23:45 até às 06:00
SONIC FRESH 2015

SONIC FRESH 2015

A anual SONIC FRESH está de regresso para fechar mais um verão.
Este é o cartaz da edição de 2015:

Cassegrain | live
Rrose | live
Kobosil
XNX


XNX
 
Ao contrário do que sucede por exemplo, numa arte como o Cinema, quase sempre consumido num espaço próprio, a forma como consumimos Música está intimamente ligada ao seu contexto. Um mesmo tema pode adquirir significados diversos, se escutado enquanto se olhamos a rua em um dia de chuva, ou ouvida ao volante de um automóvel numa estrada deserta, ao pôr do Sol.
 
Apesar de, enquanto Expander, o contexto da sua música e actividade sempre ter sido primordialmente a pista de dança, desde cedo na sua carreira que Ilídio Chaves explorou esta dualidade bem para lá dos confins da pista. Contribuindo desde 2002, com peças musicais para instalações, projectos vídeo e espectáculos de dança contemporânea, desenvolveu um corpo de trabalho que finalmente reuniu em 2013 no projecto  “Soundtrack From A Life Unexpected”, com o qual inaugurou o Soniclab, um selo paralelo à sua Soniculture e que se apresenta como incubador de experimentação e inovação nas sonoridades electrónicas e artes visuais. O tão vital contexto para a música era dado ao fazer-se acompanhar o CD com diverso material audio/visual que nos permitia construir a narrativa associada ao material sónico. Esta noção de música enquanto parte de um todo conceptual, aplicou-se em 2014 a novo projecto, desta vez “Music For Spas”. Revelando um sentido de humor e toque de ironia que nem sempre associamos a quem produz techno, Ilídio pretendeu que a música quase literalmente tivesse cheiro, com o CD a ser acompanhado de... uma barra de sabão perfumada de lavanda, manufacturada especialmente para este efeito.

Cada apresentação de XNX é, no entanto, a concretização de uma nova ideia. A música é essencialmente ambiental e experimental, mas sempre atmosférica e cinemática, onde se sente a influência que nomes como Coil ou o cineasta/músico John Carpenter tiveram no background de Ilídio. Mas ela muda como mudam a narrativa e a envolvência, o tal contexto, e é legítimo por isso esperar da sua presença neste Sonic Fresh, uma experiência multi-sensorial única concebida propositadamente para esta noite.
 
CASSEGRAIN

Um pouco de ciência, antes de mais : Cassegrain é o nome de um tipo de configuração de reflectores de luz no interior de um telescópio. De forma simplista, é uma espécie de jogo de espelhos. O nome, ainda para mais aplicado a uma dupla de produtores de techno, faz-nos de imediato pensar que estamos perante mais um expoente da obsessão que o techno tem com o Espaço Sideral, mas o foco das lentes do grego Alex Tsiridis e do turco Huseyin Evirgen, está apontado a temáticas mais terrestres e o som que produzem leva-nos mais a paisagens desérticas e inóspitas do que ao vácuo inter-planetário.
 
Tsiridis e Evirgen conheceram-se enquanto alunos da classe de 2008 da Red Bull Music Academy em Barcelona e imediatemente se aperceberam das suas diversas afinidades musicais, encetando o projecto Cassegrain, inicialmente colaborando à distância antes de se juntarem em Berlim. O reconhecimento surgiu inicialmente graças a algumas edições na germânica Prologue, o que levou a que ficassem associados à nascente cena de techno hipnótico com epicentro em Itália, ou não fosse a Prologue a casa mãe de nomes como Donato Dozzy ou Dino Sabatini. É inegável que a sua música tem muito de cerebral, e se centra em produções geralmente longas e ricas em textura e detalhe, além do interesse em temáticas místicas ou mitológicas, como outros nomes da editora, mas em especial com o álbum de 2014, “Centres Of Distraction”, percebeu-se os Cassegrain estão mais interessados em testar até que extremos de aspereza e acutilância podem levar essa matriz e com isso testar os próprios limites do que resulta em pista. A bem sucedida colaboração encetada com Tin Man vincou ainda mais o desejo da dupla de não se deixar cristalizar num tipo de som só, casando a sua visão dura e arriscada do techno mental com o acid techno em estado puro, e encontrado entre os seus maiores fãs, o nova-iorquino Function.
 
Cassegrain apresentam-se finalmente entre nós, em formato live, num momento fulcral da sua progressão artística, em que se afirmam crescentemente como uma entidade com personalidade cada vez mais definida e um imaginário sonoro muito próprio. O Sonic Fresh o Lux propõe-vos que os acompanhemos numa viagem aos limites do sonho e do pesadelo.

RROSE
 
É quase impossível falar da música de Rrose sem primeiro lidar com o “elefante na sala” : antes de qualquer nota soar, a primeira coisa a levantar questões em Rrose é a sua presença física. E de certa forma, ainda bem. O que Rrose pretende conseguir com a sua arte passa muito por questionar dogmas e preconceitos, e dar origem a mais perguntas. Perguntas que, em alguns casos, colocaremos a nós mesmos. Questões sobre a excessiva masculinidade da cena techno, sobre as nossas atitudes numa pista de dança, sobre a forma como assimilamos a música. Afinal, algo similar ao que a personagem que a inspirou, Rrose Sélavy, alter-ego de Marcel Duchamp, fez com a cena cultural de Nova Iorque no século passado.
 
Tudo isto não quer dizer que estejamos só perante um conceito extremamente elaborado que depois é expresso em música banal ou corriqueira. Longe disso. O mundo sonoro de Rrose é ainda menos convencional que a sua presença. Surgindo inicialmente por entre algumas das últimas releases da “defunta” Sandwell District, a música de Rrose floresceu na Eaux, sua própria editora, pegando nas bases do minimalismo com inclinações psicadélicas dessas primeiras aparições e tornando-se cada vez mais alucinado, surreal e exploratória. Quase tão surpreendente como a música em si, é a reacção do público à mesma. Não seria de esperar que techno que soa tão lisérgico e psicótico, como uma bad trip à espera de acontecer, conseguisse levar pistas inteiras a acessos de euforia (ou histeria?) colectiva, mas é o que acontece quando soam faixas como Waterfall (ainda na Sandwell), Cavity ou Wedge Of Chastity. Mas tal só dá razão à apetência de Rrose por nos fazer duvidar das  nossas noções de tempo, espaço e do que é aceitável no techno.
 
Numa noite com uma forte componente de desafio à “normalidade” de uma noite de techno, o live de Rrose será talvez o teste mais extremo. Trata-se do acesso em primeira mão a uma estranha dimensão paralela sem tempo nem lugar e onde a nossa própria identidade, se ainda dela nos lembrarmos, deixa de ter qualquer relevância. Sim Rrose, c´est la vie, mas é esta vida real ou só uma fantasia?

KOBOSIL

Marcel Dettmann, Berghain, Ostgut Ton, Hardwax, tudo nomes que qualquer fã de techno actual sabe melhor do que o A-B-C.  Tudo nomes que evocam de imediato um som e uma imagem muito clara que se tornaram quase um standard. É quase inescapável, Seria por isso de esperar que um artista de 20 e poucos anos, ainda novo na cena techno, ao conseguir estabelecer associações com todos estes nomes, se alinhasse confortavelmente com a estética habitual e a explorasse ao máximo, para fácil proveito. Mas no caso de Kobosil, estaríamos absolutamente errados.

Se calhar foi precisamente essa vontade de desafiar as expectativas quanto ao techno made in Berlim que atraiu todos estes nomes ao jovem Kobosil. Eles viram nele algo de diferente. Personalidade, ideias, maturidade e talento muito para lá do comum na sua idade. Primeiro numa remistura para Barker & Baumecker na Ostgut Ton, depois com um EP de estreia “a solo” na Marcel Dettmann Records, Kobosil estabeleceu rapidamente uma assinatura sonora distinta, com tonalidades industriais ameaçadoras, ritmos pneumáticos e um universo sónico mecanizado, como se fossem transmissões oriundas de um futuro onde as máquinas já nos derrotaram. Nos lançamentos de iniciativa própria na sua RK essas características são ainda mais notórias, sendo cada disco polvilhado de faixas experimentais sem grandes preocupações dançantes.

Esta atitude irreverente e irrequieta molda a sua abordagem aos pratos quando actua como DJ. Kobosil não está interessado em linearidade ou hipnotismo mas sim em manipular a atmosfera e disposição de uma sala antravés da surpresa, choque e contraste, sendo capaz de misturar irrepreensivelmente faixas rave com temas escuros e labirínticos, pelo prazer de provocar emoções inesperadas no público. Este é Kobosil e manobras de diversão são o seu forte.  
 
Nuno Mendonça
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