glow in the techno firmament.

In France, it´s more or less consensual that Voiski is, maybe just equalled by Zadig and Antigone, at the very top of the best live-acts/DJs in the new french techno wave, which to many is already on a par with the Berlin squadron. Our friends at Dekmantel will help us clear that up, but before rolling down the floor at Santa Apolónia, here´s some advice for you: fasten those seat-belts tight.

Words: Nuno Mendonça