NOITE TOKEN com SIGHA e Ø [PHASE]

Ø [Phase] e Sigha vêm ao Lux defender o título da Token Records, como uma das mais interessantes labels de techno da actualidade.

SIGHA
 
Esclareça-se já : escreve-se Sigha, mas diz-se “sai-há”. Trata-se de um nome impossível de ignorar na cena techno nos últimos anos, mas parece que alguma confusão reside ainda neste detalhe. Nas suas primeiras intervenções musicais, semelhantes interrogações foram colocadas sobre onde encaixar o trabalho de Sigha. Quis-se associar o seu som ao dubstep (também muito por os seus primeiros trabalhos virem ao mundo pela Hotflush de Scuba, então mergulhada no género), mas a mistura de tons elegantes e ásperos sobre uma estrutura rítmica esqueletal já indiciavam outras inclinações.
 
Na verdade, James Shaw é acima de tudo um adepto da auteridade sonora e do poder da repetição. Daí fazer todo o sentido que rapidamente tenha assumido que o techno era o seu veículo predilecto de expressão. E se a austeridade e aspereza advêm de uma indisfarçavel obsessão com os Joy Division (atente-se nos títulos das suas faixas e na estética das capas de muitos dos seus discos), a elegância e eterealidade do seu techno denotam muitas horas a ouvir as guitarras planantes dos My Bloody Valentine. Mas a guitarra, de que era um muito razoável praticante, foi sendo trocada pelo culminar da repetição : o loop.  O seu estudo deste fundamento circular do techno tem sido metódico e cada vez mais aperfeiçoado, com lançamentos também na Blueprint de James Ruskin, na sua label Our Circula Sound, na Avian do seu melhor amigo Shifted (com quem tem o duo A Model Authority), e agora na Token, de quem é o mais recente recruta.
 
Os mais conhecedores do seu trabalho de certeza que não se admiraram com a união Token/Sigha. As ideias de um e outro já eram um encaixe perfeito mesmo antes de acontecer. E a presença de Sigha no Lux era uma inevitabilidade e é um apelo à catarse e purificação pelo poder do loop, até às primeiras luzes da manhã.
 
Ø [Phase]
 
Se Sigha é o mais recente artista no catálogo da belga Token, Ø [Phase] é um dos seus pioneiros, a par com Inigo Kennedy. Aliás, a label foi de certa forma fundada para que o seu cérebro, Kr!z, um viciado no techno da escola britânica, pudesse ter mais discos de ambos. E Ø [Phase] correspondeu a essa fé com uma lealdade a toda a prova: com excepção das suas remixes, todos os seus originais, desde 2007, viram a luz pela Token.
 
E definir a Token sem definir Ø [Phase] é impossível. O trabalho de Ashley Burchett é o som Token na sua máxima expressão: techno brutalmente funcional mas com óbvias intenções de mexer com a vertente neurológica de quem dança, reducionista sem ser simplista, polido e detalhado, mas não usa de truques fáceis para obter os seus efeitos, antes parece uma carga de cavalaria ligeira a levar à frente o que estiver na pista. Burchett pode só ter ganho visibilidade recentemente, mas estes factores denotam que tem muitos anos da coisa. Trabalhou para a Sony Music e é engenheiro de masterização, o que explica a perícia com que faz entrar um hat que eleva uma faixa acima das nossas cabeças ou com classe torna uma linha de baixo mais elástica. Ele sabe como mexer com o som e mexer connosco.
 
O novíssimo álbum “Alone In Time?” é o pico da sua carreira até agora, na forma como demonstra tudo o que referimos acima. E no entanto não se limita a ser uma série de DJ tools, trazendo influências dub e electro à mistura, numa prova de versatilidade que impressiona. E o ponto de interrogação não deve ser por acaso. Mais do que à frente no tempo, Ø [Phase] é único no seu tempo. E o tempo de Ø [Phase] é agora e é sempre.

Textos: Nuno Mendonça 

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SIGHA
 
Let´s clear this up right away: it´s written Sigha but said “sai-há”. It´s a name which is impossible to ignore in the techno scene of the past few years, but some confusion seems to remain about this matter. At the time of his initial music interventions, the same confusion existed as to where his work should be fitted. An association with dubstep was attempted (mainly because his first releases were on Scuba´s Hotfllush, at the time steeped in that style), but his mixture of elegant and harsher tones over skeletal rhythmic structures denoted other inclinations.
 
Actually, James Shaw is chiefly an adept of musical austerity and the power of repetition. Hence it made total sense that he quickly adopted techno as his preferred vehicle for expression. And if the austerity and grit come from an undisguised obsession with Joy Division (take a look at some track titles and the aesthetic of some record covers), the elegant and ethereal qualities of his music show that he spent many hours floating on My Bloody Valentine´s guitars. But the guitar, of which he was an very adequate player, gave way to the exponent of repetition: the loop. His study of this circular fundamental of techno has been methodical and increasingly streamlined, with releases also on James Ruskin´s Blueprint, on his own Our Circula Sound, on his best friend Shifted´s Avian (with whom he also has the A Model Authority project) and now on Token, of which he´s the most recent recruit.
 
Those who know his work well were surely not surprised by the Token/Sigha alliance. One and the other´s ideas were always a perfect fit even before it happened. And Sigha´s visit to Lux was just as inevitable and is a call to catharsis and purification through the power of the loop, until the early morning lights.
 
Ø [Phase]
 
If Sigha is the most recent name in Belgium´s Token´s roster, Ø [Phase] is one of the labels pioneers, along with Inigo Kennedy. In fact, the label was sort of put together so that the brain behind it, Kr!z, an addict to the british school of techno, could have more music from both. And Ø [Phase] has repayed that faith with an unwavering loyalty: aside from his remix work, all of his originals since 2007 have seen the light of day on Token.
 
And to define Token without defining Ø [Phase] is nearly impossible. Ashely Burchett´s work is the exponent of the Token sound. Techno of brutal functionality but clearly intent on challenging the neurological side of the dancer, reduced without being simplistic, polished and detailed, but not resorting to easy tricks to achieve impact, instead feeling more like a light cavalry charge taking on everything in it´s path.  Burchett may only have gained visibility recently, but these factors show that he has a lot of years in the craft. He´s worked for Sony Music and is a mastering engineer, and that explains the dexterity with which he can use a hi-hat to lift a track above our heads or the class with which he makes a bassline feel more elastic. He knows how to make sound mess with us.
 
The brand new “Alone In Time?” LP is his career peak so far, in the way in which it displays the above qualities. But it´s not content in being a series of DJ tools, blending in electro and dub influences, in an impressive show of versatility and range. And that question mark is probably not there by accident. More than ahead of his time, Ø [Phase] is unique in it´s time. And his time is always and forever.

Words: Nuno Mendonça